Na próxima sexta-feira (7), o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) realizará assembleia online para discutir a demissão dos 22 médicos que atuavam na área de obstetrícia do Hospital Santa Casa de Misericórdia, de Porto Alegre. Segundo o Simers, todos os médicos que trabalhavam na Santa Casa no centro obstétrico, na emergência obstétrica e na rotina obstétrica (cuidados com pacientes internados) foram dispensados na terça-feira (4) e, desde então, setor do hospital está enfrentando problemas no atendimento.
A Santa Casa afirma, porém, que os desligamentos referem-se exclusivamente aos médicos plantonistas que atuavam no bloco cirúrgico obstétrico, e que os atendimentos médicos ambulatoriais realizados na obstetrícia da instituição não foram afetados com a reestruturação.
— É muito grave para a classe médica e, principalmente, para a população. Cada um recebeu uma carta explicando que o motivo era corte de custos. Mas é completamente absurdo, sairá muito mais caro porque tirou todos os médicos comprometidos e competentes. Há toda a credibilidade de um hospital centenário, que é referência no Estado — ressalta a médica Márcia Pires Barbosa, coordenadora do núcleo de obstetrícia do Simers.
Conforme Márcia, há um mês, o hospital contratou uma empresa terceirizada, a Promed, para ser responsável pela contratação de médicos do setor. Na data, teria sido assegurado em reunião com os médicos obstetras de que não ocorreriam demissões.
— Neste primeiro mês com a empresa, já houve furo em plantões. No dia 1º de janeiro, foi preciso fechar as portas por falta de profissionais no plantão. Hoje (5) está fechado, assim como ontem (terça, 4). Ontem mesmo, com a confusão das demissões, até residentes de primeiro ano estavam recebendo oferta da empresa para trabalhar de plantão na maternidade. Toda a segurança e confiabilidade que temos na instituição Santa Casa está sendo posta em jogo — denuncia Márcia.
Ainda segundo a representante do Simers, o fechamento da maternidade não teria sido por superlotação na UTI Neonatal, alegado pelo hospital, mas por falta de médicos.
De acordo com o hospital Santa Casa, em média, a instituição realiza mil atendimentos mensais no setor. A direção do hospital decidiu se manifestar por meio de nota sobre a situação e informou que, depois de revisão da modalidade de contratos, optou-se pelo desligamento dos profissionais substituídos no mesmo dia por uma nova equipe, com novo formato de contrato e vínculo jurídico. Sobre o fechamento da maternidade, a instituição destacou ainda, na nota, que, no primeiro dia da nova equipe, duas situações impactaram nos atendimentos de terça (4) e desta quarta (5): a superlotação da UTI Neonatal e a redução de equipe devido à identificação prévia de dois profissionais contaminados com covid-19.
GZH tenta contato com a empresa Promed, mas até o fechamento desta reportagem não havia conseguido retorno.
A diretoria da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs) manifestou-se por meio de nota em defesa dos profissionais demitidos. "A Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs) vem a público manifestar solidariedade aos colegas obstetras demitidos sumariamente pela Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre nesta semana. A Associação demonstra ainda sua preocupação com a assistência obstétrica, com o ensino acadêmico e com a formação dos profissionais naquela instituição", diz do comunicado.
Confira a íntegra da nota da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
"Todas as decisões realizadas pela direção da Santa Casa tem como prisma a garantia da qualidade e segurança assistencial dos seus pacientes. Tendo em vista a revisão da modalidade de contratos, a instituição realizou na terça-feira (4/1) o desligamento de 22 médicos obstetras, que foram substituídos já no mesmo dia por uma nova equipe, com um novo formato de contrato, vínculo jurídico e que será responsável por manter os atendimentos normalmente.
No primeiro dia da nova equipe, outras duas situações impactaram os atendimentos: a primeira delas, determinante para a redução de atendimento, foi a superlotação da UTI Neonatal; a segunda situação envolveu a redução de equipe devido à identificação prévia de dois profissionais contaminados com Covid-19. Com isso, a entrada de pacientes precisou ser restringida, sendo realizado apenas o atendimento de pacientes graves e urgentes. Nesta quarta-feira, a UTI Neonatal permanece com superlotação, o que exige a manutenção da restrição, mas a equipe de profissionais foi reposta e segue realizando todos os atendimentos necessários."