Agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) questionam o motivo de terem sido deixados de fora da lista de prioridades para imunização de trabalhadores da segurança pública no Rio Grande do Sul. Os profissionais reclamam que estão expostos em atividades na rua, como a perícia em caso de morte de pessoas em casa, algumas delas vítimas da covid-19. Além disso, são os agentes do instituto os responsáveis por analisar corpos de pessoas com sinais de violência, fazer exames de corpo de delito, entre outras atividades que podem levar à infecção pelo coronavírus.
Na última semana, o governo do Estado decidiu que 29 mil das mais de 645 mil doses de vacina recebidas seriam para agentes da segurança. Foram definidos como prioridade, no primeiro momento, Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Federal, agentes penitenciários e guardas municipais. Na decisão, estão incluídos integrantes dessas categorias em funções administrativas ou cedidos a gabinetes.
Para vacinar todos os agentes do IGP com a primeira etapa da imunização seriam necessárias 705 doses.
— O que ficou bem chato para nós é que, como vão vacinar todos, muitos dos imunizados estão em home office, ou dentro das delegacias e até da Secretaria de Segurança. Já eu, que sou perito criminal, já fiz perícia em local de suicídio de uma pessoa com covid, assim como meus colegas, não tenho data de quando serei vacinado — disse um agente do IGP à GZH.
O perito criminal prossegue:
— Acidentes de trânsito, casos de homicídio, nós atendemos todos sem saber se a pessoa que está ali está contaminada. Estamos em contato direto com o cadáver, com o sangue, com familiares das vítimas. Corremos tanto risco ou mais que os outros profissionais.
Em nota, a Associação Brasileira de Criminalística afirma que ocorre uma "discriminação" aos servidores do órgão. O texto chega a exemplificar que, em caso de exame de corpo de delito, pode ocorrer que todos os demais profissionais da segurança (policiais da BM, Civil e agente penitenciário) estejam vacinados, mas o perito, não.
O secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, afirmou na sexta-feira (2) ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, que vai solicitar à Secretaria da Saúde que, na próxima remessa, inclua o IGP. Ele justificou que há dificuldade em organizar a fila por instituição, separando quem é ou não de função administrativa.
— Vamos pegar 20% da Brigada, isso daria 3,6 mil homens, mais ou menos. Como é que faríamos a escolha desses 3,6 mil? Pela idade, pela região que trabalha? Hoje todas as regiões estão em bandeira preta. Então é muito melhor que se faça de maneira integral, de toda a instituição — exemplificou Ranolfo.
Agentes da Polícia Federal também foram deixados de fora do grupo prioritário.
Protesto pacífico
Incomodados por não terem sido incluídos como prioridades, os agentes do IGP decidiram fazer um protesto. Arrecadaram mais de R$ 4 mil e compraram uma tonelada de alimentos, que serão repassados à Casa do Menino Jesus de Praga, em Porto Alegre. A entrega será feita em um ato simbólico na tarde desta segunda-feira (5), em frente ao Departamento-Médico Legal, na Avenida Ipiranga.
A Secretaria da Segurança enviou uma nota à GZH detalhando a decisão sobre profissionais priorizados. Confira o texto na íntegra:
"A decisão dos grupos pelos quais se iria iniciar a antecipação de vacinação dos profissionais da Segurança Pública foi tomada em conjunto em reunião da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), com participação do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), equipe diretiva da Secretaria da Saúde (SES) e Secretaria da Segurança Pública. Optou-se por selecionar para esse primeiro momento as forças cujas atividades se aproximam mais diretamente dos critérios determinados pela nota técnica 297/2021 do governo federal, que determina a priorização para trabalhadores que fazem atendimento ou transporte de pacientes, resgate e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação e vigilância das medidas de distanciamento social. Como o Instituto-Geral de Perícias (IGP) e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) prestam apoio às atividades mencionadas na nota técnica, os profissionais serão vacinados com a chegada de próximo lote de imunizantes."