As autoridades precisam ficar em alerta. Por mais paradoxal que possa parecer, a bipolarização da guerra entre facções criminosas nas ruas da Região Metropolitana está produzindo reflexos no interior da Cadeia Pública, conhecida como Presídio Central, e pode acabar com uma harmonia que já dura anos. E conflitos que ocorram no interior das prisões podem se reproduzir de maneira muito mais intensa do lado de fora.
Até aqui, os grupos organizados vêm respeitando um pacto segundo o qual não podem ocorrer mortes dentro da prisão. Em compensação, protagonizam sangrentos conflitos do lado de fora.
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No entanto, os tumultos ocorridos esta semana na maior cadeia gaúcha devem deixar autoridades em alerta, para que não se repitam no Rio Grande do Sul os acontecimentos que marcaram o início deste ano em presídios e penitenciárias do Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte.
Na segunda metade dos anos 80 e na primeira dos 90, época em que o crime organizado ainda engatinhava no Rio Grande do Sul, com a criação da Falange Gaúcha, primeira facção surgida no Estado, as mortes no interior das cadeia, principalmente do Presídio Central, eram comuns. As disputas entre os criminosos, essencialmente pelo poder, produziam efeitos internos nas prisões.
A partir de 2006, em uma nova configuração, gradativamente, as facções comandaram o fim das mortes violentas no cárcere. Certamente, haverá quem diga que os conflitos envolvendo exclusivamente presos são benéficos. Afinal, no senso comum, "bandido bom é bandido morto".
Para os que pensam assim, sem me ater a questões relacionadas aos direitos humanos e a aspectos legais, argumento que não existem muros ou grades tão altos capazes de separar os confinados
da sociedade livre. Em outras palavras, lembro que os acontecimentos ocorridos no interior das prisões costumam ter reflexos, e graves, do lado de fora. Ou seja: mortes que eventualmente venham ocorrer na cadeia tendem a se multiplicar nas ruas, ampliando ainda mais um já elevado índice de homicídios na Região Metropolitana.
Assim como ocorre com outros crimes, como assaltos a banco, roubos de carro e latrocínios, que são praticados em Porto Alegre e cidades vizinhas a partir de ordens dadas de dentro do Presídio Central. É preciso paz nas ruas e nas prisões.