Completando duas semanas de força-tarefa entre prefeitura de Porto Alegre e Estado para desafogar as emergências em saúde da Capital, 38 dos 78 pacientes que receberam a autorização para terminar os tratamentos em hospitais de outras cidades foram efetivamente transferidos, ou seja, quase metade. Os dados foram compartilhados nesta sexta-feira (19) pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
As 78 autorizações fazem parte de 171 solicitações de contrarreferência de hospitais e pronto-atendimentos da Capital. Os pedidos são para que pacientes de alta complexidade concluam os tratamentos em instituições de média complexidade em outros municípios, e se referem ao período entre 5 a 18 de abril. Dentro das 78 transferências autorizadas, 19 foram encerradas, o que significa que o paciente deixou o sistema de saúde, porque recebeu alta ou não precisa mais da vaga, por exemplo.
A prefeitura de Porto Alegre estimou que 57% dos pacientes internados em leitos de alta complexidade, nesta sexta-feira (19), eram de fora da cidade. Entre os municípios com maior procura pelo sistema de saúde da Capital estavam Alvorada, Cachoeirinha, Guaíba, Gravataí e Viamão.
Para aliviar o atendimento, a meta da Secretaria Municipal de Saúde era transferir 20 pacientes por dia, um número distante de ser contemplado. Na prática, considerando os 38 que foram encaminhados de 5 a 18 de abril, houve uma média de três pessoas indo para outros municípios diariamente, o que, na visão da pasta, não atende ao objetivo de desafogar as emergências.
O chefe da Divisão de Regulação Médica de Urgências do Estado, Diego Fraga, argumenta que é preciso que as outras instituições tenham condições para receber os pacientes, razão pela qual está sendo elaborado um Plano Estadual de Contrarreferência, que pretende garantir o atendimento de média e alta complexidade nos estabelecimentos de saúde (saiba mais abaixo).
— Não consigo colocar constantemente 20 pacientes em um hospital do interior, porque ele também tem uma demanda interna — contrapõe Fraga.
Visto como uma alternativa para aplicação em todo o Rio Grande do Sul, o plano está sendo preparado desde o início de abril e agora está sob análise do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems). De acordo com Fraga, o objetivo é lançá-lo até maio.
— Temos hospitais de alta complexidade no interior e que também vêm enfrentando uma certa dificuldade em encaminhar os pacientes que não precisam mais estar naquele leito e poderiam concluir um tratamento em um hospital de média complexidade — salienta.
O principal desafio para as autoridades hoje é a resistência dos pacientes em aceitar as transferências para outras cidades, por isso muitas autorizações não foram concretizadas.
— Hoje o paciente dificilmente quer voltar para o município, por uma questão cultural ou por gostar mais do hospital em que está, mas entendemos que isso precisa acontecer. Estamos tentando um apoio dos hospitais para receber esses pacientes que concluem o tratamento — frisa Fraga.
O chefe da divisão estima em 90% das pessoas em atendimento não querem sair dos locais em que já estão, por isso uma alternativa considerada seria buscar apoio do Ministério Público.
— Nesse momento da saúde, a necessidade do coletivo é maior que a individual. A gente entende que essa sensibilização tem que acontecer. O paciente tem que saber que não tem mais necessidade de estar na alta complexidade — explica.
Como vai funcionar o Plano Estadual de Contrarreferência
O plano prevê que, após o tratamento, caso seja necessário manter o cuidado, o paciente de menor gravidade internado em um serviço de alta complexidade seja encaminhado para um serviço com condições de recebê-lo: um hospital de média complexidade; uma unidade básica; um serviço menos especializado; o profissional que já o acompanha; um dispositivo da rede de saúde mental; ou às equipes de atenção domiciliar.
No caso dos hospitais de média complexidade, os pacientes de contrarreferência — que integrarão o Plano Estadual de Contrarreferência — serão encaminhados para leitos de retaguarda (clínicos, de cuidados prolongados ou de UTI) quando possível e necessário, conforme o caso e a regulação. Os leitos de retaguarda servirão para dar a assistência ao paciente enquanto se recupera.
O plano permitirá ampliar o atendimento aos pacientes de alta complexidade em Porto Alegre e preparar melhor os municípios para receber os pacientes de menor complexidade. A ideia é que, no futuro, por meio da regulação de leitos clínicos e da troca de informações entre sistemas, a iniciativa sirva também para ampliar o atendimento de alta complexidade em todo o Estado.