Já faz alguns meses que a prefeitura de Porto Alegre enfrenta uma batalha silenciosa contra os “sommeliers de vacina” — aquelas pessoas que querem escolher se receberão a dose da AstraZeneca, CoronaVac, Janssen ou Pfizer e, se o imunizante que elas preferem não está disponível, rejeitam a picada. O município não chegou a fazer campanhas nesse sentido por medo de incentivar, sem querer, a população a fazer esse tipo de escolha. Porém, com o aumento no número de pessoas adotando a prática, representantes da prefeitura começaram a falar a respeito.
A primeira estratégia adotada foi parar de divulgar qual vacina está sendo oferecida em cada unidade de saúde. Depois, as equipes de vacinação passaram a orientar as pessoas que chegavam aos postos, explicando que todos os imunizantes são eficazes e que é importante receber a dose o quanto antes.
Segundo o diretor adjunto da Atenção Primária da Capital, João Manoel Assunção, geralmente as pessoas que querem escolher vacina sequer chegam ao vacinador, pois param no profissional que faz a conferência dos documentos.
— É na conferência que o cidadão pergunta e damos a orientação de que todos os imunizantes disponíveis foram testados e aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que têm eficácia comprovada e que escolher vacina tranca o processo de imunização em massa — relata o diretor.
Mesmo com a orientação, Assunção diz que poucos são os que ficam — preferem esperar e tentar de novo em outra unidade de saúde — e que, quanto maior a diversidade das vacinas que chegam aos postos, mais as pessoas querem escolher e acabam rejeitando determinados imunizantes. A estratégia de não divulgar a marca das vacinas oferecidas para a primeira dose em cada local da cidade ajudou um pouco, pois há quem não queira enfrentar uma nova fila, mas a situação ainda preocupa.
— Não se tem muito o que fazer. O que nos resta é conscientizar de que o momento é grave, que temos de ficar com o alerta ligado e de que vacina boa é vacina no braço — resume o diretor.
A prefeitura não tem uma estimativa específica de quantas pessoas deixaram de receber vacinas por rejeição a alguma marca, mas calcula que entre 10 mil e 13 mil pessoas que já têm direito à segunda dose não compareceram às unidades de saúde. Nesse número estão incluídos aqueles que podem ter buscado a dose em outro município, os que ainda não foram contabilizados no sistema digital e os “sommeliers”, que têm a expectativa de que, uma hora ou outra, tenha início um novo ciclo vacinal e eles sejam imunizados com a marca que desejam
Como ocorre a distribuição das vacinas
Alguns públicos-alvo têm prioridade para receber doses de determinados imunizantes. As gestantes e as puérperas (que deram à luz há 45 dias ou menos), por exemplo, têm direito a receber a aplicação da Pfizer ou da CoronaVac, já que a oferta de AstraZeneca foi suspensa para elas. Já os rodoviários são prioritários no recebimento da dose única da Janssen.
O critério de distribuição das vacinas entre os postos tem como base a estrutura disponível no local. A Pfizer precisa de uma organização estrutural maior e normalmente é enviada para 12 unidades de saúde onde é possível fazer um cadastro 100% digital das pessoas vacinadas e onde há equipes técnicas capacitadas para fazer a manipulação das doses — mais complexa do que a de outas fabricantes.
As outras marcas – AstraZeneca, CoronaVac e Janssen – são enviadas às unidades de saúde em remessas iguais, conforme os lotes chegam, de acordo com Assunção. O número de vacinas é definido com base na população da região e na capacidade vacinal daquele posto.