Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, preso na 42ª fase da Operação Lava-Jato, tinha cidadania italiana e passagem comprada só de ida para viajar na sexta-feira (28) a Portugal, revelou, em coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (27), a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Lava-Jato. Os investigadores fizeram a descoberta ao quebrar o sigilo telefônico do suspeito. Ele é acusado de receber propina de R$ 3 milhões da Odebrecht para não prejudicar a empreiteira em acordos firmados com a Petrobras.
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O procurador da República Athayde Ribeiro Costa, no entanto, ressalta que um bilhete de retorno ainda pode ser encontrado. Ele diz ainda que o juiz Sergio Moro, apesar de pedir a prisão temporária, “tinha elementos para pedir uma prisão preventiva”.
– Ele (Bendine) poderia ir para Lisboa e depois se refugiar na Itália. Mas, mesmo que haja uma eventual passagem de volta, isso não inviabiliza a prisão preventiva, porque há outros indícios levados em conta – explica o procurador.
Segundo os investigadores, Bendine, preso hoje em Sorocaba, fez um dos primeiros pedidos de propina ainda quando era presidente do Banco do Brasil, entre abril de 2009 e fevereiro de 2015, no valor de R$ 17 milhões. O objetivo era viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. À época, a Odebrecht não pagou o valor por acreditar que o presidente do banco não teria poder de influência.
Posteriormente, quando Bendine estava prestes a assumir a presidência da Petrobras, uma propina de R$ 3 milhões foi solicitada por ele e um de seus operadores à Odebrecht, para não prejudicar a empresa em contratos firmados com a estatal. Nesse caso, para não sofrer prejuízos, a empresa decidiu pagar o valor, o que ocorreu em 2015. Ainda está sendo investigado o destino do dinheiro.
– É um presidente da Petrobras que foi nomeado justamente para combater a corrupção na Petrobras – disse Costa, apontando que Bendine teria mencionado a Lava-Jato e sugerido que seu cargo poderia proteger a Odebrecht.
Bendine também teria a intenção de pagar propina a um deputado federal para conquistar uma vaga na Vale do Rio Doce. No entanto, a Lava-Jato ainda está buscando informações a respeito.
Os investigadores afirmaram que Bendine dizia exercer influência junto à presidente Dilma Rousseff para obter mais credibilidade junto à Odebrecht, mas que não há provas de que a ex-presidente tenha atuado em favor da empreiteira.
– Ele usou o nome de Dilma para se promover, mas não há provas do envolvimento dela – falou Costa.
Conforme a força-tarefa, já em 2017, um dos operadores financeiros que atuavam junto a Bendine confirmou que recebeu a quantia de R$ 3 milhões da empreiteira, mas que tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à Odebrecht para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil.
Entretanto, a investigação revelou que a empresa utilizada pelo operador financeiro era de fachada e que não foi apresentado nenhum material relativo à consultoria e não foi explicado o destino de valores, a forma de recebimento, a ausência de contrato escrito para serviços de valor milionário e o motivo da diminuição do valor de tais serviços, que inicialmente seriam, conforme reconhecido pelo próprio operador, de R$ 17 milhões, para R$ 3 milhões. De acordo com os investigadores, a alegação de consultoria foi feita para “ocultar a propina” e “ludibriar as investigações”.
Ainda para ocultar a propina, um dos operadores de Bendine chegou a recolher os impostos relacionados à suposta consultoria, cerca de dois anos após os pagamentos, com o objetivo de dissimular a origem criminosa dos valores.
Os investigadores também encontraram comunicações ocultas por aplicativos de celular que eram destruídas em tempo pré-determinado para apagar os vestígios de crimes, e examinaram anotações que apontam para pagamentos de despesas de hospedagem em favor de familiares de Bendine.
Dos operadores financeiros de Bendine, o publicitário André Gustavo Vieira da Silva foi preso no aeroporto de Recife. Seu irmão e sócio, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, também foi preso. Ambos tinham negócios em Portugal e teriam atuado para favorecer políticos.
Bendine está sendo transferido de Sorocaba para Curitiba e deve chegar à capital paranense por volta das 14h.