Em frente à unidade de saúde Domênico Feoli, no bairro Rubem Berta, na manhã desta quarta-feira (28), Rosinha de Souza, 55 anos, carregava envelope com exames que pretendia mostrar à médica. A consulta, que deveria ter ocorrido no dia anterior, precisou ser reagendada, após o posto da zona norte de Porto Alegre fechar as portas na sexta-feira (23), por conta de um assalto.
Na segunda-feira (26) e na terça-feira (27) não houve atendimento. Um evento de conscientização sobre câncer de próstata, que deveria ter ocorrido no sábado (24), também precisou ser cancelado. Rosinha estava entre as primeiras que procuraram atendimento no posto, às 8h desta quarta-feira. A moradora deixou a unidade indignada com a situação.
— Sempre me tratei aqui. Mas não tem segurança. Tem que ter todos os dias, não só hoje. Assaltar até posto de saúde, é absurdo. O povo é que paga a conta — criticou.
No acesso ao prédio, três guardas municipais, em uma viatura, permaneciam acompanhando a reabertura. Dentro do posto, funcionários se desdobravam para reagendar atendimentos que ficaram atrasados. As duas médicas que deveriam atender a unidade estão afastadas.
— Uma se envolveu em um acidente e a outra está afastada até sexta-feira (30), por conta do que aconteceu. Estamos acolhendo a população e reagendando atendimentos — explicou a enfermeira Bárbara de Borba, gerente distrital de saúde, responsável pela unidade.
Sempre me tratei aqui. Mas não tem segurança. Tem que ter todos os dias, não só hoje. Assaltar até posto de saúde, é absurdo. O povo é que paga a conta
ROSINHA DE SOUZA
Paciente
Outros funcionários também se ausentaram por conta do estresse sofrido com o assalto. Um deles chegou a ser agredido pelos criminosos.
— Aqueles que estavam no momento do ocorrido ficaram mais abalados. Sabemos da importância do atendimento para a população, por isso, conversamos e decidimos reabrir com os que se sentiam em condições — afirmou Bárbara.
Os atendimentos de enfermaria e odontologia, além do realizado pelos agentes de saúde, foi retomado. O horário de funcionamento da unidade deve ser mantido normalmente, com fechamento às 17h.
— Não temos como parar, a população precisa da gente. É vida que segue — conformava-se uma funcionária da unidade.
Atendimento comprometido
O porteiro Jorge Luiz dos Santos, 40 anos, foi até o posto em busca de consulta médica para o filho Arthur, de nove anos. O menino estava com tosse e dor de garganta. O pai saiu sem conseguir a consulta.
— Não consegui, não tem médico. É um caos — reclamou.
Luana Marques, 25 anos, que reside quase em frente à unidade, precisou recorrer a outro posto de saúde na sexta-feira para vacinar o filho Derick, de sete meses. Ela voltou no local nesta manhã para tentar fazer a pesagem do bebê, que deveria ter ocorrido no sábado.
— Pediram para voltar durante a tarde. Não é a primeira vez que o posto fecha por conta disso. Não tem segurança nenhuma, infelizmente — lamentou.
O crime
O roubo aconteceu por volta das 17h de sexta-feira (23). Dois criminosos chegaram de motocicleta e, passando-se por pacientes, pediram preservativos e deixaram o local. Em seguida, voltaram e anunciaram o roubo. Os criminosos levaram celulares e pertences de pacientes e funcionários. Um enfermeiro foi agredido. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o fechamento afetou 5 mil pessoas cadastradas no posto – o número exato de pacientes que seriam atendidos não foi divulgado. O caso representa a 82ª vez neste ano em que a criminalidade provocou fechamento temporário de postos de saúde na Capital.