Até a tarde desta segunda-feira (18), pelo menos 126 ocorrências tinham sido registradas na Polícia Civil do Rio Grande do Sul por suspeita de estelionato por parte da loja Ta di Zuera. Um dos investigados no caso é o humorista e ex-BBB Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di. Consumidores alegam que foram enganados e não receberam os produtos adquiridos, que foram anunciados nas redes sociais do influenciador. Os clientes sustentam que ele seria um dos proprietários da loja virtual.
A maior parte das ocorrências se concentra em Canoas, na Região Metropolitana, onde havia pelo menos 35 registros até esta tarde, segundo a Polícia Civil. Lá, um inquérito foi instaurado na 1ª Delegacia de Polícia, onde o humorista deve ser ouvido ainda nesta semana. Os consumidores relataram aos investigadores que adquiriram eletrodomésticos e eletrônicos e que os itens não foram entregues. As compras foram realizadas entre os meses de março e abril, de forma virtual. O pagamento só era aceito por Pix ou boleto.
— Quando o negócio parece muito bom, tem de olhar com bastante cuidado para ele. Pode estar sendo vítima de um golpe. Abre o olho, pesquisa direitinho, tem um pouco de paciência antes de clicar para comprar porque pode ser lesado — alerta o delegado Rafael Pereira, da 1ª DP de Canoas.
Neste caso, na primeira fase da investigação, a polícia está ouvindo as vítimas, arrecadando documentos e formalizando provas. Na sequência, ouvirá Nego Di, que é apontado nas ocorrências. O depoimento dele deve ocorrer ainda nesta semana. Caso ele indique novas pessoas como suspeitas, elas também serão interrogadas.
Nas redes sociais, em suas últimas manifestações o humorista indicou o nome de outra pessoa como sócio da Ta di Zuera, que seria o responsável pela compra e entrega dos produtos. No Instagram, onde fazia os anúncios, Nego Di tem 3,1 milhões de seguidores.
Os vídeos que foram divulgados pelo humorista em suas redes sociais também são analisados pela investigação. As vítimas reuniram esses materiais e entregaram à polícia. Em algumas dessas publicações, Nego Di afirma que é dono da loja e que não se trata de golpe, ainda que os preços praticados estivessem bem abaixo do mercado.
— Ele trouxe publicamente versões conflitantes. Primeiro, disse que entraria com ações contra as vítimas. Algumas vítimas se sentiram um pouco ameaçadas. Depois, garantiu que iria ressarcir os produtos ou garantiria a entrega. Passados alguns dias, veio a público dizer que tinha sido vítima de terceira pessoa e não seria proprietário da empresa. Disse que teria sido usada a imagem dele como marketing por um empresário, talvez com dolo ou má-fé, para aplicar golpe — detalha o delegado.
Segundo o policial, todas as hipóteses são investigadas até o momento, inclusive a de que o humorista possa também ter sido ludibriado. Ao longo da investigação, a polícia concluirá se houve mesmo estelionato e quem são os responsáveis. Na noite da última sexta-feira (15), consumidores realizaram protesto no bairro Sarandi, em frente a um estabelecimento. Depois disso, o número de ocorrências registradas vem aumentando. A polícia acredita que a quantidade de consumidores seja ainda maior.
— Sabemos de vítimas que fizeram ocorrência em outros Estados. O alcance dos anúncios era de nível nacional. Nessas manifestações que a imprensa faz mais vítimas se encorajaram a procurar e registrar as ocorrências. As vítimas podem buscar atendimento em qualquer órgão policial. Mas se quiserem vir direto até a 1ª DP de Canoas, serão atendidas — orienta o delegado.
Também é possível realizar o registro por meio da Delegacia Online da Polícia Civil.
Contraponto
O escritório Fortini & Volcato Advogados, que representa Nego Di judicialmente, emitiu a seguinte nota:
"Dilson Alves da Silva Neto, conhecido profissionalmente pelo nome artístico Nego Di, foi contratado para realização de publicidade da loja virtual chamada Tá di Zuera. Ocorre que existem atrasos nas entregas da loja e falta de retorno adequado aos consumidores. Diante disto, passou a receber ataques nas redes como se proprietário fosse ou tivesse a administração e gerenciamento da referida loja.
Diante destes fatos, sua assessoria jurídica está averiguando a situação, já estando em contato com a autoridade policial para ter acesso ao inquérito, bem como para colaborar com a investigação e acelerar a elucidação dos fatos.
Por fim, estamos à disposição para quaisquer esclarecimentos aos consumidores."
O que diz o Procon-RS
Segundo o Procon-RS, a orientação ao consumidor em casos de suspeita de estelionato é primeiro fazer o registro da ocorrência e depois realizar a reclamação junto ao Procon Municipal ou Estadual. O Procon poderá atuar no caso, para além do que a polícia dará de andamento. Neste caso, poderá ser aberto processo administrativo para sanção contra a empresa, podendo ser aplicadas diversas medidas, como multa.
O advogado criminalista Guilherme Moraes, em conjunto com os advogados Mateus Marques e Bruna Melgarejo, que representa algumas vítimas do golpe, sustenta que há evidente indício de autoria e de materialidade na atividade criminosa perpetrada por Dilson e por seus cúmplices.
O que dizem advogados de parte das vítimas
Os advogados Guilherme Moraes, Mateus Marques e Bruna Melgarejo, que representam algumas vítimas, enviaram nota a GZH:
Os advogados Guilherme Moraes, Mateus Marques e Bruna Melgarejo, que representam algumas vítimas do golpe, sustentam que há evidente indício de autoria e de materialidade na atividade criminosa perpetrada por Dilson e por seus cúmplices.
Diante dos fatos apurados até o momento, fica clara a intenção de Dilson, e de seus comparsas, de lucrar de forma extremamente rápida e fácil às custas da decadência de suas vítimas, e, ainda, de participar veemente e incentivar a venda de supostas mercadorias.
Frisa-se que a cada dia surgem mais vítimas e mais relatos dos golpes e prejuízos sofridos, fazendo com que, atualmente, os valores envolvidos no esquema criminoso de Dilson seja ainda inestimável, haja vista que a todo momento dezenas de pessoas continuam registrando ocorrências policiais e relatando os atos criminosos dos envolvidos pelo país.
Estamos trabalhando em sintonia com a Autoridade Policial, que tem se mostrado incansável e certeira em suas decisões e abordagens e enfatizo que, visando não prejudicar a investigação em trâmite e seus possíveis desdobramentos, ainda não é possível revelar maiores detalhesda empreitada delitiva.
Por fim, reiteramos que inúmeras pessoas e diversas famílias foram - e estão sendo - cruelmente afetadas pelos crimes investigados e que não cabe a ninguém, nunca, expor o sofrimento destas por meio de “piadas”, “sátiras” ou “ridicularizações”, como já expostos em diversos vídeos pelo próprio investigado. Se faz não apenas necessário, mas imprescindível, que o Judiciário responda à altura dos fatos e da postura que os investigados assumem, protegendo e amparando essas tantas famílias.