Desde 17 de maio, o presidente Michel Temer enfrenta a maior crise política desde que assumiu a presidência, em maio de 2016. O turbilhão sobre o peemedebista iniciou depois da divulgação das conversas entre ele e o dono da JBS, Joesley Batista.
O presidente tenta transmitir clima de normalidade e pretende votar reformas no Congresso ao mesmo tempo em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define o futuro do governo, na próxima semana, quando a Corte analisa a cassação da chapa Dilma-Temer, vencedora das eleições em 2014.
Acompanhe os principais capítulos da crise política:
17 de maio, quarta-feira
– Um trecho da conversa entre o presidente Michel Temer e o dono da JBS, Joesley Batista, é divulgado. Durante reunião no Jaburu, em 7 de março, o peemedebista teria dado aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Temer também teria indicado o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para intermediar os interesses da JBS junto ao governo.
– A revelação caiu como uma bomba sobre o Congresso. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) protocola o primeiro de uma série de 17 requisições de impeachment contra Temer.
– Em reação, o Planalto divulga nota confirmando que Temer se reuniu com Joesley. O presidente, no entanto, negou que tenha dado aval para pagar pelo silêncio de Cunha.
– Manifestantes se reúnem em frente ao Palácio do Planalto e protestou pela renúncia de Temer e pela convocação de eleições diretas. Protestos também ocorreram em São Paulo e em Porto Alegre.
18 de maio, quinta-feira
– Também atingido pela delação da JBS, Aécio Neves (PSDB-MG) se torna alvo da Operação Patmos. Durante gravação, o tucano pede R$ 2 milhões a Joesley alegando que usaria o dinheiro para pagar as despesas com a defesa na Lava-Jato. Em nota, Aécio afirmou que estava "absolutamente tranquilo". A irmã de Aécio, Andrea Neves, acabou presa na ação da PF.
– Aécio e Rocha Loures são afastados dos mandatos no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente, por decisão do ministro-relator da Lava-Jato no STF, Edson Fachin. As delações da JBS são homologadas no STF.
– Fachin abre inquérito para investigar Temer, Aécio e Rocha Loures.
– Temer cancela agenda oficial após revelações.
– No Congresso, partidos aliados discutem o apoio a Temer. O PTN, com 13 deputados, anuncia o desembarque do governo. O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), chegou a sinalizar debandada do PSDB, mas os tucanos acabaram decidindo pela permanência no Planalto.
– Roberto Freire (PPS-SP), da Cultura, anunciou a saída do governo.
– A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara anuncia que iniciaria, na semana seguinte, a análise de PEC que permite eleições diretas em caso de renúncia ou cassação do presidente da República até seis meses antes do fim do mandato. No Senado, as discussões sobre a reforma trabalhista são suspensas.
– Pressionado, o presidente faz pronunciamento no Planalto e anuncia que não iria renunciar à Presidência.
– Pronunciamento de Temer repercute com o recuo de 8,8% da bolsa brasileira, maior queda em quase nove anos. O dólar sobe quase 9%.
– Fachin retira sigilo das delações da JBS e a íntegra do diálogo entre Temer e Joesley é liberada. Na gravação, o empresário afirma que comprou dois juízes e um procurador, mas não é repreendido pelo peemedebista. Também no áudio, o presidente diz que "O Eduardo (Cunha) resolveu me fustigar". Após ouvir a gravação, Temer teria reagido: "É só isso?".
– Mais uma vez, há registro de protestos contra Temer. Em Porto Alegre, os manifestantes se reuniram na Esquina Democrática, e seguiram em caminhada pela região Central.
19 de maio, sexta-feira
– Negociador de Temer, Rocha Loures desembarca em Guarulhos sem falar com a imprensa. Ele estava nos EUA.
– As suspeitas que embasam inquérito contra Temer são detalhadas: o presidente passa a ser investigado no STF por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.
