O patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, Luiz Coronel, reencontra o público. Nesta terça às 19h na Praça de Autógrafos ele lança o livro A Esperança e o Desalento: Poesia Social. Natural de Bagé, Coronel é formado em Direito e Ciências Sociais pela UFRGS. Sua produção inclui 52 livros, com destaque para a poesia universal e regional. Em parceria com atores e músicos, realiza recitais sobre poesia social brasileira e causos gaúchos. Também é membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Seu trabalho de contista chegou à televisão com o especial Filé de Borboleta e Outros Causos, na RBS TV.
Veja abaixo resenha da obra A Esperança e o Desalento: Poesia Social por Alcy Cheuiche, escritor e autor de Contos Contemporâneos 2012, que será lançado nesta terça, às 18h, no Memorial do RS.
Sento num banco da praça. Entre milhares de livros, abro este ao acaso. Um passante para de passar. E me pergunta: de quem é o livro? Ainda não sei. Não li. O passante continua a passar. Mas, afinal, quem dá corda aos relógios da história? Serão, por acaso, os heróis de decantada memória? Dormem em sono de bronze heróis que a história cultua. No árido chão cotidiano, os garis varrem as ruas.
Ergo os olhos, e ali está, não por acaso, o General Osório. Montado em seu cavalo de bronze. Polido pelos garis da memória. Se ele queria, de fato, o fim de todos os arsenais, só viu os ponteiros girando para trás. Cruas e nuas são as ruas. O dia avança. Na esquina, o beijo metálico entre um táxi e uma ambulância. O dia insípido tem a pulsação das britadeiras extraindo paralelepípedos.
Neruda tinha razão, só os poetas para fazer poesia com palavras assim. Quadradas, pesadas, feitas com as mãos. Mãos que sonham carícias e estão cansadas de despedidas. Pedra por pedra, os arquitetos da sombra estenderão seu reino, decretando o ostracismo do sol e o expurgo da lua. Irmão sol, irmã lua. Para que desceste do céu São Francisco, o pobre de Deus, e tu, Santa Clara, tão doce como os teus pasteis?
Como são pobres os pobres do meu país. Impúberes aqualoucos, a toalha do sol secando os corpos minguados. E o rosto da pobreza mirando-se no espelho dágua. Há um menino na sinaleira. A idade se conta nos dedos das mãos. E os velhos, meu poeta? Algum destes meninos conseguirá envelhecer.
Os velhos, ao encontrá-los, aplaudem. Aquele boné é uma lona de circo. Sob as lentes espessas dos óculos da velha dama, existe uma menina que nos espia. É bem diverso o calendário do coração. Releio o título do livro. Cerração baixa, sol que racha. A esperança começa a vencer o desalento. Será mesmo?
A esperança dormia, a sono solto, quando os fogos de artifício lhe concederam um despertar policrômico. Quando dezembro virar cambalhotas nos trapézios do tempo, haverá lençóis limpos e macios travesseiros aos que dormem sob as pontes e bueiros. Os homens hão de trocar dogmas e rancores por abraços, roçando o nariz sobre a linha imaginária das fronteiras. Cangaceiros perfumados. Santos Dumont pelo ar. Favelados viram príncipes. O Carnaval vai chegar.
Outro passante para de passar. Antes que me pergunte, eu respondo. É do Luiz Coronel. E continuo a ler o livro dele, na Feira dele, neste lindo entardecer de primavera.