O investigado por um desaparecimento em apartamento no bairro Rio Branco, em Novo Hamburgo, teve a prisão preventiva decretada nesta quarta-feira (11) por homicídio. O mandado foi concedido pela Justiça, a pedido da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do município do Vale do Sinos. Na semana passada, foram encontrados R$ 2,1 milhões no imóvel, além de seis armas — sendo quatro pistolas. Os policiais chegaram ao local após vizinhos ouvirem disparos de arma de fogo. A suspeita é de que João Victor Friedrich de Oliveira, 31 anos, tenha sido morto no local.
O investigado, pai da adolescente de 16 anos namorada de Oliveira, chegou a ser detido na segunda-feira (9) em um estacionamento do município. Com ele foram apreendidas outras seis armas, uma Mercedes, um Corolla e dinheiro de diferentes países. Ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo, por ameaçar os policiais e ter se apresentado com nome falso. Um homem que estava junto também foi preso também por porte ilegal de arma de fogo e uso de documento falso.
Entretanto, horas após a prisão, por volta das 21h40min, o pai da adolescente escapou da delegacia. O preso conversou com o advogado em uma sala fechada e depois foi levado até um corredor. Para fugir, quebrou uma cadeira onde estava algemado. Logo depois, desceu do segundo para o primeiro andar da Central de Polícia e acessou a rua. Os agentes fizeram buscas durante a madrugada, com apoio da Brigada Militar, mas o foragido não foi encontrado. Uma das suspeitas é de que ele possa ter recebido auxílio de alguém do lado de fora da delegacia para escapar.
Desde então, os policiais tentam descobrir o paradeiro do homem. Ele foi identificado como suspeito do crime a partir de câmeras de segurança do prédio de onde Oliveira sumiu. Os equipamentos registraram o momento em que o pai da adolescente ingressou no prédio na companhia de outro homem. Os dois estavam armados. Na sequência, após moradores ouvirem quatro tiros, as câmeras flagraram os dois descendo até a garagem de elevador e transportando uma pessoa desfalecida, até o porta-malas de um veículo. Durante a ação, uma mulher cobre uma das câmeras com um cobertor. A suspeita é de que fosse o corpo de Oliveira.
O delegado Márcio Niederauer, titular da DHPP de Novo Hamburgo, responsável por investigar o caso, afirmou que recebeu na tarde desta quarta-feira (11) decisão judicial que decretou sigilo na investigação, a pedido dos advogados do foragido.
— Por isso, não posso dar detalhes no momento sobre investigação. Mas continuamos trabalhando para recapturar o preso — disse.
Armas e dinheiro
Além de solucionar o sumiço de Oliveira, a Polícia Civil tem outro mistério pela frente: descobrir a trama por trás das armas e da alta quantia em dinheiro dentro do apartamento. Em valores foram apreendidos R$ 328 mil, 388 mil em dólares e R$ 1.124,90 em moedas — num total de R$ 2,1 milhões com base na conversão da moeda estrangeira.
No imóvel ainda estavam guardas três pistolas de calibre 9 milímetros, um revólver calibre 38 uma garrucha, carregadores, dois kits caracol para aumentar a capacidade das pistolas e disparar rajadas, munição e colete balístico, entre outros itens. A polícia tenta entender porque o homem, com histórico por aplicar golpes, armazenava o arsenal dentro de casa.
Em 2016, o mesmo homem chegou a ser flagrado junto da esposa e do cunhado por conta de um golpe contra um empresário em Santa Catarina. Naquela ocasião, ele prometeu trocar 110 mil dólares por reais para a vítima, mas escapou com o dinheiro. Para isso, apresentou-se como assessor de um deputado e afirmou ter influência junto à Polícia Federal. Chegou a participar de encontros com a vítima em Jurerê Internacional. Quando o caso foi descoberto pela polícia, ele deixou a delegacia antes de ser preso.
Mais de um ano depois, ainda foragido, ele foi preso em Ijuí, no noroeste do Rio Grande do Sul. Ele transportava placas falsas da Câmara dos Deputados e do Poder Legislativo Federal. O mesmo tipo de placa foi apreendida no apartamento na última sexta-feira. No prédio da família, o homem era conhecido pelos vizinhos por outro nome, possivelmente para evitar que seu histórico fosse desvendado pelos moradores.
— É tudo muito misterioso — reconheceu Niederauer na manhã desta quarta-feira.
Por que não publicamos os nomes dos suspeitos?
