Policiais corruptos são especialistas em achacar bandidos. Nas corregedorias das corporações, há casos de agentes da lei flagrados mordendo traficantes, realizando a segurança de bicheiros, fazendo bico como matadores de aluguel.
Até esta terça-feira, porém, não se tinha notícias de um delegado e de um comissário da Polícia Civil sócios do crime organizado na condição de "financiadores" de facção.
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Caso as suspeitas do Ministério Público e da Corregedoria da Polícia Civil se confirmem, o delegado Omar Abud, titular da 17ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, e o comissário aposentado Luís Armindo de Mello inauguram uma nova função na crônica da corrupção policial.
Abud soma 28 anos de polícia. Trabalhou em todas as delegacias especializadas do Estado, mas, desde que foi alvo da CPI da Segurança Pública, em 2001, peregrinou entre DPs distritais da Capital, longe dos holofotes.
A prisão constrange os seus pares e perturba a sociedade. Constrange porque Abud, delegado de quarta classe, estava no topo da carreira profissional. Caminhava para aposentadoria tranquila, com um salário de R$ 22,4 mil brutos (de acordo com o app Pilas RS, do governo do Estado). A propósito: se o agente se corrompeu, não foi pela condição financeira.
Perturba porque a facção que ele supostamente financiaria, e que trava uma guerra pela hegemonia do tráfico de drogas em Porto Alegre, é uma das responsáveis pela escalada de homicídios na Região Metropolitana – um conflito que mata inocentes, entre eles crianças e mulheres grávidas, atingidos por balas perdidas.
A prisão do delegado não representa uma condenação antecipada. Na condição de suspeito, o policial terá tempo para se defender e provar a sua inocência. O tempo, e a Justiça, se encarregarão de mostrar se Abud é vítima de um tremendo mal-entendido ou se, de fato, o delegado tem as mãos sujas de sangue.