A ciclovia da Avenida Ipiranga está de aniversário. Neste sábado, completam-se quatro anos da inauguração do primeiro trecho da pista exclusiva para ciclistas em uma das principais vias de Porto Alegre. A comemoração, entretanto, está longe de ser completa. Ciclistas reclamam da falta de manutenção do local e do não cumprimento de prazos. Segundo as primeiras previsões da prefeitura de Porto Alegre, a extensão total da obra – o que inclui o trecho entre a Silva Só e a Salvador França, que ainda não saiu do papel – deveria ter sido concluída no final de 2012.
Os 2,8 quilômetros entre a Edvaldo Pereira Paiva e a Silva Só, por exemplo, são marcados por piso escorregadio – responsável por tombos principalmente em dias chuvosos –, rachaduras, sinalização problemática e até uma casa improvisada de moradores de rua em frente ao Palácio da Polícia.
Diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari relativiza os problemas apontados, garante que é feita "manutenção continuada" na ciclovia e promete uma revisão na pista, que será feita em parceria com a Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov) na segunda quinzena de maio.
– São pequenas coisas: alguns desníveis e rachaduras, ajustes no guarda-corpo. Correções normais – resume. Sobre o piso escorregadio, avalia como normal que se tomem "cuidados extras" quando há chuva.
Via para ciclistas já nasceu em meio a controvérsias
Desde a primeira pedalada, a ciclovia da Ipiranga despertou polêmicas. Na ocasião, a inauguração de um trecho tão curto virou motivo de piadas na internet. Após percorrer os 416 metros do trajeto, entre as avenidas Erico Verissimo e da Azenha, em 7 de maio de 2012, o prefeito José Fortunati virou meme ao pedalar na contramão.
Antes mesmo da inauguração, a via exclusiva despertou sentimentos contraditórios entre os porto-alegrenses, por conta da escolha do guard-rail. A controvérsia ocorreu por causa do modelo apresentado inicialmente pela prefeitura, produzido com toras de eucalipto, alvo de duras críticas de arquitetos e urbanistas. Após debate, a prefeitura acabou optando por usar plástico reciclável.
– A ciclovia foi pensada para o lazer, e não para o uso da bicicleta como meio de transporte. Em geral, a pista não tem manutenção alguma. Não é só má vontade, é falta de gestão – critica André Gomide, representante da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mobicidade) no conselho gestor do Fundo Municipal de Apoio à Implantação do Sistema Cicloviário.
No outro extremo da avenida, entre a Salvador França e a Avenida Antônio de Carvalho – trecho que também foi entregue com atraso –, a situação é outra. Apesar da ausência de guard-rail em grande parte da extensão, o trajeto é bem sinalizado. E o pavimento, devido à ausência da tinta vermelha, não é escorregadio como no outro trecho.
– Ali há um pouco mais de cuidado. Está bem aceitável – afirma Gomide.
Um "vazio" entre os dois trechos concluídos da ciclovia
O pesadelo dos ciclistas está entre a Silva Só e a Salvador França. Por lá, nada foi feito até momento. Nesse trecho, é preciso disputar espaço na avenida com carros, motos e ônibus. Ou pedalar por um caminho improvisado, que não conta com estrutura para receber os ciclistas. Ao lado do Arroio Dilúvio, há uma trilha no meio da grama, de tanto que circulam bicicletas por ali.
No mês passado, a previsão da EPTC era de que os trabalhos nesses 2,7 quilômetros começassem no segundo semestre deste ano. Cappellari, entretanto, foi mais cauteloso na última quarta-feira: ele não garante o início das obras em 2016. O Grupo Zaffari é o responsável pelo trecho, como contrapartida à autorização para novos empreendimentos. A empresa, porém, ainda não teria aprovado os projetos para o início dos trabalhos, conforme Cappellari. A EPTC diz estudar, junto à Procuradoria-Geral do Município (PGM), retirar da companhia a obra.
– Temos todo o interesse em concluir, mas não temos como colocar um calendário – diz Cappellari.
Segundo a PGM, o termo de compromisso da contrapartida ainda não foi assinado. A Procuradoria informou ainda que, para uma eventual mudança de empresa da obra, é necessária a aprovação da Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento do município.
Procurado, o Grupo Zaffari afirma que "está tramitando junto à municipalidade projetos de novos empreendimentos que, após aprovados e liberados, gerarão a obrigação de execução de trechos de ciclovia, conforme a atual legislação". A companhia salienta que, "devido à complexidade da tramitação, ainda não foram concluídos estes processos".
De acordo com Cappellari, se não for finalizada a totalidade da ciclovia da Ipiranga até o final do ano, possivelmente a prefeitura não atingirá a meta de 50 quilômetros de pistas exclusivas para ciclistas previstas para 2016.