No primeiro ano à frente da organização do Carnaval de rua da Cidade Baixa, a prefeitura de Porto Alegre promete puxar as rédeas da folia no bairro boêmio. Após uma reunião com representantes do poder público, entidades e moradores dos bairros Cidade Baixa e Ipanema, o vice-prefeito Sebastião Melo sinalizou que haverá mudanças, mas não detalhou quais.
- É verdade que na Cidade Baixa tem havido excessos. E esses excessos criaram um clima que se refletirá no Carnaval agora - indicou Melo.
Conforme Melo, os "excessos" que têm tirado o sossego dos moradores do bairro seriam as aglomerações na rua sem organização prévia nem autorização da prefeitura, que marcaram a rotina da Cidade Baixa em 2014. Para evitar um repeteco no Carnaval, quando "os nervos afloram", segundo o vice-prefeito, a prefeitura quer regular a brincadeira nas ruas do bairro.
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Uma das saídas propostas por representantes dos moradores que participaram do encontro com a prefeitura nesta segunda-feira foi a alteração da dispersão dos blocos, para levar os foliões para fora da Cidade Baixa em vez de fomentar a continuação da festa no bairro depois do fim das apresentações.
- Quando a dispersão é bem no centro (do bairro), a tendência é que as pessoas continuem ali - disse Melo.
Segundo o vice-prefeito, as datas inicialmente sugeridas pelos blocos ao secretário da Juventude Luizinho Martins, que deixará o cargo no fim de janeiro, também terão de ser revistas. O motivo seria a falta de efetivo da Brigada Militar para acompanhar todos os eventos nas datas propostas.
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Depois da reunião desta segunda, o grupo SOS Cidade Baixa, comunidade virtual criada por moradores do bairro, publicou uma postagem comemorando os desdobramentos do encontro. No texto, o grupo defende a realização de quatro eventos:
"A nossa posição é fechar com a Brigada em no máximo 4 eventos na Cidade Baixa (com dispersão às 22h e longe do bairro) e convencer os blocos e empresários (tanto de bares quanto empresas tipo Unimed, Net Skol, etc.) de que essa é a cota máxima possível."
Assim como as datas, o trajeto a ser percorrido pelos blocos carnavalescos, que também foi discutido, deve voltar à pauta em uma terceira reunião: a primeira, dias atrás, contou apenas com integrantes da prefeitura, e a segunda, realizada nesta segunda-feira, com representantes dos moradores e entidades. O terceiro encontro ocorrerá nesta terça-feira e será o primeiro a incluir representantes dos blocos.
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A prefeitura adiantou, ainda, que não deve oferecer verba pública para a folia na Cidade Baixa. Instalação de banheiros químicos, aparelhagem de som e outras questões de infraestrutura dependerão de patrocínio. Além da Ambev, que participou em 2014, a prefeitura está em tratativas com a NET para tentar viabilizar recursos. O empresariado do bairro também foi convidado a investir.
No ano passado, quando o evento foi organizado pelo Cidade Baixa em Alta e contou com apoio da prefeitura, o poder público investiu, por meio da Secretaria Municipal da Juventude, R$ 200 mil no evento. Ainda assim, a verba era mais de 30 vezes inferior aos R$ 6,7 milhões disponibilizada para o desfile das escolas de samba no Porto Seco.
Para representantes de blocos tradicionais, como o Maria do Bairro, que levou mais de 50 mil às ruas em 2014, a falta de investimento não será empecilho para o desfile:
- Tem algumas indefinições por parte da prefeitura, mas a gente nunca contou com o apoio da parte deles na organização. Não sabemos o que vai acontecer, se vai ter estrutura ou se terá proporções menores. Mas que o bloco vai estar na rua, vai - adiantou Zeca Brito, um dos criadores do Maria do Bairro.
Conforme Brito, o grupo terá duas saídas: o pré-Carnaval, previsto para o dia 17 de janeiro, no Areal da Baronesa, e o Carnaval do Maria do Bairro, inicialmente negociado para o dia 31 do mesmo mês, à esquina das ruas General Lima e Silva e Sofia Veloso.
De volta após um período de recesso, o Turucutá ainda não definiu a data em que a batucada deve ir para a rua durante o Carnaval. O grupo, que participou das apresentações derradeiras em 2014, projeta o mês de março.
- A princípio temos 8 ou 15 de março. Tivemos um primeiro contato (com a prefeitura) e ficaram de nos dar um retorno, mas, até agora, nada. Precisamos definir para começar a produzir (a apresentação) - conta Mauricio da Silva Dorneles, um dos coordenadores.
Ipanema não terá Carnaval, segundo vice-prefeito
O Carnaval no bairro Ipanema, na Zona Sul, está com os dias contados, segundo Sebastião Melo. De acordo com o vice-prefeito, representantes de duas associações de moradores da região que participaram da reunião com a prefeitura nesta segunda-feira solicitaram o fim das atividades carnavalescas no bairro.
- Os moradores defenderam que o bairro não tem vocação para Carnaval. Então não terá mais - disse o vice-prefeito.
*ZERO HORA