Após a rejeição de pelo menos cinco partidos da base (PP, PSD, PR, DEM e PRB) à intenção do Planalto de promover ampla reforma na Esplanada, trocando os ministros que pretendem ser candidatos nas eleições do ano que vem, o presidente Michel Temer tratou de minimizar o critério para determinar as trocas.
A pretensão às urnas dos atuais titulares era defendida pelos mais fortes ministros de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), como linha de corte. Mas, diante da reação negativa, o presidente passou a considerar novos cenários. Em conversas com aliados, afirmou que vai ouvir líderes da base e admitiu que é impossível adotar regra única para fazer reforma na extensão pretendida.
A possibilidade de substituições em ao menos 17 pastas foi apresentada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), após a demissão de Bruno Araújo (PSDB-PE) do Ministério das Cidades. No Twitter, o senador publicou: "A saída do ministro da Cidades precipita a discussão da reforma ministerial, tendo em vista que há ministério vago. Temer está avaliando e discutindo como vai fazer. Será uma reforma ampla, 17 ministérios vagos no prazo que o presidente determinar. Ele é quem vai definir o ritmo".
Moreira Franco também admitiu nesta quarta-feira (15) o estudo de alternativas ao afirmar que exonerar os ministros pré-candidatos "é bom para o país, mas nem tanto para o governo". Com isso, a tendência é abrir espaços para ressalvas ao critério eleitoral, nos casos de ministros que ainda não se definiram sobre a disputa em 2018, que são da cota pessoal de Temer ou que estão ameaçados por investigações. Um exemplo é Henrique Meirelles (Fazenda), fiador da política econômica do governo e presidenciável. Outros são Gilberto Kassab (Comunicações) e Marcos Pereira (Indústria e Comércio Exterior), ambos sem mandato e ameaçados pela Lava-Jato caso percam o foro privilegiado. Os três poderiam ficar em seus postos até abril, quando a legislação eleitoral exige que os futuros concorrentes deixem seus cargos.
Ainda pode virar requisito para dilatar o prazo das trocas a finalização de projetos importantes das pastas, permitindo que os titulares faturem na campanha os benefícios de medidas implementadas com a máquina federal.
Previdência vira moeda de troca
Ganha força também a possibilidade de vincular as substituições na Esplanada à aceitação da reforma da Previdência. Nesse caso, o presidente prometeria cargos, mas só os entregaria após a votação das novas regras para a aposentadoria. A proposta tem de ser aprovada em dois turnos na Câmara, por 308 dos 513 deputados, e no Senado, por 49 dos 81 parlamentares.
Auxiliares do Planalto ponderam a dificuldade de os parlamentares assegurarem esse compromisso sem contrapartida concreta, uma vez que mesmo o texto mais enxuto das mudanças na Previdência enfrenta resistência.
Cobrado pelo apoio à rejeição de duas denúncias contra si na Câmara, em especial pelo centrão, Temer já havia decidido antecipar a reforma ministerial para janeiro. A saída de Araújo, que alegou falta de apoio do PSDB, elevou a pressão e obrigou o presidente a precipitar a movimento. Com orçamento de R$ 10,1 bilhões, o Ministério das Cidades tem o PP como partido mais cotado para assumir, mas também é cobiçado por PMDB, PSD e DEM.
Das três pastas ainda nas mãos de tucanos, Temer já avalia substituir Luislinda Valois nos Direitos Humanos. Antônio Imbassahy deve deixar a Secretaria de Governo, mas ser deslocado para outro cargo na Esplanada — cogita-se inclusive sua migração para o PMDB. Aloysio Nunes, da cota pessoal do presidente, é o tucano mais resistente a sair antes de abril, quando obrigatoriamente teria de deixar o Itamaraty para disputar a reeleição ao Senado.
* GaúchaZH, com agências