A enchente que deixou parte da zona norte de Porto Alegre submersa engoliu casas, praças e automóveis nos últimos dias. Apesar dos esforços contínuos de voluntários e bombeiros para resgatar famílias que ficaram ilhadas, algumas vezes, a retirada dos animais de estimação se torna inviável.
Foi o que aconteceu com uma vizinha de condomínio do seu Tiba - o nome de batismo é Tibúrcio Barbosa, mas ele prefere o apelido -, 58 anos. Ela precisou sair de casa, no bairro Humaitá, e não conseguiu pegar seus pets. Por volta de 10h30min de terça-feira (8), seu Tiba desembarcou na elevada do Viaduto José Eduardo Utzig, pela Rua Pereira Franco, no bairro São João, com o cão Lukinha e a cachorra Belinha, ambos da amiga.
Natural de Não-Me-Toque, ele mora em Porto Alegre há 38 anos e diz que nunca tinha visto nada assim. A esposa havia saído de casa no sábado (4), quando ficaram isolados, sem luz e sem água, e se refugiou na casa de amigos no Litoral. A grande decepção dele foi não ter conseguido resgatar sua gata.
- Ela é muito arisca e subiu no roupeiro, arranhou as pessoas. Não conseguimos pegar. Pelo menos tem comida para um mês - pontua.
No mesmo barco em que ele chegou, vieram vizinhos do mesmo condomínio, que teve o térreo inundado. Os resgates ocorrem em diferentes pontos da região.
Na saída do viaduto pela Rua Souza Reis, o voluntário João José de Carvalho auxiliava na organização dos botes salva-vidas. Ele conta que veio com o filho, que é bombeiro voluntário, em um grupo de 30 pessoas de diferentes cidades do litoral paranaense.
- Alugamos uma van para vir e vamos ficar até domingo pelo menos. Tivemos muitas dificuldades de acesso. Mas fizemos tudo para poder ajudar essas pessoas - diz.
Furtos e violência
Moradores que preferiram não se identificar comentaram que durante a noite é possível ouvir disparos de arma de fogo pelas ruas e que muitas famílias não querem deixar suas casas por medo de furtos. Voluntários que trabalharam na madrugada desta quarta-feira relatam que houve tumulto após um homem efetuar disparos para o alto.
A Brigada Militar reforça a segurança dos resgatistas e mantém policiais 24 horas acompanhando as buscas. O Exército também mantém efetivo auxiliando nas buscas pelas vítimas.