Em maio do ano passado, quando se preparava para assumir o posto de Dilma Rousseff no Planalto, Michel Temer tinha cinco fiéis escudeiros. À época, o "núcleo duro" de Temer, formado por Eliseu Padilha, Moreira Franco, Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e Romero Jucá, articulava para garantir votos para o impeachment da petista, tentava blindar o então vice-presidente de acusações e planejava a nova gestão nacional.
Quatorze meses depois, o cenário é outro, com o quinteto envolto no terremoto que vem chacoalhando o governo. Alves e Geddel foram presos, enquanto Padilha, Moreira Franco e Jucá são alvos de investigações. Entenda a situação de cada um deles hoje e as relações que mantêm com o presidente.
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Eliseu Padilha, o braço direito
O ministro-chefe da Casa Civil é considerado mapeador de votos e de inclinações de deputados e senadores. Ex-prefeito de Tramandaí, Padilha recebia, antes de Temer assumir a Presidência, romaria de políticos interessados na formação do novo governo.
O que pesa contra ele
É investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em três processos. Dois são resultados da delação da Odebrecht. Em um deles, é apontado como operador de R$ 4 milhões em doações por caixa 2 em campanhas peemedebistas. No outro, é acusado por delatores de ter recebido propina por obras da Trensurb.
Moreira Franco, o formulador
Moreira Franco conhece Temer há mais de 30 anos e é um dos responsáveis pelos documentos Ponte para o Futuro e A Travessia Social, que lançaram as bases do governo em áreas como economia e ação social. Citado na Lava-Jato – na planilha de propinas da Odebrecht, é apelidado de Angorá –, virou ministro da Secretaria-Geral da Presidência e ganhou foro privilegiado neste ano. Antes, foi secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos.
O que pesa contra ele
É investigado em pelo menos dois inquéritos autorizados pelo Supremo, um deles no âmbito da Lava-Jato. Segundo delatores da Odebrecht, Moreira Franco cobrou vantagens indevidas para a manutenção de regras em edital de licitação do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Teria recebido R$ 4 milhões da empreiteira.
Geddel Vieira Lima, o articulador
Era considerado um dos mais hábeis articuladores políticos do Congresso, o que beneficiou Temer na busca por votos pró-impeachment de Dilma e de apoiadores para sua gestão. Em novembro de 2016, pediu demissão do cargo de ministro da Secretaria de Governo. À época, Geddel foi acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar uma obra no centro histórico de Salvador (BA).
O que pesa contra ele
Foi preso preventivamente, nesta segunda-feira (3), pela Polícia Federal (PF). Conforme o Ministério Público Federal (MPF), Geddel é suspeito de tentar obstruir a apuração de irregularidades na liberação de recursos da Caixa Econômica Federal. Os investigadores se basearam em elementos levantados a partir dos depoimentos do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de Joesley Batista, um dos donos da JBS, e do diretor jurídico do grupo J&F, Francisco de Assis e Silva. A prisão ocorreu dentro da Operação Cui Bono.
Henrique Eduardo Alves, o amigo
O político do Rio Grande do Norte foi deputado federal em 11 mandatos e era apontado como o homem mais próximo de Temer no grupo de fiéis escudeiros. Na gestão do peemedebista, assumiu o Ministério do Turismo. Também esteve à frente da pasta no governo Dilma.
O que pesa contra ele
Em junho de 2016, pediu demissão do Ministério do Turismo depois de ser citado na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Alves teria recebido propina de R$ 1,5 milhão entre 2008 e 2014. Há um mês, foi preso pela Polícia Federal em um desdobramento da Lava-Jato que investiga crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal (RN). Segundo a PF, o sobrepreço do estádio, uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, chegou a R$ 77 milhões. Alves também é réu pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, envolvendo a liberação de recursos do FI-FGTS para obras do Porto Maravilha.
Romero Jucá, o escudo
O senador é o integrante mais recente do grupo de fiéis escudeiros do presidente. Foi uma das lideranças do PMDB no desembarque do partido do governo Dilma e uma das principais vozes na defesa de Temer das acusações de golpe contra a petista. Durou apenas 12 dias no cargo de ministro do Planejamento do governo alçado ao poder em 2016. A saída ocorreu depois de divulgação de conversa com Sérgio Machado, em que Jucá falou em parar a Lava-Jato e sugeriu um "pacto" para deter a "sangria" provocada pela investigação.
O que pesa contra ele
Inquérito na Lava-Jato apura o suposto pagamento de propina ao senador a partir de contrato da usina de Angra 3. Jucá aparece em trocas de mensagens entre executivos da OAS como responsável por emenda em medida provisória de interesse da companhia. Também é objeto de inquérito envolvendo propina da Andrade Gutierrez para construção da usina de Belo Monte. Ainda é alvo da Operação Zelotes.