O relatório da Polícia Técnico-Científica revelou que o Porsche dirigido pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho atingiu uma velocidade de 156 km/h pouco antes de colidir na traseira do Sandero conduzido pelo motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, na Avenida Salim Farah Maluf, em 31 de março, no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. O limite de velocidade estabelecido para a via é de 50 km/h. As informações são do portal g1.
Ornaldo morreu como resultado do acidente. Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo do condutor do veículo e que estava no banco do passageiro, sofreu ferimentos graves, mas já recebeu alta médica. A colisão entre o Porsche e o Sandero foi capturada por câmeras de vigilância. A velocidade do veículo de luxo foi determinada pelos especialistas por meio da análise dessas gravações.
Além do relatório de velocidade, o Instituto de Criminalística (IC) e o Instituto Médico Legal (IML) estão preparando outros laudos a serem entregues à Polícia Civil, encarregada de investigar as causas e possíveis responsabilidades do acidente. Entre esses documentos está o uso de scanner 3D, no qual os peritos utilizarão drones para capturar imagens aéreas do local da colisão e produzir um vídeo detalhado reconstituindo os eventos da colisão.
O Ministério Público (MP) de São Paulo solicitou esse relatório à Justiça e está acompanhando de perto as investigações. A perícia do Instituto de Criminalística planeja realizar o escaneamento do local do acidente a partir das 10h da próxima quinta-feira (25).
Conforme relatos de testemunhas à Polícia Civil, o condutor do Porsche estava em alta velocidade e aparentemente sob influência de álcool. O empresário nega o consumo de bebidas alcoólicas, porém admite que estava "ligeiramente acima do limite" de velocidade da via, embora "não muito".
Delegado afastado
Na última quinta-feira (18), o delegado Nelson Alves foi afastado do inquérito que apurava as circunstâncias e possíveis responsabilidades pelo acidente envolvendo o Porsche. Ele foi transferido do 30º Distrito Policial (DP), localizado no Tatuapé, para o 81º DP, em Belém.
A alteração ocorre após críticas tanto internas quanto externas à condução do delegado no inquérito. Além disso, a mudança foi impulsionada pela pressão do 30º DP, que solicitou à Polícia Militar (PM) as imagens das câmeras corporais utilizadas pelos policiais militares que responderam à ocorrência.
Na sexta-feira (19), o delegado confirmou sua saída do caso e do 30º DP do Tatuapé. No entanto, afirmou não estar ciente dos motivos que levaram à sua remoção.
O inquérito do caso do Porsche ainda está em andamento. Milton Burguese, anteriormente lotado no 81° Distrito Policial, assume agora a liderança da investigação. Além disso, ele também será responsável por presidir outros inquéritos relacionados ao combate ao crime organizado.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) negou o afastamento de Nelson do caso. Em comunicado oficial, a pasta esclareceu que houve uma "mudança administrativa", na qual o delegado Milton foi designado para o 30° DP devido à sua expertise em investigações relacionadas a crimes financeiros e lavagem de dinheiro.
"A unidade vem desenvolvendo investigações complexas contra membros de uma facção criminosa que atua em várias regiões do Estado, motivo pelo qual se faz necessária a experiência do delegado citado. A investigação sobre a morte do motorista de aplicativo foi conduzida pelo delegado Nelson Alves e está em fase final para ser relatado à Justiça", diz o comunicado da SSP.
Câmeras corporais
As gravações das câmeras corporais dos policiais militares são importantes para auxiliar os investigadores na elucidação de algumas questões. Uma delas é determinar se foi de fato a PM que permitiu que Fernando deixasse o local do acidente sem submeter-se ao teste do bafômetro. Além disso, as filmagens podem esclarecer se o empresário exibia sinais de embriaguez, conforme relatado por algumas testemunhas.
A defesa dos investigados alegou no processo judicial que informações sigilosas do inquérito foram vazadas para a imprensa, apesar do caso estar sob segredo de Justiça. Segundo fontes da reportagem, Nelson foi interpelado por seus superiores a respeito dessas alegações, mas negou veementemente ter divulgado qualquer conteúdo do inquérito.
O delegado havia requisitado à Polícia Militar as imagens das câmeras corporais utilizadas pelos agentes durante o atendimento e socorro às vítimas do acidente. Este pedido foi reforçado na Justiça no início de abril pelo delegado Marcos Casseb, responsável pelo 30° DP.
A Polícia Militar ainda não forneceu as gravações das câmeras corporais dos policiais militares que responderam à ocorrência. Segundo fontes da reportagem do g1, a solicitação dessas imagens na Justiça teria gerado desconforto na Polícia Militar.
A Corregedoria da PM investiga se os policiais falharam ao não realizarem o teste do bafômetro em Fernando e permitirem que o condutor do Porsche deixasse o local do acidente.
Indiciamento
Fernando compareceu ao 30º DP mais de 38 horas após o acidente. Ele foi formalmente acusado pela Polícia Civil por homicídio com dolo eventual (por assumir o risco de matar Ornaldo), lesão corporal (por ferir Marcus) e por deixar a cena do acidente (para evitar o teste do bafômetro).
Embora a Justiça tenha rejeitado dois pedidos da Polícia Civil para a prisão de Fernando, ela ordenou que ele pagasse uma fiança de R$ 500 mil. Isso visa garantir pagamentos futuros de indenizações à família de Ornaldo e a Marcus. Além disso, sua carteira de motorista foi suspensa e ele foi obrigado a entregar o passaporte na Polícia Federal (PF).
A defesa de Fernando argumenta que o acidente foi uma "fatalidade". Questionada sobre os depoimentos de Marcus e de sua namorada, a advogada Carine Acardo Garcia respondeu que "parece que a informação é de que eles ingeriram uma bebida alcoólica muitas horas antes do acidente".