Saúde

Entrevista

Médico Jorge Kalil alerta para aumento de casos no Brasil e necessidade de cuidados: "Temos que seguir as regras"

Professor da Medicina da USP e diretor do Incor considera cenário preocupante decido ao crescente número de aglomerações e o relaxamento das medidas restritivas

GZH

Professor da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), o médico Jorge Kalil avalia que o cenário da pandemia do coronavírus no Brasil é preocupante, já que, por conta das temperaturas mais altas, muitas pessoas têm saído de casa e feito aglomerações.

- Parece que as pessoas não se dão conta que o vírus é invisível, mas está presente. As pessoas baixam a guarda porque estão cansadas, mas nós estamos em um momento de pandemia, em um momento excepcional. Nós temos que seguir as regras, senão vamos manter esse vírus aqui circulando, causando mortes, sobrecarregando o sistema de saúde. E aí teremos que voltar atrás, quer dizer, vamos ter que voltar de novo ao isolamento.

O médico afirma que entende que as pessoas estão cansadas, mas que é preciso prezar pelas vidas:

- Tenho visto muitas pessoas da faixa dos 30, 40 anos, morrendo por causa do coronavírus. O que posso dizer é que os grandes hospitais em São Paulo, os mais famosos, os que justamente cuidam de pessoas ricas, que foram as que mais relaxaram para fazer festinhas privadas, porque estavam cansadas de não ter vida social, estão com as UTIs lotadas de pacientes - afirma, citando instituições como o Hospital Israelita Albert Einstein e o Sírio-Libanês.

O diretor afirma também que entende que é preciso cuidar da economia e preservar empregos, mas que isso deve ser feito de uma "forma inteligente", e não de "irresponsável" como foi feito até o momento, opina.

Em relação às vacinas, o Kalil afirma que "é preciso comemorar" que há resultados positivos sendo entregues, mas alerta que os resultados divulgados pela Universidade de Oxford têm algumas incongruências.

Grandes hospitais em São Paulo, que justamente cuidam de pessoas ricas, que foram as que mais relaxaram para fazer festinhas, estão com as UTIs lotadas

JORGE KALIL

Diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor)

Sobre o cenário mundial da pandemia, o professor avalia que o quadro é "bem pior" do que o visto nos primeiros meses do ano no mundo. Segundo ele, ao retomar as atividades sem cautela, a Europa, por exemplo, abriu portas para o aumento de casos, e enfrenta agora uma segunda onda do coronavírus.

- Se nós olharmos a mortalidade mundial, em maio estava por volta de 6 mil pessoas no mundo por dia. Hoje em dia está mais de 8 mil por dia. Então, nós estamos hoje em uma situação bem pior do que estávamos no começo da pandemia - analisa Kalil.

- É claro que temos mais lugares que são acometidos. Mas, por exemplo, quando olhamos para os Estados Unidos está extremamente calamitoso. Apesar de ser um país extremamente desenvolvido e com uma medicina de altíssimo padrão, eles não estão conseguindo tomar as medidas que deveriam ser tomadas.



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