Porto Alegre foi brindada com mais um domingo de sol, sinônimo de uma orla do Guaíba lotada. Contudo, este 27 de março não foi um domingo qualquer: foi dia de show gratuito de Vera Loca e Rock de Galpão com participação de Hique Gomez, programação comemorativa aos 250 anos da cidade. E se esses nomes de peso já poderiam, por si, movimentar a cidade, que dirá em um dos pontos mais queridos da Capital.
Quando a reportagem chegou por volta das 16h50min no local, a Orla já tinha intensa movimentação. Passando por entre famílias que tomavam chimarrão, casais que aproveitavam os cerca de 27ºC e praticantes de esportes, o palco ficava perto da beira, ao lado do restaurante 360. O número de pessoas nos arredores era visivelmente maior do que na frente do palco — e, no Guaíba, diversas lanchas e até alguns barcos já estavam parados.
Antes mesmo de começar o show, diversos representantes do esporte apresentaram ao público um flashmob dos 250 anos da cidade. Marcou presença também o secretário extraordinário executivo Rogério Beidacki, nomeado para cuidar das celebrações dos 250 anos.
— A gente olha e vê uma nova Porto Alegre. Quem de vocês ainda não fez uma foto de lá (na beira)? Tem que fazer, gente. Porto Alegre nesses 250 anos, é uma virada de chave. Não é só o poder público que tem que mudar a cidade, vocês também tem que mudar a cidade. Mas vocês não vieram aqui para ouvir discurso, vieram aqui para ouvir Vera Loca! — disse Beidacki.
"Tente outra vez / Amanhã pode ser bem melhor "
Cantando uma verdadeira injeção de esperança, às 17h15min, Vera Loca entrou no palco com Amanhã Pode Ser Bem Melhor. Tocou sucessos como Palácio de Enfeites e Velocidade, fazendo o público ecoar por todo o espaço o "da da da di ra da da" de Grafitti.
No entanto, 2022 não marca apenas o aniversário de Porto Alegre: é, também, o ano que Vera Loca completa 20 anos.
— Muita coisa a gente aprendeu nesses anos parados. E uma coisa muito simples, mas que acaba esquecendo, mas não tem como não ter se ligado: no hoje, esta tarde, o dia a dia, principalmente ao lado das pessoas que a gente ama, ao lado da nossa família. Então, em nome de toda a Vera Loca, estamos todos felizes de fazer parte dos 250 anos e poder sair sem máscara, porque "a vida é de graça"! — disse Fabrício Beck, citando o nome da música que tocou a seguir.
A homenagem aos "borrachos" no show, é claro, não poderia faltar: também teve todo o público cantando, aos berros, a letra:
— E eu te esperarei / Borracho y loco / Baby até hoje eu não sei / Por que você foi embora.
Uma das espectadores de toda essa animação era Paula Leão, jornalista de 33 anos. Amante do rock gaúcho desde a adolescência, acompanhou a Vera Loca logo no início da banda, em uma época que, diz ela, era costume ter shows de graça em Porto Alegre.
— Vejo eles desde os meus 14 anos. Vi o evento pelo Instagram da prefeitura e vim para ver tanto o Vera Loca quanto o Rock de Galpão. O rock passou de pai para filha, e minha mãe sempre me incentivou a ir em shows — conta ela.
Além de poder curtir algumas de suas bandas favoritas — já que Rock de Galpão também é um de seus amores —, foi no evento que ela conseguiu reencontrar Patrick Brião, 36 anos. Amigos de longa data, já fazia 15 anos que não se viam por "questões da vida". Antes mesmo de ver o Vera Loca subir no palco, marcaram o momento refazendo uma das últimas fotos que tinham juntos.
Rock de Galpão
Após o show do Vera Loca, Hique Gomez entrou no palco ao lado do Rock de Galpão, mas o que se seguiu não foi uma apresentação — e sim, uma memória. No telão, imagens de pessoas indígenas e construções de diferentes povos foram mostradas ao público.
— Neste momento, chamo os espíritos do índios que viveram nestas margens — anunciaram.
Hique assumiu o vocal da primeira música, mas ao longo do espetáculo também deixou o palco. Em um mix de canções autorais e covers, músicas como Castelhana e Entrando no Bororé, da banda Quero Quero, tomaram conta da orla. Ainda que o espaço não estivesse tão movimentado quanto à tarde, as arquibancadas seguiam lotadas, ainda haviam lanchas atracadas e bastante público de pé.
Mas uma das coisas que todo gaúcho sabe, é que quando toca Amigo Punk, da Graforréia Xilarmônia, ninguém fica parado. E foi assim que todo o público, aos berros, cantou:
— Amigo punk, escute este meu desabafo / Que a esta altura da manhã já não importa o nosso bafo / Pega a chinoca, monta no cavalo e desbrava essa coxilha / Atravessa a Osvaldo Aranha e entra no Parque Farroupilha.
Sem explicar, os membros da banda pediram que cada uma das pessoas presentes ligasse a lanterna do celular. Na sequência, tocou a clássica Eu Sou do Sul, interpretada originalmente pelo grupo Os Serranos.
Não teve jeito: o público pediu bis e a banda teve que atender. Antes de se despedir oficialmente, ainda tocaram Eu Reconheço Que Sou Um Grosso, de Gildo de Freitas. Encerrando a programação da noite, interpretaram Guri, também de Os Serranos, deixando para trás o público que, às 20h25min, terminava de aplaudir o show.
Este, no entanto, não é o fim da semana de comemoração aos 250 anos de Porto Alegre. Na terça-feira (29), às 16h30min, a orla do Guaíba recebe a apresentação do Esquadrão de Demonstração Aérea — conhecido popularmente como Esquadrilha Aérea. Depois, na quarta-feira (30), às 12h, o Largo Glênio Peres será palco de uma bênção inter-religiosa para a cidade. Por fim, na sexta-feira (1º) ocorre a tradicional Descida da Borges com escolas de samba da Capital, a partir das 18h30min.