Na noite de domingo (7), uma motorista de aplicativo transitava pela zona sul de Porto Alegre com dois passageiros, quando um deles sacou uma arma e anunciou um assalto. Enquanto era ameaçada, a vítima lembrava de outro caso, ocorrido dois dias antes. Daniela Barbosa da Conceição, 49 anos, também condutora de app, morreu após ser baleada no bairro Aberta dos Morros, na sexta-feira (5). A suspeita é de que ela tenha sido alvejada durante um roubo. A Polícia Civil investiga se há algum vínculo entre os dois crimes.
No caso de domingo, segundo a vítima, o assalto foi anunciado durante a corrida, no bairro Ipanema, quando os criminosos ordenaram que a motorista mudasse o trajeto. A mulher relatou aos policiais militares que um dos assaltantes se comportou de forma violenta e chegou a lhe ameaçar, dizendo que iria matá-la. Isso teria feito a vítima lembrar do caso da colega que havia sido baleada dois dias antes, supostamente também num assalto.
Após anunciarem o roubo, os ladrões ordenaram que a vítima desembarcasse. A Brigada Militar (BM) foi acionada e passou a fazer buscas aos assaltantes.
— Estávamos saturando a área, em virtude dos últimos casos, e havia uma viatura bem próxima dali. Os policiais localizaram os dois desembarcando do veículo roubado e houve confronto. O policial precisou reagir e atingiu um deles — explica o comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) da Capital, tenente-coronel Márcio Luiz da Costa Limeira.
Um dos suspeitos — ainda não identificado — morreu após ser baleado por um disparo. O outro — um adolescente de 16 anos — foi apreendido no local. Foi encontrado com o homem morto uma pistola calibre 45 milímetros e munição, além de aparelhos celulares.
— Esse que morreu era quem estava com a pistola e era bastante violento — afirma o comandante do 1º BPM.
Semelhanças
Nos dois casos, chamou atenção dos policiais que a forma de agir dos criminosos foi semelhante. As vítimas foram atraídas por meio de um chamado para uma corrida e, já durante o percurso, o assalto foi anunciado. As duas foram obrigadas a mudar de trajeto. A polícia apura se existe vínculo entre os dois casos, em razão da forma de agir e da proximidade. Uma das suspeitas é de que os envolvidos pudessem integrar o mesmo grupo criminoso.
No caso da sexta-feira, que resultou na morte de Daniela, a corrida teria se iniciado no bairro Restinga, no Extremo-Sul. A vítima foi abandonada, já baleada no tórax, na Avenida Juca Batista, no bairro Aberta dos Morros. A polícia ainda não sabe se houve alguma reação por parte da motorista e o que motivou os criminosos a atirarem contra ela. Daniela foi deixada na rua, nas proximidades de uma parada de ônibus, perto de um condomínio residencial, e ainda teria corrido alguns metros antes de cair na calçada.
Os bandidos fugiram levando o veículo, um Argo vermelho, e o celular da motorista de aplicativo. A vítima chegou a ser socorrida e encaminhada para atendimento médico no Hospital Restinga e Extremo-Sul, mas não resistiu aos ferimentos. Daniela morreu por volta das 23h30min, cerca de uma hora depois do crime.
O veículo da vítima foi localizado minutos após o roubo, abandonado numa rua, no bairro Restinga. O automóvel passou por levantamento do Instituto-Geral de Perícias (IGP) nesta segunda-feira (8), em busca de vestígios que possam auxiliar a investigação a identificar os autores do crime.
A polícia está em busca de imagens de câmeras de segurança, que auxiliem a entender como se deu a dinâmica do crime. Segundo a Polícia Civil, nenhuma hipótese é descartada, mas existem indicativos de que a mulher foi vítima de latrocínio, ou seja, morreu após ser alvejada durante um assalto.
Sindicato
O Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul se manifestou no último sábado sobre o caso. Na nota, o Simtrapli-RS presta solidariedade aos familiares, amigos e colegas de Daniela, e cobra medidas de segurança para a categoria. Confira a nota do sindicato:
“O Simtrapli-RS vem por meio desta nota prestar solidariedade a família, amigos e colegas de mais uma trabalhadora vítima da falta de segurança pública no município de POA. Daniela Barbosa da Conceição, 49 anos, nossa colega de profissão foi morta quando estava trabalhando.
O Simtrapli-RS está em luto pela perda de mais uma colega e na luta por mais segurança para todos, cobrando das autoridades. Até quando vamos trabalhar com medo? Até quando os(as) trabalhadores (as) vão sair para trabalhar sem saber se vão chegar em casa no final da jornada? Triste essa realidade. Nossos sentimentos a todos (as)”.
GZH buscou contato com familiares de Daniela, que informaram que preferem não se manifestar neste momento sobre a perda.