A sucessora de Rodrigo Janot no comando do Ministério Público Federal (MPF), Raquel Dodge, colocou na chefia da área criminal uma procuradora conhecida por estar sempre do lado oposto de políticos e empresários encrencados com a Justiça. Nova titular da Secretaria Penal da Procuradoria-Geral da República (PGR), à qual o grupo de trabalho da Lava-Jato será subordinado, Raquel Branquinho tem histórico de atuação em grandes casos de combate a desvios de dinheiro público e é vista como uma das melhores investigadoras criminais do Ministério Público.
Com 46 anos, Raquel Branquinho dedicou 20 ao MPF. Foi no Rio que ela se especializou na área criminal e atuou em casos como o Marka-FonteCindam, que investigou presidente e diretores do Banco Central e levou o banqueiro Salvatore Cacciola à cadeia.
No Ministério Público Federal no Rio, ex-colegas de Raquel Branquinho contam uma história. Em 2004, ela investigava Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil no governo Lula e ex-presidente da Loterj. Ao fim de um depoimento, ele teria entregue à procuradora uma cartela de "raspadinha", ao que Raquel Branquinho teria respondido:
— "Eu vou raspar. Mas se houver um prêmio o senhor sairá preso por tentativa de corrupção" — teria dito a procuradora, segundo um ex-colega. — É exatamente o que se pode esperar dela.
Do Rio foi para Brasília, onde já teve passagem pela PGR quando ajudou na elaboração da denúncia do mensalão.
"Fora do padrão"
— Fiquei muito impressionado com a capacidade de trabalho dela — disse o procurador Artur Gueiros.
Segundo ele, a procuradora digitava enquanto discutia com os colegas a estratégia que seria usada. Ao fim de uma hora de reunião, relatou o colega, Raquel Branquinho imprimia a peça jurídica pronta para dar andamento ao caso.
— Ela foge um pouco do padrão. De uma reunião que era para discutir, saíamos com uma petição de 50 páginas digitadas — disse Gueiros, que já era procurador criminal quando ela chegou ao Rio. — A gente estudava muito, não tínhamos grandes recursos. Líamos e destrinchávamos relatórios do BC, da Receita, para cruzar os dados que podíamos — afirmou o procurador.
— Ela é uma das pessoas mais combativas que eu conheço, é incansável, sempre disposta. Ela não vai se intimidar — disse a procuradora regional Luciana Guarnieri.
As duas entraram na carreira no mesmo concurso, em 1997, tomaram posse no mesmo dia e foram atuar em Campinas (SP).
Interior
Raquel Branquinho é de Franca (SP) e fez faculdade de Direito na Unesp. No interior paulista, os procuradores não tinham área de especialização e faziam desde ações criminais até questões de tutela coletiva, como defesa do direito ambiental. Na época, Luciana e Raquel trabalharam juntas ao desvendar fraudes em um consórcio que lesou habitantes de uma cidade próxima. De manhã cedo, contou Luciana, a colega — e hoje amiga — ligava perguntando se os demais já estavam a caminho do Ministério Público.
— Ela é talhada para a função.
Já em Brasília, ao lado da procuradora Valquíria Quixadá, Raquel Branquinho atuou no caso Banestado — mapeou os destinatários das movimentações financeiras via contas CC5 da agência do banco brasileiro em Nova York.
Raquel Branquinho, disseram colegas próximos, não é de perfil acadêmico, mas operacional. Não optou pelo mestrado. Segundo colegas que dividiram com ela o trabalho em Brasília, a procuradora não espera um despacho escrito chegar à sua mesa. Se depende que uma diligência seja feita pela polícia, vai pessoalmente conversar com o delegado e procura integrar os órgãos envolvidos na produção de provas — polícia, Receita e Ministério Público.