Cinco policiais militares da Brigada Militar de Santa Maria, na Região Central, foram afastados do policiamento e estão atuando em atividades internas. Um deles é investigado em inquérito policial militar (IPM) por suspeita de agredir um homem, enquanto os outros quatro teriam visto a ação, mas não interviram. A Polícia Civil também apura o caso.
O caso veio à tona após imagens de câmeras de videomonitoramento de um estabelecimento comercial passarem a circular pelas redes sociais. Nos vídeos, um policial militar de folga aparece agredindo a vítima, de 47 anos, no meio da Rua Manoel Mallmann Filho, no bairro Juscelino Kubitschek, na noite de 23 de janeiro.
Pelas imagens percebe-se que uma viatura da Brigada Militar passa pelo local enquanto as agressões acontecem. Ainda conforme mostra o vídeo, a vítima é colocada dentro da caminhonete do PM. Nesse momento, a viatura passa novamente pelo local e pára ao lado do carro do policial. Por cerca de 50 segundos há uma conversa entre eles, até que os dois veículos deixam o local.
Procurada por GZH, a vítima, que trabalha com coleta de materiais recicláveis e prefere não ser identificada, afirma que foi levada até uma reciclagem pelo policial. No local, ainda conforme relato, o PM perguntou aos proprietários se foi aquela pessoa quem vendeu um saco de buchas de plástico, o que eles confirmaram. O policial dizia ser dono do material. O homem agredido afirma que achou o saco de buchas na rua, e não furtou.
Depois disso, o homem relata ter sido largado próximo a uma creche, no mesmo bairro. A vítima registrou ocorrência e diz que levou dois pontos no rosto e três na cabeça em razão das agressões e que não está podendo trabalhar.
Conforme o comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva Central, coronel Cleberson Bastianello, assim que as imagens chegaram ao conhecimento da Brigada Militar o IPM foi aberto. Embora nos vídeos não seja possível visualizar o prefixo da viatura, ela foi identificada pelo cruzamento de dados a partir da localização do GPS do veículo e as informações de horário e local onde o fato ocorreu.
Os quatro policiais que estavam na viatura e o PM que estava de folga foram afastados do policiamento e estão atuando em atividades internas.
— No momento em que nós tivemos conhecimento das imagens, fomos atrás para tentar identificar os envolvidos. Imediatamente após a identificação dos policiais, foi determinado pelo CRPO a instauração do IPM para apurar o que ocorreu e a conduta dos militares e o afastamento desses militares das atividades de policiamento — afirma o coronel.
O IPM tem prazo de 40 dias, prorrogáveis por mais 20 dias. No entanto, o coronel Bastianello diz que a expectativa é que o procedimento seja concluído nesta semana.
Na Polícia Civil, o homem que aparece agredindo a vítima está sendo investigado por sequestro e tortura. Os policiais que estavam em serviço e nada fizeram ao presenciar as agressões podem ser responsabilizados por prevaricação na instância militar.
— Parece haver sequestro e tortura, por isso abrimos o inquérito. A investigação está em estágio bem avançada, com todos as diligências sendo feitas. A Brigada Militar também foi imediatamente comunicada. O foco da nossa investigação é da pessoa que não estava de farda, que estava, naquele momento, na condição de civil. É óbvio que alguns outros fatos circunstanciais podem vir e ao final faremos a avaliação jurídica quanto a eventuais indiciamentos — explica o delegado Marcelo Arigony.
O coronel Bastianello diz lamentar o fato, mas ressalta que ainda é preciso apurar toda a ação.
— Tratamos tudo dentro da total legalidade e com a maior transparência. A comunidade pode ter certeza que se confirmando essa situação, isso não reflete as atitudes da Brigada Militar. A comunidade pode continuar confiando na Brigada Militar. Se houver algum desvio de conduta de qualquer policial militar, tudo será apurado e eles serão responsabilizados — reforça.
Os nomes dos policiais militares investigados não foram revelados.