A pandemia de coronavírus vai silenciar, em 2021, o samba de pelo menos nove baterias ligadas ao Carnaval de Porto Alegre. Em decisão anunciada na segunda-feira (30) – e adiantada com exclusividade pela colunista do Diário Gaúcho Liliane Pereira – a União das escolas de Samba de Porto Alegre e Região Metropolitana (Uespa) anunciou que suas agremiações filiadas decidiram cancelar os desfiles de 2021. A Uespa representa nove escolas do Carnaval de Porto Alegre: Acadêmicos de Gravataí, Bambas da Orgia, Comanches, Copacabana, Filhos de Maria, Imperadores do Samba, Imperatriz Dona Leopoldina, Império do Sol e Unidos de Vila Isabel.
A Capital possui outro órgão representativo de escolas, a União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (UECGAPA), da qual também fazem parte as escolas do Grupo Ouro Império da Zona Norte, Estado Maior da Restinga, Fidalgos e Aristocratas e União da Vila do IAPI. Segundo seu presidente, Marcos Vinicius Pires, o Quinho, as entidades se reunirão nesta terça-feira (1º) para tomar uma decisão sobre o ano que vem.
Sem renda
Presidente da Uespa, Rodrigo Costa afirma que as escolas já vinham amadurecendo a decisão há algum tempo.
– O combinado era que a gente esperaria até o final de outubro para ver a situação (da pandemia). Daí, adiamos para novembro. Neste último período, houve crescimento das infecções, e vimos que ficaria cada vez mais difícil. É importante ressaltar que essa é uma decisão das escolas filiadas à Uespa. Como existem outras entidades, elas podem tomar outro rumo. Mas, mesmo se houver Carnaval, não vamos desfilar – afirma Rodrigo.
A possibilidade de organizar o desfile vinha diminuindo conforme o tempo passava. À frente da Imperadores do Samba, Érico Leoni afirma que, para produzir o Carnaval, as escolas contam com a renda obtida com as atividades de quadra. Mas os eventos do gênero não estão sendo possíveis, em função das restrições impostas para frear o contágio.
– Em Porto Alegre, realizar o Carnaval depois de março é muito difícil. Com a pandemia, não poderíamos fazer eventos em dezembro, por exemplo. O tempo seria escasso – explica.
Respeito pelas perdas
Além da questão do tempo e da impossibilidade de fazer eventos para angariar fundos, o cancelamento do desfile por parte das nove escolas também tem um lado humano. Presidente da Bambas da Orgia, atual campeã da folia na Capital, Nilton Pereira afirma que a própria escola enfrenta o luto, pela perda de componentes em função da covid-19.
– Perdemos uma diretora de ala, um membro da bateria, e sabemos que outras pessoas que ficaram doentes e se recuperaram, ou perderam familiares. Nós ficamos muito consternados. Fora os números que a imprensa mostra todos os dias. São mais de 170 mil mortos no Brasil, e não terminou. Isso nos faz refletir. É difícil encaminhar uma festa dessa dimensão com todos estes aspectos desagradáveis – diz Nilton.
Érico concorda:
– O Carnaval não poderia ficar à margem do sofrimento das pessoas. Em todas as escolas, alguém perdeu um familiar, um amigo. Em respeito a elas e ao luto, tomamos essa decisão. Isso é incompatível com o Carnaval.
Com isso, o foco das agremiações, agora, está em 2022.
– Já que adiamos, vamos aproveitar o tempo para um balanço, uma reestruturação. Vamos estudar como melhorar, como ter mais segurança na realização do evento – finaliza Rodrigo.