Durante as cinco horas em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva depôs ao juiz Sergio Moro, apoiadores do petista e do magistrado travaram um embate nas redes sociais. Mas na sala da 13° Vara Federal, em Curitiba, onde ocorreu o interrogatório, um dos mais longos da Lava-Jato, o clima foi mais ameno. Teve até espaço para brincadeira, quando Lula, ao responder sobre a inauguração da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, reclamou não ter sido convidado. Moro retrucou: "Aí, o senhor tem de reclamar com a sua sucessora", e o petista riu.
A postura de Moro – que iniciou a audiência dizendo não ter desavença pessoal com Lula e permitiu que o petista por vezes abordasse assuntos alheios ao processo, fazendo do depoimento uma espécie de palanque político – tem uma explicação. Segundo o jurista e ex-promotor Luiz Flávio Gomes, como "está sendo massacrado" pelos simpatizantes do petista, o magistrado optou pela estratégia da autopreservação:
– O juiz Moro deveria, sim, ter sido mais duro em alguns momentos, mas ele está com o seguinte questionamento: como uma das defesas do Lula é a de que é um perseguido político, qualquer restrição seria mesmo interpretada como perseguição. Então, teve esse cuidado e permitiu que o ex-presidente falasse – destacou.
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Sobre o comportamento do petista, Gomes disse que foi o típico depoente escorregadio, monossilábico e demonstrou nervosismo em determinados momentos – o que, segundo ele, era possível notar "pelos toques no microfone, pela água que bebia e pelo jeito que pegava na gravata". Na avaliação de Gomes, Lula não foi muito convincente, mas ressaltou que "esse não é o papel do réu", pois, no Direito, o ônus da prova cabe a quem acusa:
– Do ponto de vista jurídico, o que importa é ter provas materiais. Sem provas, Moro não condena, e elas ainda não vieram à tona. Por enquanto, é a palavra do Léo (Pinheiro, ex-presidente da OAS) contra a de Lula.
Presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais (Ajufe), Roberto Veloso classificou a atuação de Moro durante a audiência com Lula como "serena e cautelosa". Como havia grande expectativa na população e manifestações públicas nos arredores da Justiça Federal, em Curitiba, "o juiz apenas se acautelou para que o evento de um processo não se transformasse em um ato político". Veloso lembrou que, pelo Código de Processo Penal, o magistrado é o encarregado de manter a ordem dos trabalhos.
Advogado de réus na Lava-Jato, o criminalista Lúcio de Constantino, que tem acompanhado audiências em Curitiba, afirmou que Moro manteve o mesmo padrão de comportamento no depoimento de Lula. As respostas do ex-presidente, no entendimento do advogado, foram "frágeis e superficiais":
– O depoimento dele é de um réu, de uma pessoa que está constrangida por um processo sério, penal, e percebe-se que algumas questões ficaram reticentes. Teve momentos que, efetivamente, ele saiu fora das respostas que deveriam ser dadas ao processo penal e trouxe elementos políticos, o que é algo incabível.
Constantino cita como exemplo a fala de Lula sobre um encontro que teve com Renato Duque, quando já não era presidente, para perguntar se o ex-diretor da Petrobras tinha dinheiro no Exterior. De acordo com o advogado, o petista só menciona a reunião porque a mesma ficou comprovada. O advogado disse ainda que Lula não explicou o motivo de ter sido encontrado em sua casa o contrato de compra e venda do triplex, durante busca e apreensão.
Um dos advogados mais requisitados de Brasília, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, criticou a "espetacularização do Direito Penal" e a conduta de Moro, embora reconheça que o magistrado tenha se portado de forma "elegante". Disse ter ficado perplexo com a linha de perguntas do magistrado:
– A partir do momento que o juiz faz perguntas que não estão no processo, dá margem para Lula falar o que quiser, até porque esse é único momento da autodefesa. Então, ele está fazendo a autodefesa que tem de ser ampla, a Constituição diz que a defesa é ampla. Ele tem muito mais o direito de fazer aquilo que ele acha que é a defesa dele do que o juiz de perguntar sobre coisas que não dizem respeito ao foco do processo.
Nesta quinta-feira (11), a força-tarefa do Ministério Público Federal afirmou, em nota, que houve "diversas contradições" no depoimento de Lula. De acordo com os procurados, entre elas estão "a imputação de atos à sua falecida mulher, a confissão de sua relação com pessoas condenadas pela corrupção na Petrobras e a ausência de explicação sobre documentos encontrados em sua residência".
Veja, abaixo, a íntegra do depoimento, em novas imagens divulgadas na manhã desta quinta-feira, sob novo ângulo:
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