Substituído por postes com lâmpadas de LED desde a semana passada, o conjunto de luminárias da década de 1940 do canteiro central da Avenida Borges de Medeiros, no trecho sob o Viaduto Otávio Rocha, foi retirado para restauração. Não há garantia, no entanto, de que os porto-alegrenses voltarão a vê-lo no mesmo local depois dos reparos.
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Segundo o titular da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov) da Capital, Rafael Fleck, a questão deverá ser discutida com a Equipe de Patrimônio Histórico. Não se descarta que as luminárias antigas sejam colocadas em outra via do Centro Histórico.
– Vamos discutir com o Patrimônio se voltam para lá ou vão para outro lugar que já teve esse tipo de iluminação no passado. Também tem a questão dos postes, que foram retirados para a colocação das novas luminárias. Caso as antigas voltem, postes novos terão de ser instalados – pondera Fleck.
Ao todo, 12 luminárias – seis conjuntos de duas – foram retiradas da Borges de Medeiros. De acordo com o secretário, os modelos antigos, bastante danificados, ofereciam risco à segurança de quem circula na região.
Pelo menos até o fim do ano, nada mais deve mudar na iluminação do canteiro central da Borges. O trabalho de restauro, segundo a Smov, está em fase de especificação técnica, o que deve levar, pelo menos, 30 dias. Depois disso, será aberto o processo de licitação, que pode levar de 90 a 120 dias. Também está sendo feito um levantamento de empresas para fazer o trabalho de restauração. A ideia é tentar encontrar uma opção dentro do Estado.
– Parece que há empresas em Caxias que trabalham com o material usado nas luminárias. Mas, daqui a pouco, tem algum servidor da própria secretaria que tem condições de restaurar – disse o secretário.
Para o coordenador da memória cultural de Porto Alegre, Luís Custódio, antes de tudo, é preciso ver se os materiais poderão ser recuperados com um orçamento razoável. Ele sinaliza que, no caso de haver o restauro, o Patrimônio defenderá que as luminárias retornem ao trecho sob o viaduto.
– O custo de restauro é muito alto, e luminárias e postes são um produto industrial, não obras únicas. Não devem ser tratados como obra de arte – disse.
Moradores exigem reposição dos seis conjuntos antigos
Se para a prefeitura o retorno das luminárias da década de 1940 à Borges não é certeza, para os moradores do entorno, o assunto já foi discutido e definido. Segundo a presidente da Associação Comunitária de Moradores do Centro Histórico, Ana Maria Lenz, a nova iluminação foi aprovada apenas em caráter provisório.
– Em uma reunião na semana passada, o secretário informou que as antigas retornariam após o restauro. É exigência nossa que elas sejam recolocadas, conforme combinado – disse, sobressaltada.
A Smov não quis comentar o posicionamento da associação de moradores.
O conjunto de luminárias retirado da Borges de Medeiros, produzido na Inglaterra nos anos 1940, pode não retornar à via. Mas isso não significa que um dos locais mais emblemáticos de Porto Alegre esteja fadado à descaracterização.
Para especialistas, se o ideal seria ver as luminárias restauradas de volta ao local de origem, por outro lado, adaptações que respeitem a harmonia do conjunto arquitetônico – que engloba o Viaduto Otávio Rocha – também são bem-vindas.
– O passado é uma evocação da memória, não uma autoridade. A luz de LED, por exemplo, é mais econômica e melhor para o ambiente. Mas a iluminação nova está discrepante. Seria melhor um modelo menos agressivo – avaliou o historiador e arqueólogo Francisco Marshall.
Para o doutor em história da arte José Francisco Alves, é preciso avaliar se vale a pena investir no restauro de um objeto industrial relativamente recente, como as luminárias da Borges. Ele também defende que o espaço que engloba o Viaduto Otávio Rocha e o canteiro central da avenida seja visto como um todo:
– O viaduto merece iluminação especial. Nada impede que seja nova, desde que o projeto seja integrado.
* Zero Hora