O assassinato de um empresário na tarde da última quinta-feira, que foi confundido com um traficante e baleado no estacionamento do supermercado Zaffari, em Porto Alegre, não surpreendeu o chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt.
Ele afirma que este tipo de crime, em locais públicos e movimentados, tem sido rotina em algumas regiões da Capital e Região Metropolitana pois os líderes de facções já não têm mais limites como antigamente.
Leia mais
Empresário assassinado na frente da filha foi confundido com traficante
Polícia prende suspeitos de morte de empresário em Porto Alegre
Homem é morto em estacionamento de supermercado na Zona Sul
– O que percebemos é que já há uns dois anos não existem mais lideranças de facções capazes de unificar e até pacificar essas disputas por áreas. São líderes de menos envergadura do que os que existiam anteriormente – afirmou, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, nesta segunda-feira.
Conforme Wendt, a situação se agrava pela falta de controle nos presídios, que enviam ordens de execução com facilidade para quem está fora do sistema prisional, como foi o caso do assassinato do empresário Marcelo Oliveira Dias, 44 anos, morto por engano.
Os criminosos, líderes de uma facção com sede no bairro Bom Jesus, haviam recebido ordens de matar uma liderança do Beco do Adelar, mas acabaram confundindo o alvo.
– Eles inclusive utilizaram as redes sociais para chamar o homem ao local do crime, mas o alvo chegou no local logo depois da execução do empresário. Os policiais ficam indignados porque foi tirada a vida de alguém que não está vinculado e não tem qualquer relação com o tráfico de drogas – relatou.
A opinião de Wendt é compartilhada pela a promotora da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, Lucia Helena Callegari, que afirma que os líderes de facções, atualmente, não possuem a mesma "seriedade" que os antigos criminosos:
– Eles possuem cabeças de guris, pois são jovens, às vezes com vinte e poucos anos. Os líderes antigos também cometiam crimes, mas não em locais públicos. Não sei se o que acontece atualmente é por acreditarem na impunidade ou por querer mostrar poder – afirmou a promotora, também ao programa Gaúcha Atualidade.
Questionada sobre a possibilidade de reverter a situação e retomar a segurança em locais públicos, Lucia Helena se disse pessimista:
– Existe segurança nesses lugares. O aeroporto, por exemplo, tem todas forças. Mas eu não tenho esperanças. Enquanto tivermos um sistema prisional como temos agora, onde sessões do presídio são dominadas por facções e as ordens são direcionadas para a rua, não tenho esperança. Infelizmente as fações criminosas tomaram conta dos presídios.
Ouça as entrevistas na íntegra: