Autor do livro Hacking the Future: Privacy, Identity and Anonymity on the Web ("Hackeando o Futuro: Privacidade, Identidade e Anonimato na Rede", ainda não traduzido no Brasil), o norte-americano Cole Stryker explica na entrevista a seguir porque é contrário às tentativas de proibir o anonimato na web.
Em entrevista ao caderno PrOA por e-mail, de Nova York, Stryker defende o direito à liberdade como princípio da própria rede, entendendo que eventuais abusos seriam o "´preço da liberdade":
O senhor afirma que, na próxima década, o "campo de batalha principal" na web será o espaço da identidade. Qual é o principal desafio?
O principal desafio será o de preservar a capacidade de alguém expressar sua opinião anonimamente quando a estrutura das redes sociais e a vigilância estatal estiver trabalhando contra isso.
Como equilibrar o direito à privacidade com os riscos de anonimato na web?
Obviamente o anonimato permite que as pessoas façam coisas ruins, mas também é assim com muitas outras liberdades. As pessoas abusam, e vão continuar abusando, do anonimato, mas é o preço da liberdade. Eu não caracterizaria a questão como uma necessidade de equilíbrio.
O senhor disse que apenas legislar contra o anonimato não é uma solução - afinal, sempre haverá pessoas que conseguirão ficar um passo à frente da lei e permanecerão ocultas. O que, em sua opinião, deveria ser feito?
No nível estatal, não acho que nada deva ser feito, pela razão que você indicou aqui. Penso que as companhias podem fazer um trabalho melhor em policiar suas comunidades para prevenir os tipos de assédio de baixo nível e de trolagem que infestam suas plataformas. Mas essa é uma prerrogativa deles.
No Brasil, nota-se um aumento das manifestações de ódio em comentários anônimos postados na rede. Recentemente, por aqui, tivemos uma situação em que um grupo usou perfis falsos para produzir ataques racistas contra uma jornalista negra, apresentadora de TV. Como se pode reduzir esta má influência do anonimato?
Como eu já disse, as empresas de mídia social como Twitter e Facebook podem fazer um trabalho melhor para desencorajar este tipo de comportamento. Criando sistemas de segurança tanto automatizados quanto humanos. No entanto, expor a identidade de todo mundo não é a resposta. No fim das contas, a maioria dos casos de cyberbullying ocorre entre pessoas que se conhecem na vida real.
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O aumento do uso de robôs de mídia social é outra preocupação hoje em dia. No Brasil, esse assunto ganhou relevância nas últimas eleições, quando robôs foram usados pelos partidos para influenciar a opinião das pessoas. O que o senhor pensa da proliferação de robôs na web?
Veremos mais disso no futuro. Não tenho uma opinião, para nenhum lado. É um dever das plataformas tornar suas comunidades propícias para a discussão e a participação de questões civis. Eles vão desenvolver tecnologias para eliminar robôs, se quiserem preservar isso.
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