– Delação da JBS aponta que Temer recebia propina da empresa desde 2010. Em conversas com aliados e ministros, Temer orienta a equipe para ir ao "enfrentamento" da crise.
– Nos bastidores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), faz consultas sobre as regras para eleições indiretas ao cargo de presidente da República. Ele é o próxima na linha sucessória do Planalto.
– Na tentativa de manter o clima de normalidade, os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcam agenda extensa de votações no Congresso para a semana seguinte. Em protesto, os parlamentares da oposição prometem obstruir as votações no plenário e nas comissões.
– Em ofício a Fachin, Temer afirmou que a gravação feita por Joesley é "ilícita". Especialistas ouvidos por ZH, no entanto, reiteraram que não há irregularidade em gravar conversa com o presidente da República.
– Pelo segundo dia seguido, Porto Alegre registra protesto contra Temer.
20 de maio, sábado
– Temer faz novo pronunciamento e afirma que gravação é "fraudulenta". O presidente anunciou que pediria ao STF a suspensão do inquérito contra ele até que os áudios fossem auditados por perito oficial. Panelaços foram registrados no país durante a declaração
– Com a sexta maior bancada no Congresso, o PSB anuncia rompimento com o governo Temer e sugere a renúncia do presidente.
– Advogado de Temer, Antonio Mariz de Oliveira, sustenta necessidade de perícia no áudio entregue por Joesley à PGR para justificar a investigação.
21 de maio, domingo
– Na madrugada, o pleno da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decide ingressar com pedido de impeachment contra Temer por crime de responsabilidade.
– Temer cancela jantar com aliados após baixa adesão de senadores e deputados convocados. Temer acabou fazendo uma reunião informal com alguns ministros e líderes partidários.
– A defesa do presidente protocola pedido para que a PF esclareça pontos sobre o áudio. A PGR também pediu esclarecimentos.
22 de maio, segunda-feira
– Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Temer afirmou que não renunciaria porque a decisão seria "uma declaração de culpa" e sustenta que não sabia que Joesley, alvo de operações, era investigado quando se reuniu com o empresário. Temer diz ainda que foi procurado por Joesley para falar sobre a Operação Carne Fraca, gerando nova polêmica – a operação foi deflagrada 10 dias depois do encontro.
– Aliados questionam a competência de Fachin para conduzir o inquérito contra o presidente. Interlocutores de Temer alegam que a investigação não tem relação com o esquema da corrupção na Petrobras que é apurado na Lava-Jato, o que contradiz a indicação de Fachin para a relatoria do inquérito.
– Ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho (PSB-PE) é pressionado a deixar o governo, já que o PSB decidiu romper com Temer. Dirigentes e deputados articulam a expulsão de Bezerra Filho do partido.
– PSDB e DEM sinalizam que vão esperar o julgamento do pedido de Temer para suspender o inquérito contra ele, no plenário do STF, para decidir se permanecem ou não no Planalto.
– PF pede à PGR que entregue o gravador de Joesley para fazer perícia do áudio. A defesa do dono da JBS disse que o equipamento estava no Exterior e deveria chegar ao Brasil no dia seguinte.
– Temer desiste do pedido para suspender o inquérito contra ele no STF. A medida foi tomada após a Corte autorizar que a PF realize perícia no áudio entregue por Joesley em seu acordo de delação premiada.
– Perito contratado por Temer, Ricardo Molina afirma que gravação do dono da JBS é "imprestável como prova".
– Rocha Loures entrega mala com R$ 500 mil na sede da PF, em São Paulo. Bagagem estava desaparecida desde abril.
23 de maio, terça-feira
– Renan Calheiros (AL) defende "saída negociada" de Temer da Presidência.
– Relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES) defende saída dos tucanos do governo Temer.
– Ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS) afirma que a reforma da Previdência não saiu da pauta e que os prazo serão cumpridos. Um dia antes, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, havia afirmado para investidores que a crise política atrasaria a agenda de reformas "em semanas".
