SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça Federal decretou a quebra do sigilo telefônico do ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT) em uma investigação que apura possíveis beneficiários de R$ 40 milhões desviados da Cemig, a estatal mineira de energia.
A decisão foi tomada pela juíza Silvia Maria Rocha, da 2ª Vara Federal em São Paulo, especializada em crimes de lavagem de dinheiro. A quebra de sigilo telefônico é referente ao ano de 2014, quando Pimentel deixou o cargo de ministro do Desenvolvimento da gestão Dilma Rousseff para concorrer ao governo de Minas.
O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal no âmbito da E o Vento Levou 2, fase da Operação Descarte deflagrada nesta quinta (25).
A Polícia Federal apura suspeita de superfaturamento de R$ 40 milhões em um contrato de energia eólica da Renova Energia S.A, firma que havia recebido mais de R$ 800 milhões aportes da Cemig, com a empresa Casa dos Ventos.
Esses R$ 40 milhões, segundo as investigações foram escoados em contratos fictícios com outras empresas, convertidos em espécie e distribuídos a diversas pessoas.
Além da quebra do sigilo de Pimentel, também foi decretada a quebra de sigilo do ex-deputado Gabriel Guimarães (PT-MG), o principal alvo desta fase da operação, de Leandro Gonçalves, suposto operador do ex-parlamentar, e de dois delatores.
Também foi determinada busca e apreensão na casa de Gabriel, suspeito de ser o destinatário de parte dos recursos desviados.
Pimentel foi citado pelo delator Ricardo Assaf, diretor financeiro da Renova. Ele afirma, na colaboração, que em um jantar com Gabriel Guimarães em outubro de 2014 acertou de ser apresentado ao então governador eleito e ficou ajustado o repasse de R$ 2 milhões a Gabriel.
Esses valores, disse Assaf, foram entregues em espécie.
Ainda segundo os delatores, a Renova financiou camarote, transporte e hospedagem para convidados de Gabriel, no valor de R$ 220 mil, para o carnaval do Rio de Janeiro. Entre os convidados, estavam Pimentel e sua mulher, Carolina.
Foram mostradas trocas de mensagens de Whatsapp com a organização do transporte. Apesar de a Renova financiar o camarote, não havia publicidade da empresa no local.
O Ministério Público Federal pediu busca e apreensão também na residência de Pimentel, mas o pedido foi negado. Ela afirma que não há "menção expressa" nas delações de que o ex-governador solicitou valores ou vantagens à empresa.
"O único fato, até então apresentado, que possa demonstrar algum envolvimento do ex-governador com os fatos, consubstancia-se no financiamento de camarote pela Renova. No entanto, em nenhum momento fica evidenciado que Fernando Pimentel tenha tratado diretamente sobre o tema, nem sequer que tinha ciência de que o evento foi financiado pela Renova."
Na primeira fase da E o Vento Levou, os principais alvos foram aliados do também ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB), atualmente deputado federal.
A segunda fase, deflagrada hoje, cumpriu oito mandados de busca e apreensão em Salvador, São Bernardo do Campo (SP), Lauro de Freitas (BA), Milagres (BA) e Nova Lima (MG).
Os alvos são investigados sob suspeita dos crimes de associação criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Em nota, a assessoria do ex-governador Fernando Pimentel afirmou que "a investigação se debruça sobre fatos anteriores à gestão de Fernando Pimentel no Governo de Minas Gerais. O ex-governador desconhece o caso e não tem nem teve relações com a empresa Renova."
O ex-deputado Gabriel Guimarães não foi localizado pela reportagem.