Em seu gabinete, onde pode observar ampla vista do Guaíba, no Centro Administrativo Fernando Ferrari, o vice-governador e secretário da Segurança do RS, Ranolfo Vieira Júnior (PTB), planeja colocar em atuação a Secretaria de Administração Penitenciária em cem dias. Mudar o sistema prisional é apontado por ele como principal desafio para combater a criminalidade. Para tentar reduzir o déficit de 11,9 mil vagas, aposta em parcerias com a iniciativa privada e casas prisionais pequenas.
Qual seu maior desafio à frente da segurança pública do RS?
Fazer o desmembramento da Secretaria da Segurança e da Secretaria da Administração Penitenciária.
A prioridade será abrir vagas nos presídios. Há acúmulo de presos em delegacias. Delegacia não é local para ter preso recolhido. Isso tira o policial civil da investigação, e coloca em risco a sociedade. Pode haver resgate ou motim. Tira o brigadiano das ruas e ocupa viaturas. As facções são alimentadas pela falta de vagas. O sistema prisional é o grande nó.
Em cenário de escassez de recursos, como o senhor pretende driblar a falta de efetivo e garantir investimentos na segurança?
No mesmo dia em que fui anunciado secretário fiz contato com o Instituto Cultural Floresta. A Lei de Incentivo à Segurança é uma importante forma de captação. Também faremos o emprego de tecnologia. Ela não substitui policial, mas dá condições de trabalhar com efetivo reduzido. Outra questão é a integração com outros órgãos de segurança, como guardas municipais.
O governo anterior transferiu policiais do Interior para a Capital. Em meio à interiorização das facções criminosas, qual será sua política de atuação?
Retirar do Interior talvez não seja o mais adequado. Embora nesse momento tenho Operação Verão, quando a população migra para o Litoral, e o efetivo sai de algum lugar, que é a Capital e o Interior. Não tenho varinha mágica.
No fim do ano, houve série de ataques a bancos com confrontos e mortes de criminosos. De que forma o senhor pretende enfrentar esse tipo de crime?
Temos três formas para atacar: investigação e inteligência, para identificar organizações criminosas, mapeamento de regiões e períodos. A partir disso, preparar estratégia de pronta resposta. É o que de certa forma vinha sendo feito. E a descapitalização das organizações criminosas.
Os homicídios tiveram queda no RS, mas os feminicídios subiram. De que forma a gestão pretende tratar a violência doméstica?
Os homicídios reduziram por conta da ação que transferiu as lideranças criminosas do Estado para prisões federais. Grande parte desses indivíduos pode retornar em julho. Estamos articulando para que não aconteça. Sobre os feminicídios, têm de ter tratamento especial, fazer cumprir e fiscalizar medidas de proteção.
O senhor disse que o foco da secretaria será a criação de vagas. Com um déficit de quase 12 mil e falta de recursos, como fará isso?
Todo mundo sabe que o Estado está quebrado. Dificilmente, com dinheiro público, vamos conseguir construir presídios. Apostamos na parceria público-privada, com a troca de ativos, de bens imóveis do Estado, por área construída. E também na qual o ente privado constrói e tem a concessão do presídio por 25 a 30 anos. Apenas a segurança dos presídios seria feita pelo Estado. Isso dá dinamismo e reduz custo.
Em relação ao sistema prisional, qual deve ser a principal política?
Investimento em tecnologia, implementação de bloqueadores de celulares. Não dá para deixar do jeito que está. Não adianta prender e só atirar para dentro do presídio. Ele vai voltar pior. Aquela convivência vai fomentar o crime. Tem de ter uniforme, regra.
E isso só com construção de casas pequenas, com 300 a 400 presos. O monitoramento eletrônico é importante, mas tem de haver controle.
E para o Presídio Central? Quais são os planos?
Não dá para dizer que vamos fechar o Central. Não tem como. Se está faltando vaga com o Central, imagina sem ele.
Além das políticas de repressão, quais propostas para prevenção?
Vamos ter um projeto transversal entre várias secretarias. Essa maneira de trabalhar, de prende e prende, acaba fazendo a mesma coisa. A prevenção vai me trazer resultado a médio e longo prazo. Hoje, o Estado disputa a criança e o adolescente com o mundo do crime. Temos de dar um jeito de tirar a possibilidade de o jovem acabar optando pelo crime. Se não começar, não vai ter resultado na frente.