GaúchaZH não identifica o homem e a mulher investigados por envolvimento no desaparecimento de João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, em Novo Hamburgo, para preservar a identidade da filha de 16 anos, que teve a internação decretada pela Justiça. A preservação do nome de adolescentes infratores é determinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O desaparecido
Proprietário de uma empresa de consórcios de imóveis, em Novo Hamburgo, João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, residia em Estância Velha, no bairro Lago Azul. Ele completaria 32 anos na próxima semana. GaúchaZH entrou em contato com a mãe do desaparecido, mas ela preferiu não se manifestar sobre o sumiço do filho.
— Sei tanto quanto vocês sobre o caso — disse.
Oliveira responde a processo por tráfico de drogas, após ter sido preso em flagrante em novembro de 2017. Naquela ocasião, foram apreendidos no veículo dele, um Peugeot, frascos de lança-perfume e comprimidos de ecstasy. Na época, estava em liberdade condicional por outra condenação envolvendo um roubo a residência. Em maio de 2011, no bairro São Luís, em Portão, uma família teve a casa invadida por três criminosos armados. Foram roubados eletrônicos e um veículo, encontrado dias depois com Oliveira.
Em seis pontos, o caso
- Na madrugada de sexta-feira, a Brigada Militar foi chamada até um prédio na Rua Marcílio Dias, em Novo Hamburgo, após moradores ouvirem disparos de arma de fogo. Em um apartamento, os policiais encontraram armas, reais e dólares (num total de R$ 2,1 milhões).
- Uma adolescente, de 16 anos, e a mãe dela, de 35 anos, foram detidas. Havia manchas de sangue no imóvel. À polícia, a garota alegou que brigou com o namorado, João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, e que acabou atirando na perna dele. Disse ainda que, depois disso, ele deixou o apartamento. Como o namorado não foi localizado, a polícia passou a investigar o desaparecimento dele.
- Pelas câmeras do prédio, a polícia descobriu que dois homens armados estiveram no imóvel. As imagens mostram alguém sendo transportado pelos dois até o porta-malas de uma Mercedes e a mulher tapando a câmera. A suspeita é que fosse o corpo de Oliveira. Ela ainda limpa o chão da garagem após a saída do veículo. A adolescente foi internada e a mãe teve a prisão preventiva decretada.
- No domingo, a mesma Mercedes foi encontrada carbonizada no interior do município de Portão. A suspeita é de que o corpo de Oliveira, ainda não encontrado, tenha sido descartado em outro local.
- Na segunda-feira, a equipe da Delegacia de Homicídios prendeu o pai da adolescente em um estacionamento de Novo Hamburgo. Segundo a polícia, ele se preparava para fugir. Foram apreendidas com ele mais armas e dinheiro. Um homem, que não seria o mesmo flagrado nas câmeras com ele, também foi preso.
- Por volta das 21h40min, após conversar com o advogado, o preso conseguiu escapar da Delegacia de Homicídios. Ele estava algemado em uma cadeira no corredor e ainda não havia sido ouvido. O homem danificou a cadeira na qual estava preso e fugiu com a algema presa em uma das mãos.
Os envolvidos no caso
O desaparecido — João Victor Friederich de Oliveira, 31 anos, dono de uma empresa de consórcios, namorava a adolescente de 16 anos. Está sumido desde a sexta-feira (6). A suspeita é de que tenha sido assassinado.
A namorada — Adolescente de 16 anos que morava com os pais no apartamento. Aos policiais, disse que atirou na perna do namorado e que isso justificaria o sangue no local. Foi apreendida e está internada em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase).
O foragido — Pai da adolescente, é suspeito de envolvimento no sumiço de Oliveira. Foi flagrado pelas câmeras do prédio entrando no apartamento armado na sexta-feira e depois colocando um corpo em uma Mercedes. Foi preso na segunda-feira, mas fugiu da delegacia.
A mulher — Esposa do foragido, a mulher de 35 anos estava no apartamento na madrugada do sumiço de Oliveira. Foi flagrada por imagens enquanto cobria uma das câmeras da garagem com cobertor. Está presa de forma preventiva.
O comparsa — Entrou no apartamento com o pai da adolescente na madrugada do desaparecimento, também armado, e ajudou a carregar o corpo. É investigado pela polícia.
O preso — Foi detido na segunda-feira com o pai da adolescente. Eles estavam com dinheiro, armas e dois veículos apreendidos em um estacionamento. Ele foi preso por porte ilegal e por apresentar documentos falsos. Não é o mesmo comparsa identificado nas imagens.