O procurador-geral da República apresentou no fim da tarde desta quinta-feira (14) a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Rodrigo Janot acusou o peemedebista por obstrução da Justiça e organização criminosa a partir das delações do grupo J&F, controlador da JBS, e do doleiro Lucio Funaro. Foi um dos últimos atos do procurador-geral, que deixa o cargo no domingo (17).
Veja, a seguir, as diferenças entre o cenário encontrado por Temer na ocasião da primeira denúncia apresentada por Janot e o que espera o presidente nos próximos dias:
PRIMEIRA DENÚNCIA
Apresentada em 26 de junho, pouco mais de um mês após a divulgação da delação premiada de executivos do grupo J&F. Foi votada em 2 de agosto, com vitória de Temer.
Economia
- Taxa de desemprego havia caído em dois meses, após ter atingido 13,7% no trimestre encerrado em março.
- O PIB do primeiro trimestre avançou 1%, encerrando ciclo de dois anos com desempenho negativo.
Apoio no Congresso
- A manutenção da base desafiava o Planalto, especialmente a indefinição do PSDB e a pressão de aliados pelos quatro ministérios nas mãos de tucanos.
Trunfos
- O governo conseguiu aprovar mudanças na legislação trabalhista, mesmo após apresentação da denúncia, em um movimento para acalmar o mercado financeiro e demonstrar capacidade de dar prosseguimento a outras reformas.
Desgaste
- O Planalto estava mobilizado para evitar vazamentos de a delação que o operador do PMDB Lucio Funaro negociava. Preso, o ex-assessor Rocha Loures (PMDB-PR) também era uma ameaça a Temer, assim como Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
- Perícia da Polícia Federal confirmou a autenticidade da gravação feita por Joesley Batista de uma conversa com Temer, que era questionada pelo presidente, e recuperou trechos inaudíveis do áudio.
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SEGUNDA DENÚNCIA
Apresentada nesta quinta-feira, na semana em que a Procuradoria-Geral da República avaliava cancelar o acordo de delação premiada com executivos do J&F. Não há data prevista para votação.
Economia
- Sinais de retomada da atividade econômica se tornam mais efetivos, com alta do PIB de 0,2% no segundo trimestre, impulsionado pelo consumo. O desemprego mantém trajetória de queda, alcançando 12,8% no trimestre encerrado em julho, mas com aumento da informalidade.
Apoio no Congresso
- Embora PSDB tenha firmado posição pela permanência na base de apoio, outros partidos pressionam pelos quatro ministérios da sigla — quase metade da bancada tucana votou contra Temer na primeira denúncia. Além disso, há insatisfação pelo não cumprimento, por parte do Planalto, de promessas feitas para salvar o presidente.
Trunfos
- A prisão dos delatores do grupo J&F Joesley Batista, Wesley Batista e Ricardo Saud, além da investigação sobre o ex-procurador Marcello Miller, favorecem o discurso de Temer de acusar Rodrigo Janot de ter "armado" o acordo de colaboração para persegui-lo.
- A posse da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, indicada por Temer para o cargo, faz o governo projetar redução no tom adotado pelo Ministério Público Federal nas acusações ao presidente.
Desgaste
- A delação de Lucio Funaro foi homologada e aponta Temer como líder do quadrilhão do PMDB da Câmara, detalhando suposta entrega de dinheiro de corrupção ao presidente.
- A descoberta de R$ 51 milhões guardados em malas e caixas em um apartamento ligado a Geddel Vieira Lima, ex-ministro e um dos principais aliados de Temer, é mais um elemento que afeta o presidente.
*Zero Hora