Estabelecimento permaneceu fechado na sexta-feira
Foto: Marcelo Gonzatto
Sob a aparência de um bar comum, um estabelecimento vendia drogas a adolescentes por meio de um insólito sistema de distribuição em Porto Alegre.
Garçons especializados em servir maconha ou cocaína aos clientes, quase todos jovens, movimentavam pelo menos R$ 3 mil por dia, segundo a Polícia Civil - que prendeu o dono do bar e três funcionários em flagrante no começo da madrugada de sexta-feira.
Em funcionamento há mais de duas décadas, o Bar e Cachaçaria do Nelson, localizado perto de uma escola pública e duas particulares no bairro Boa Vista, costumava ser frequentado por estudantes a partir de 13 anos.
- O bar fornecia drogas para adolescentes. Atendia, inclusive, muitos guris e gurias ricos, filhos de empresários - conta o titular da 1ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), Mário Souza.
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Por meio de denúncias feitas por vizinhos, pais e moradores da região, o Denarc iniciou uma investigação que durou cerca de dois meses. Disfarçados, quatro policiais passaram a frequentar o local equipados com câmeras discretas que registravam a movimentação no estabelecimento. O monitoramento indicou que o tráfico seria coordenado pelo dono do bar, Nelso Antônio Mignoni, 62 anos, e operacionalizado por três garçons "especializados".
Um deles, Getúlio Nery, 58, seria responsável por repassar a cocaína. Selmar Silva de Souza, 36, atenderia os pedidos de maconha. Igor Francisco Oppermann Roxo, 34, segundo a polícia, lidaria com os dois tipos de entorpecente.
Alguns dos pedidos eram feitos por meio de códigos. Quem desejava maconha, por exemplo, por vezes pedia "um pra relaxar". Os baseados eram inseridos em carteiras de cigarro comum para chamar menos atenção, mas a discrição acabava aí. O bar vendia camisetas próprias com o desenho de folhas de maconha, e muitos clientes fumavam a erva no local.
- Alguns dias, eu precisava fechar a porta para evitar o cheiro - comenta a responsável por uma loja localizada alguns metros adiante, que prefere não se identificar.
Uma moradora do condomínio localizado à direta do estabelecimento, que também pede anonimato, lembra que até abaixo-assinados foram organizados na vizinhança para pedir o fechamento do bar.
- Nesse lugar sempre teve baixaria, e todo mundo sabia. Finalmente, fizeram alguma coisa - comentou.
No local, foram apreendidos papelotes de cocaína e de maconha. Os quatro detidos tiveram prisão preventiva decretada. Eles foram enquadrados por tráfico, porte de objetos para preparar droga e associação para o tráfico. A pena mínima somada, de 11 anos de prisão, pode aumentar de um sexto a dois terços em razão da proximidade com as escolas. Nenhum dos presos quis dar declarações aos policiais.
A Operação "Anjos da Lei"
- A prisão do dono do bar e dos três garçons faz parte de uma operação permanente do Denarc chamada Anjos da Lei. Conforme o diretor do Denarc, Emerson Wendt, o objetivo é coibir o tráfico na proximidade de escolas.
- Desde o começo do ano, mais de 50 pessoas já foram presas pelas ações da Anjos da Lei.
- As denúncias de tráfico que envolvem locais perto de colégios recebem prioridade do Denarc, segundo o delegado Mário Souza, independentemente da quantidade de droga envolvida
- Denúncias anônimas envolvendo o tráfico podem ser encaminhadas para o telefone 0800-518518.