
Um dia após a saída dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que entregaram os cargos na manhã de terça-feira (30), o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, avaliou que seria "absurdo" se as substituições estiverem relacionadas à ausência de alinhamento político das Forças Armadas com o Planalto.
— Querer que o Exército se alinhe politicamente é uma subversão da ordem, da coesão, da hierarquia. Exército não tem que se alinhar politicamente coisa nenhuma, tem que estar alinhado à Constituição, às políticas públicas — afirmou o militar em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (31).
De acordo com o general, há uma "narrativa" que coloca os militares como ferramenta de intimidação política no Brasil.
— A democracia é feita de jogo de forças. A sociedade pressiona, a imprensa pressiona. E nisso se via gente que falava em Forças Armadas. Mas na disputa política não tem que se falar nisso. As Forças Armadas não são uma ferramenta de intimidação política, de jogo de poder. Mas você tinha a todo instante esse tipo de narrativa — disse.
Na última segunda (29), o presidente Jair Bolsonaro confirmou seis mudanças na equipe de ministros, incluindo o Ministério da Defesa — com a substituição de Fernando Azevedo e Silva por Walter Braga Netto. A maneira como ocorreu a troca seria um dos motivos para as saídas do general Edson Pujol, do Exército, do almirante Ilques Barbosa, da Marinha, e do brigadeiro Antônio Carlos Bermudez, da Aeronáutica.
Na opinião de Santos Cruz, a sociedade deveria ter sido informada sobre o real motivo dessas mudanças, já que a falta dessa informação, para ele, "gera especulação".
— A saída dessas pessoas tem que ter uma razão. Tem que ser informada por uma questão de consideração com a sociedade — disse.
Ao final da entrevista, Santos Cruz não descartou a possibilidade de concorrer a cargos políticos no futuro, mas ressaltou que, neste momento, tem duas motivações:
— Uma é alertar sobre o fanatismo. Eu vivi cinco anos em lugares de conflito, sei o que é isso. Esse fanatismo que está sendo incentivado leva o país à violência, é perigoso. Outra coisa é não deixar o Exército ser arrastado pela política, o que estamos vendo o tempo todo.