Começa na Avenida Padre Cacique, em verde claro, e termina mais de cem degraus acima, na Avenida Pinheiro Borda, em roxo. As tintas coloridas deram origem a uma espécie de arco-íris que reflete a imagem vista todas as tardes, logo à frente, no Lago Guaíba. Foi por isso que o espaço, até então pouco conhecido pelos porto-alegrenses, foi batizado de Escadaria Pôr do Sol. Na tarde deste sábado (9), artistas concluíram os últimos detalhes da pintura, iniciada em 1º de julho.
A escadaria fica próxima à Fundação Iberê Camargo, na zona sul da Capital. Até o início do projeto, era cinza e pouco utilizada. Agora, a cada lance de degraus, ilustrações coloridas com ondas, bicicletas, pássaros, peixes, sóis e gatos chamam atenção de quem passa pelo local. Idealizadora do projeto de pintura, a artista Márcia Spies, 38 anos, afirma que o objetivo é justamente esse:
— Eu espero que as pessoas possam olhar para essa escada como eu olhei, que possam ver que esse é um lugar especial, onde é possível ver o pôr do sol de uma maneira incrível. Então, espero que elas apreciem, desfrutem, tirem fotos e gostem.
A ideia de pintar a escadaria surgiu há cerca de um mês, quando a moradora da Zona Sul passava de bicicleta pelo local — até pouco tempo atrás, o acesso estava interditado por tapumes. Márcia então compartilhou sua vontade com os colegas do coletivo artístico Casa Amarela POA, que gostaram da proposta e aceitaram pintar a escada. Ela também foi atrás de autorização da prefeitura da Capital e buscou parcerias para comprar as tintas.
Conseguiu a ajuda da empresa Garden PRO RS, que limpou a escadaria, enquanto as tintas foram fornecidas pelos próprios artistas, amigos e pela Casa Amarela POA. Márcia conta que não conseguiu todos materiais que gostaria, mas, mesmo assim, considera o resultado ótimo.
— Deu para fazer dessa maneira e, sinceramente, olhei para o resultado final e achei ainda melhor do que eu tinha imaginado. Porque a gente faz a projeção pensando no que a gente vai fazer, mas não sabemos o que os outros vão fazer, e isso eu acho que é o legal do coletivo, é algo que tem um resultado inesperado — afirma.
A idealizadora escolheu as cores que seriam usadas no projeto, que representa o céu, o sol e a água, de cima para baixo, e fez um sorteio entre os artistas, deixando livre para que eles ilustrassem da forma que quisessem, desde que usassem 70% da cor base escolhida.
A artista e publicitária Taise Capellari Rampi, 41 anos, foi a responsável por pintar os degraus que representam o sol. Frequentadora da Fundação Iberê Camargo, ela conta que nunca tinha visto a escada e que aceitou participar do projeto porque, para ela, pintar é uma satisfação imensa e uma terapia.
— A pintura e a cor dão vida para a cidade. Para nós, é uma alegria imensa colorir o caminho que as pessoas passam. Acho que, depois da pandemia, as cores, a vida e os lugares abertos são para acolher as pessoas, por isso que estamos fazendo essa intervenção: para incluir as pessoas nos ambientes abertos e viver a cidade — destaca.
Taise explica que cada artista fez sua intervenção de acordo com sua linha de trabalho — ela, por exemplo, pinta mandalas e pontilhismo, aspectos que tentou trazer para a parte da escada que pintou. Como o concreto do local estava muito defasado, a artista precisou de quatro dias para finalizar seu trabalho.
A artista plástica Rose Osório também participou da pintura. Ela relata que, considerando os retornos que já receberam, as pessoas gostaram bastante do resultado.
— Eu sou apaixonada por pintar na rua e dar cor para o mundo. Foi superdivertido. Acho muito astral a gente juntar pessoas que a gente gosta, que compartilham a arte, para trocar ideias. Todo mundo deu palpite no trabalho do outro e aí está, para o pessoal ter uma subida mais leve — diverte-se.
Além das três, assinam o projeto os seguintes artistas: Evelise Vigânico, Maira Isadora Machado Scheid, Maria Teresa Girardello, Rosane Guerin, Rejane Westphalen Haleva, Nana Corte, Claudia Rodrigues Borba Borini, Livia Beatris Martins de Martins, Roberto de Freitas e Luiz Leite.