As críticas do ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) ao PT voltaram a ganhar holofotes. Isso porque, na noite de segunda-feira (27), durante o 1º Congresso Nacional das Policiais Antifascismo, em Pernambuco, o pedetista criticou Lula e seu partido, e trechos de sua fala viralizaram nas redes sociais.
Um desses momentos foi quando Ciro discursava ao lado da deputada petista Maria do Rosário, também presente à mesa de debate. O ex-governador do Ceará disparou a frase "unidade é o cacete", em referência à ideia de que políticos de centro e de esquerda precisam se unir, devido ao atual momento do país.
Ciro conduzia sua fala tendo como mote questões da segurança pública. Ainda sobre o tema, em diversas oportunidades, alfinetou as gestões do Partido dos Trabalhadores no comando da nação. Além disso, fez reflexões sobre grupos políticos autoproclamados progressistas.
— Vocês sabem o que mudou na segurança pública do país entre 2002 e 2016? Nada! E se mudou, foi para pior — esbravejou.
Outros debatedores propuseram uma "unidade" entre diversos setores da esquerda. Na mesa, estavam também o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco, Áureo Cisneiro. Ciro Gomes, então, rebateu:
— Unidade para quê, cara pálida? Para fazer o mesmo? Não conte comigo.
Maria do Rosário solicitou a fala algumas vezes, e foi atendida por Ciro, às vezes em tom irônico:
— Sabe por que eu falo? É porque o presidente Lula não está aqui — justificou a parlamentar gaúcha, acrescentando que Ciro tem "de deixar de lado essa obsessão de falar de Lula".
O debate seguiu-se com Ciro criticando também as escolhas de PT na última eleição, como a opção de levar a candidatura de Lula até o último minuto possível e depois escolher Fernando Haddad para concorrer à Presidência, além da retirada da candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco por interesses políticos.
Maria do Rosário disse que o cearense "está magoado, e a mágoa não é boa conselheira".
Quando alguém da plateia rebateu falas de Ciro, o clima esquentou ainda mais. O pedetista subiu o tom pedindo ao público para deixar a paixão por Lula de lado.
— Maria do Rosário acha que se não fizer uma defesa patológica do Lula vai ser chamada de traidora. E eu não falei mal do Lula, pô! Eu falei que ele está condenado em segunda instância — exaltou-se Ciro.
Ao ouvir manifestação dos presentes pedindo por união, Ciro irritou-se e fez referências a acordos não colocados em prática pelo PT.
— Espera aí um pouquinho: unir o que? Quantos votos o PT apalavrou de dar ao Marcelo Freixo para presidente da Câmara e quantos deu? Eu conheço vocês... unidade é o cacete!
Em seguida, um policial presente disse que Ciro estava desrespeitando Maria do Rosário.
— Que conversa é essa de desrespeitar mulher, rapaz? Cacete, no Ceará, é um pedaço de pão. É uma espécie de cassetete.
O ex-ministro chegou a xingar o interlocutor, e logo conduziu sua fala para o final.
— Vou pedir desculpas se provoquei, e provoquei mesmo. É porque, ou a gente resolve a parada conceitual e busca recompor a hegemonia intelectual e moral perdida por nós no campo popular, ou tudo isso aqui vai ser um exercício de boa intenção. E o país de boa intenção está cheio, nós precisamos é de gesto, exemplo e ideia.
Ao final do evento, os políticos trocaram gentilezas entre si.
Procurada, a assessoria de Ciro Gomes afirmou que "todas as posições dele estão muito bem colocadas no debate".
A deputada Maria do Rosário afirmou que lamenta a discussão e destaca que o evento é "um encontro histórico por sua natureza".
— O que acabou saindo nas redes sociais é extrato daquele momento, mas não foi aquilo. O debate foi sobre segurança — afirmou. — Ciro desviou do assunto, como ele faz sempre, e eu lamento — complementou.