A Uber baniu da sua plataforma um motorista gaúcho suspeito de ato de racismo. A decisão foi tomada nesta semana, após a empresa cruzar o relato de testemunhas com dados da corrida que ele deveria ter efetuado, mas não realizou.
A queixa foi registrada na Polícia Civil pelo líder comunitário Lidionei Santos, que mora e atua em comunidades pobres do bairro Cruzeiro, em Porto Alegre. Ele assegura que o condutor do veículo desistiu da corrida ao baixar os vidros e verificar que o cliente é negro e estava em frente a uma delegacia de polícia.
— Ele não me deu explicações. Disse apenas “Não vou te levar”, trancou a porta e saiu arrancando, cantando pneu, como se eu fosse alguém que o ameaçava. Eu estava bem vestido, tinha um policial e uma advogada próximos de mim, mas ele não quis me levar. Bastou ver a cor da minha pele — desabafou Santos, em entrevista a GZH.
O fato aconteceu por volta das 22h da última sexta-feira (18), logo após Santos registrar queixa na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (da Polícia Civil) situada na Avenida Ipiranga. O pai dele fora assaltado meia hora antes e levou um tiro no rosto. Foi socorrido por policiais e levado ao Hospital de Pronto Socorro. Assim que soube que a situação do pai era estável, Santos registrou a ocorrência por roubo, no balcão policial. Concluiu, chamou um Uber e aí teve o desgosto de ter a corrida recusada sem explicação.
No fim de semana, GZH localizou a advogada Árima da Cunha Pires, que assistiu à cena e confirma tudo que Santos disse. Os dois não se conheciam.
— Aquele senhor (Santos) estava parado com o celular na mão. Daí o carro parou e ele se aproximou para entrar, e o motorista arrancou. Não ouvi exatamente as palavras, mas achei estranho. Daí perguntei o que houve e ele me respondeu que o motorista não quis fazer a corrida porque se tratava de um negro. E acredito nisso. Uma atitude detestável. Fosse policial, tinha dado ordem de prisão ao motorista, na hora — desabafou Árima.
Um PM também teria visto o abandono da corrida e testemunhado a favor do líder comunitário.
Santos salvou, na tela do celular, a placa do veículo que o deixou na mão (um Gol locado) e os dados da corrida solicitada e que não foi realizada, assim como o nome do motorista. Tudo foi registrado na polícia.
A empresa Uber afirma que a checagem demorou um pouco porque Santos não é o titular do aplicativo: a corrida foi solicitada por uma amiga dele. A mulher confirmou os dados e formalizou a queixa por racismo, num dispositivo que a plataforma disponibiliza aos usuários.
A Uber considera "inaceitável" a discriminação relatada pelo usuário. Em nota, a empresa declarou:
"Ressaltamos sempre a importância de reportar esses incidentes à Uber pelo próprio aplicativo, para que possamos tomar as medidas necessárias. Este tipo de comportamento configura violação ao Código de Conduta da Comunidade Uber. A conta do motorista em questão foi desativada da plataforma e a empresa está à disposição para colaborar com as autoridades responsáveis para investigação do caso. Sabemos que o preconceito, infelizmente, ainda permeia a nossa sociedade e que cabe a todos nós combatê-lo. Como parte desses esforços a Uber lançou, por exemplo, o podcast Fala Parceiro de Respeito, em parceria com a Promundo, com conteúdos educativos sobre racismo. Além disso, em parceria com as advogadas da deFEMde, a empresa revisou o processo de atendimento na plataforma, a fim de facilitar as denúncias de racismo e acolher melhor o relato da vítima."
O líder comunitário Santos não descarta ingressar com ação judicial, pela demora em receber uma satisfação sobre o caso.
Como denunciar racismo na plataforma Uber
— Para reportar um incidente na plataforma da Uber, o usuário pode acessar a opção "Suas Viagens", clicar na viagem específica e, no menu "Ajuda", escolher “Reportar um incidente de segurança”, ou pelo site uber.com/ajuda. A Uber conta com uma equipe de suporte disponível 24/7, que analisa individualmente caso a caso.
— A Uber ressalta que, de acordo com os Termos e Condições de uso do aplicativo, as contas de usuários são pessoais e não podem ser emprestadas a outras pessoas ou utilizadas para chamar viagens para terceiros.