Para além da energia eólica, das marés e da previsão do tempo, a força dos ventos é um aspecto fundamental no planejamento de qualquer cidade. Seus efeitos têm influência no desenho de prédios, na estabilidade de pontes, na eficiência dos aviões, em aplicações que vão da construção civil ao esporte. Os ventos, afinal, são capazes de moldar estruturas - e estudá-los é garantia de segurança.
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Esse é um trabalho para a engenharia dos ventos: um tema que, a partir de domingo, traz especialistas internacionais para Porto Alegre. Até a próxima sexta-feira, cerca de 500 conferencistas de 33 países participarão da 14ª edição do Congresso Internacional de Engenharia do Vento (ICWE, na sigla em inglês), que pela primeira vez será realizado na América do Sul. O evento vai tratar de assuntos como aerodinâmica, meteorologia, poluição e até bem-estar.
- Considerando-se as modernas estruturas sujeitas aos ventos, a estabilidade raramente é um problema. Evoluímos muito nesse sentido. O que preocupa mais atualmente é o movimento induzido pelo vento, algo crítico em prédios mais altos, por exemplo, que tornam o conforto um desafio - explica Chris Letchford, professor do Instituto Politécnico Rensselaer, no Estado de Nova York (EUA), que será um dos palestrantes.
O desafio em arranha-céus, por exemplo, está em manter a solidez em cada andar - nada de balançar por conta de uma ventania mais forte. A temperatura interna também não pode ser diferente da base ao topo, ainda que o exterior vá esfriando conforme se chega mais alto. No solo, busca-se evitar pontos onde a confluência de ventos faça chapéus voarem, priorizando o bem-estar dos pedestres.
A intensidade dos ventos é algo que varia dependendo da região. Em geral, quanto mais perto dos extremos, maior sua força - e as construções precisam ser projetadas de acordo. Determinar o impacto dessas rajadas nas estruturas é um trabalho feito em laboratório, no chamado "túnel de vento".
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Um dos poucos disponíveis no país está localizado no Laboratório de Aerodinâmica das Construções (LAC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que identificou problemas e orientou mudanças em projetos como a Arena do Grêmio e a reforma do Beira-Rio. No primeiro, a cobertura foi trocada para que não carregasse tanto vento; no segundo, a preocupação foi com o deslocamento estrutural da cobertura, que acabou modificada.
- A principal preocupação da engenharia dos ventos é com a segurança. Qualquer vidro estilhaçado ou cabo que solte pode comprometer uma vida, e trabalhamos para evitar esse risco - diz Acir Mércio Loredo-Souza, diretor do laboratório e presidente da Associação Brasileira de Engenharia do Vento.
* Zero Hora