
Morador de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, André Luís de Oliveira Fortes, 48 anos, costumava madrugar para ir ao serviço, em uma metalúrgica. À tardinha, regressava para casa, dormia algumas horas e à noite trabalhava como segurança. Casado e pai de dois filhos, morreu na madrugada da última segunda-feira (10). Foi atropelado na saída de um bar, no momento em que tentava impedir um cliente de deixar o estacionamento. O motorista preso é investigado pelo crime de homicídio doloso.
André era o caçula de uma família de três irmãos – tinha duas irmãs mais velhas. Cresceu em Gravataí, na Região Metropolitana, onde até hoje reside parte de seus familiares, como os pais, já idosos. Mudou-se para Novo Hamburgo, onde se casou e vivia até então. Era pai de um jovem de 26 anos, de um primeiro casamento, e também de um garoto de nove anos. No próximo dia 5 de fevereiro, deveria completar 49 anos.
Além do trabalho na metalúrgica, era apaixonado pela profissão de segurança. Durante a pandemia, quando parte dos estabelecimentos permaneceu fechada, andava angustiado. Em casa, empolgava-se narrando para os familiares histórias do serviço.
— A vida do meu irmão era só trabalho. Nós falávamos para ele se cuidar porque tínhamos medo, principalmente de tiro. Mas ele gostava de trabalhar como segurança. Vestia a camisa mesmo. Queria dar uma vida melhor para a família. Foi muito cruel o que fizeram com ele. Não precisava ter sido desse jeito — desabafa Ligiane Fortes Recktenvald, 50 anos.
A irmã conta que André preferia ficar do lado de dentro dos estabelecimentos durante o trabalho como segurança. Mas na madrugada de segunda-feira estava do lado de fora do bar, quando aconteceu o atropelamento.
— Ficamos sem chão e revoltados, com a maneira como foi. Ele (motorista) poderia ter desviado, parado. Mas simplesmente seguiu, queria sair e fugir. Não queremos que o caso dele seja em vão. Que seja só mais um. Era um ser humano, tinha uma família, filhos. Esperamos que ele pague e não faça isso com outras famílias — diz Ligiane.
Entre os parentes, André era conhecido por ser o mais extrovertido da família. Durante os encontros, gostava de contar piadas e divertir a todos. Se um familiar ou amigo tinha algum problema, não hesitava em encontrar forma de ajudar.
— Costumávamos dizer que ele era o palhaço da família, querido por todos. Nem imaginávamos que fosse tanto, mas no velório foi possível ver a dimensão das amizades dele. Era uma pessoa de coração enorme. Se ligasse para ele e dissesse “mano, estou precisando de ajuda”, ele largava tudo e vinha. Nossa família era muito unida. Vai fazer muita falta — lamenta.
O corpo de André foi sepultado na última terça-feira (11), no Cemitério Católico de Canudos, em Novo Hamburgo.
Cliente foi expulso e se envolveu em briga

A investigação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo já ouviu todas as testemunhas do caso, segundo o delegado André Serrão. O condutor, de 26 anos, quando preso, optou por permanecer em silêncio. Detido em flagrante, teve a prisão convertida em preventiva e foi encaminhado ao sistema prisional. O nome dele não foi divulgado pela polícia, em razão da Lei de Abuso de Autoridade.
Ao longo da semana, os investigadores ouviram pessoas que estavam no Dubai Bar e Restaurante, localizado na Avenida Pedro Adams Filho, para entender o que motivou o caso. A apuração descobriu que o cliente preso foi retirado de dentro do estabelecimento porque havia importunado outros frequentadores do local.
— Estava incomodando os clientes pois estava muito bêbado — descreve o delegado.
A polícia também apurou que, na saída do local, ele se envolveu em nova confusão, ao brigar com outros clientes do lado de fora. Na sequência, teria entrado no Sandero e, ao manobrar, colidiu contra outro veículo. Imagens de câmeras de segurança do bar também foram analisadas pelos policias. Nelas, é possível identificar que, ao ver que o condutor pretendia deixar o estacionamento, sem arcar com os custos da batida, Fortes buscou uma grade de contenção e tentou impedir a passagem do motorista. Foi neste momento que acabou atropelado.
O condutor foi preso cerca de 20 minutos depois pela Guarda Municipal. Dentro do veículo foi encontrada uma garrafa de vodca e, segundo a polícia, o motorista apresentava sinais de embriaguez. No entanto, ele se recusou a se submeter ao teste do etilômetro. O motorista, que era morador de Sapucaia do Sul, tinha passagens pela polícia por ameaça e posse de drogas.
Para o delegado, como o condutor viu o segurança e, mesmo assim, não parou o carro, atingindo a vítima, o entendimento é de que se trata de um homicídio doloso — diferente do culposo, quando não há intenção de matar. A polícia pretende remeter o inquérito à Justiça com indiciamento do condutor até o final da próxima semana.
GZH entrou em contato com o proprietário do bar nesta semana, que informou ter repassado todas as informações à polícia, mas que não irá se manifestar para não prejudicar as investigações.
Contraponto
Quando ouvido pela polícia, o motorista optou por permanecer em silêncio. Segundo a Polícia Civil, o condutor ainda não apresentou advogado.