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Na tentativa de rever os filhos que não encontra há anos, um casal de haitianos morador de Estrela, no Vale do Taquari, acabou vítima de golpe. A família buscou a polícia no fim de julho relatando ter pago R$ 30 mil a um homem que se apresentava como representante de uma agência de viagens. O valor deveria ter custeado trâmites e passagens para que cinco familiares que ainda vivem no Haiti chegassem ao Brasil. No entanto, isso nunca aconteceu.
O primeiro contato se deu por meio do Facebook, quando um primo do casal recebeu mensagem de um perfil da suposta agência de viagens. A página, idêntica a outra que já existia, teria sido forjada para enganar as vítimas. Por ali, passaram a conversar sobre o que seria necessário para que os parentes fizessem a viagem. Depois, a negociação seguiu por meio do WhatsApp.
A mãe, Wikline Joseph, 40 anos, que trabalha em uma indústria de Lajeado, conta que a família juntou dinheiro ao longo dos últimos anos, com sacrifício. Parte do orçamento do casal é enviado todos os meses para o Haiti, para custear escola e alimentação dos filhos. Foi ela quem conversou a maior parte do tempo com o homem que dizia ser representante da agência de viagens de Curitiba, no Paraná. Para isso, exigiu o pagamento de R$ 6 mil por pessoa — além dos quatro filhos do casal, de 17, 15, 13 e 10 anos, o cunhado dela também faria a viagem.
— Se você não pagar tudo, filho fica lá no Haiti —recorda Wikline sobre o que o golpista teria lhe dito sempre que pedia novos valores.
A família relata que realizou série de remessas de valores para uma conta bancária na República Dominicana. Chegaram a ser marcadas duas datas para a viagem, no mês de julho. Os filhos do casal aguardaram com as malas prontas para o embarque. No Brasil, os pais se preparavam para receber os filhos em um apartamento maior que foi alugado. Também compraram cama nova e televisão. Quando ninguém apareceu para buscar os filhos, perceberam que tinham caído num golpe. Depois disso, não conseguiram mais contato com o suposto agente.
— Tem seis anos que não vejo meus filhos. Meu marido, faz nove anos que não vê. Só fala por telefone. Meu filho fala: “Mãe, você me abandonou”. Não abandonei. Mas agora não sei como vou conseguir juntar tudo de novo. É muito difícil — lamenta a mãe.
A família chegou a fazer contato com a agência de viagens de Curitiba, que relatou que se tratava de um perfil falso que tinha sido criado com o mesmo nome da verdadeira. A empresa, que pertence a uma haitiana, fez anúncio em suas redes sociais, onde alerta para o golpe. Nos comentários, há outros relatos de haitianos que também dizem terem sido procurados pelo mesmo homem oferecendo o serviço.
Investigação
Segundo o delegado Humberto Messa, da Delegacia de Polícia de Estrela, o caso é investigado como suspeita de estelionato. A família vítima foi ouvida e entregou os documentos que reuniu sobre o caso. Como o valor foi enviado por meio de agência que encaminha o dinheiro para o Exterior, a polícia busca identificar qual conta está vinculada ao depósito.
— Esse casal queria trazer os familiares que estavam no Haiti, mas esse anúncio que encontraram no Facebook era falso. Essa empresa prometia que traria os familiares, sem burocracia. O casal economizou esse valor com muito esforço. São pessoas com poucos recursos, que trabalham na indústria. Nossa dificuldade é que eles fizeram o envio do dinheiro para a República Dominicana. Temos que contar com a colaboração de outro país — explica.
Sobre o risco de golpes virtuais, o delegado alerta para a necessidade de as pessoas ficarem atentas antes de concluírem alguma aquisição ou fazerem pagamentos. Em geral, golpistas costumam exigir vantagens, como valores mais baixos ou facilidades.
— Houve aumento expressivo nos estelionatos, principalmente na pandemia. É muito importante que a pessoa procure se informar antes. No caso deles, esse serviço que estavam contratando não seria nem legalizado. O estrangeiro para vir pra cá necessita passar por processo de imigração. Eles prometeram algo simplificado à família. É preciso estar alerta e desconfiar — diz Messa.
Vaquinha online
Uma vaquinha online foi criada para tentar ajudar o casal a reunir novamente o valor perdido. Quem quiser contribuir pode acessar este link. Até esta sexta-feira (5), tinham sido reunidos cerca de R$ 5,5 mil.
Busque ajuda
Caso tenha sido vítima de algum tipo de golpe, procure a polícia e registre o fato. É possível ir a uma delegacia mais próxima ou comunicar o caso pela Delegacia Online de Polícia Civil.