O ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde João Gabbardo afirmou nesta segunda-feira (8), em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, que atrasar a divulgação dos dados diários sobre o avanço da pandemia de coronavírus no Brasil é uma estratégia para reduzir a visibilidade das estatísticas nos meios de comunicação. Afirmou, também, que não faz diferença o horário para a pasta.
— Não tem diferença nenhuma o horário do anúncio do ponto de vista epidemiológico nem logístico do Ministério da Saúde. Quanto mais tarde ele fechar os números dos Estados, mais tarde vai entregar os dados para população — disse. — É nítido que essa estratégia não é uma estratégia de logística, é uma estratégia para reduzir a visibilidade nos meios de comunicação — acrescentou.
O Ministério da Saúde tem divulgado apenas às 22h os dados atualizados sobre o coronavírus no Brasil — anteriormente, os boletins saíam entre 17h e 19h.
Gabbardo também esclareceu que a contagem dos mortos por covid-19 não tem a ver com registros em cartório. O ex-secretário explicou que, quando o paciente vai à óbito, não tem o resultado do exame ainda. Sendo assim, aquele caso fica aguardando a confirmação, por meio do resultado dos testes, para que o Ministério da Saúde possa registrar o falecimento.
— Os óbitos que a gente diz que tem hoje, 36 mil óbitos, na verdade tem muito mais. Tem 4 mil óbitos que aconteceram e ainda estão em investigação. Por isso que o dado de hoje sempre é maior do que o número de óbitos constatados num determinado dia. Sempre se está desovando resultados de laboratório em uma velocidade maior — explicou. — Todos os países no mundo usam essa metodologia (...) eninguém tem essa velocidade, o exame não é tão rápido assim (para afirmar no ato da morte a causa) — afirmou.
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Entenda
Questionado sobre o motivo para o atraso na divulgação dos números, o presidente Jair Bolsonaro ironizou, dizendo que havia acabado "matéria no Jornal Nacional".
A pasta, por sua vez, negou que o atraso se desse de forma proposital. Após, disse, em comunicado, que ele se dava pelo processo de consolidação dos números informados pelas secretarias estaduais.
"Assim, a pasta analisa e consolida os dados, sendo que em alguns casos há necessidade de checagem junto aos gestores locais. Desta forma, o Ministério da Saúde tem buscado ajustar a divulgação dos dados, que são publicados diariamente na plataforma covid.saude.gov.br", afirmou em nota.
Além de alterar, na semana passada, divulgação de mortes e infecções por covid-19, o Ministério da Saúde também divulgou no domingo (7) números contraditórios sobre a doença. Às 20h37min, as informações oficiais da pasta eram de 1.382 novos óbitos em 24 horas (um recorde para um domingo) e 12.581 novos casos de infectados, no mesmo período. Entretanto, às 21h50min, a plataforma oficial trazia dados diferentes. De acordo com o site, foram registrados 525 novos óbitos e 18.912 novos casos confirmados de sábado (6) para domingo.