– Assessor especial de Temer, Tadeu Filippelli é preso pela PF em operação que investiga superfaturamento nas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha. Após a operação, ele foi exonerado do cargo pelo Planalto. Outros assessores e ministros de Temer também estão sob o cerco da Lava-Jato.
– PF afirma que a mala entregue por Rocha Loures continha R$ 465 mil e não R$ 500 mil.
– Mesmo com protestos, xingamentos e empurrões, o relatório da reforma trabalhista é dado como lido na Comissão de Assuntos Econômicos pelo autor do parecer, Ricardo Ferraço (PSDB-ES). O movimento foi considerado uma vitória pela base aliada de Temer. Entretanto, conversas sobre a sucessão de Temer seguiram ocorrendo nos bastidores.
24 de maio, quarta-feira
– Aliados de Temer articulam criação de CPI e projeto contra a JBS na Câmara. A proposta obriga delatores a devolverem o dinheiro que lucraram no mercado com a ajuda de informações privilegiadas de suas delações.
– CCJ da Câmara marca nova reunião e exclui da pauta a PEC que trata de eleições diretas. No Senado, leitura do parecer sobre proposta de eleições diretas é lida pelo relator Lindbergh Farias (PT-RJ) e recebe pedido de vista coletiva.
– Defesa de Temer recorre ao STF para tentar adiar o depoimento à PF. Uma escrivã da corporação teria entrado em contato com a banca de advogados do presidente para saber quando o peemedebista poderia depor. Fachin afirmou que a PF não foi autorizada a tomar depoimento de Temer.
– Marcha das centrais sindicais acaba em confronto entre manifestantes e policiais, incluindo a depredação de ministérios. Oito pessoas foram presas e 49 ficaram feridas.
– Temer assina decreto para convocação das Forças Armadas após confusão em protestos. A medida foi criticada pela oposição no Congresso e gerou troca de socos, empurrões e pontapés no plenário da Câmara.
25 de maio, quinta-feira
– Decreto de Temer que convocou as Forças Armadas durou 18 horas.
– O presidente da OAB, Claudio Lamachia, protocola o 17º pedido de impeachment de Temer na Câmara.
– Rocha Loures avisa o STF que depositou em uma conta bancária os R$ 35 mil que faltavam para totalizar R$ 500 mil que ele teria recebido em uma mala como propina da JBS. Representantes do deputado afastado procuraram a PGR para avaliar a possibilidade de uma delação.
– Grampo de conversa de 24 de abril entre Rocha Loures e Ricardo Saud, executivo da JBS, mostra o esforço para blindar o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A dupla fala sobre ministros que estão na mira da Lava-Jato e de estratégias para a manutenção do foro privilegiado dos investigados.
26 de maio, sexta-feira
– Defesa de Temer pede que o inquérito aberto contra o presidente seja redistribuído por sorteio a um novo relator. Além disso, os advogados do peemedebista querem que a investigação seja desmembrada, para que corra em separado à de Aécio Neves e Rocha Loures.
– Maria Silvia Bastos Marques pede exoneração da presidência do BNDES. A assessoria do banco afirmou que ela saiu por por razões pessoais. Em seguida, Temer indicou o até então presidente do IBGE, Paulo Rabello de Castro, para assumir o BNDES.
– O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pede autorização ao STF para tomar o depoimento de Temer, de Aécio e de Rocha Loures.
28 de maio, domingo, e 29 de maio, segunda-feira
– Troca-troca na Esplanada: Temer transfere Osmar Serraglio (PMDB-PR) do Ministério da Justiça para a Transparência – a medida manteve o foro de Rocha Loures, que é suplente de Serraglio na Câmara. Em sentido contrário, Torquato Jardim assume a Justiça e afirma que vai "avaliar" mudanças na direção da PF.
– O presidente lança estratégia para votar reformas na mesma semana em que a chapa Dilma-Temer será julgada pela TSE. O peemedebista sonha com uma semana tranquila para recompor a base no Congresso e ter um mapa fiel de quem está disposto a votar com o governo.