Jamais Curitiba viveu um dia de tamanha tensão política. A mobilização em torno do depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro levou milhares de pessoas às ruas, obrigando a Polícia Militar a montar um dos maiores aparatos de segurança já empregados na cidade. Cerca de 3 mil policiais (1,7 mil PMs) foram mobilizados para atuar no isolamento do prédio da Justiça Federal, onde Lula chegou às 13h45min desta quarta-feira. No céu, dois helicópteros sobrevoavam a região, dando cobertura aos homens em terra.
A movimentação começou por volta das 9h, quando os simpatizantes de Lula ocuparam a Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. Portando bandeiras do PT, faixas e cartazes em alusão a uma nova candidatura presidencial em 2018, os militantes entoavam palavras de ordem em solidariedade ao petista e gritavam "Fora, Temer".
Caravanas de todo o país se dirigiam ao local, reunindo petroleiros, metalúrgicos, professores, sindicalistas e estudantes. Conforme a Secretaria Estadual da Segurança do Paraná, vieram à capital 128 ônibus, transportando cerca de 6 mil pessoas. Por volta das 11h30min, chegaram ao prédio da Justiça Federal em torno de 3 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), após uma marcha de cerca de dois quilômetros desde o acampamento montado atrás da Rodoferroviária.
Durante a madrugada, os sem-terra foram atacados com rojões. Pessoas não identificadas atiraram os foguetes de um viaduto e atingiram as barracas dos manifestantes. Duas pessoas ficaram feridas sem maior gravidade. Enquanto os militantes faziam um ato político e assistiam a apresentação artísticas na praça, Lula se reunia com advogados perto dali, no Hotel Pestana. Junto com ele estavam a ex-presidente Dilma, o líder do MST João Pedro Stédile, o presidente da CUT, Vagner Freitas e políticos aliados.
Ao chegar para depor, Lula descumpriu o acordo feito com a PM. Em vez de seguir de carro diretamente até o prédio da Justiça Federal, como esperado, o ex-presidente desceu do carro no primeiro bloqueio policial e caminhou por cerca de 50 metros junto à militância, fora do perímetro de segurança. Em meio às saudações de integrantes da CUT e do MST, Lula chegou a ser prensado contra os gradis em alguns momentos. Poucos minutos depois, retornou ao carro e seguiu o caminho programado até o prédio, onde já o esperavam os procuradores da República, que haviam chegado sob escolta 22 minutos antes.
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O juiz Sergio Moro o aguardava na sala de 20 metros quadrados usada para as audiências da 13ª Vara Federal, no segundo andar do prédio. Moro não alterou a rotina para o interrogatório. Chegou bem cedo pela manhã e não deixou o prédio para almoçar. Na porta do seu gabinete, um agente armado fazia a segurança.
Dentro do prédio de oito andares, onde só ingressaram os servidores envolvidos com o depoimento – o expediente nas demais varas foi suspenso nesta quarta –, havia ainda 15 agentes da Justiça Federal e mais de uma dezena de policiais federais. Por meio de 97 câmeras de segurança, eles monitoravam toda a movimentação na rua, inclusive a dos mais de 600 jornalistas credenciados para acompanhar o depoimento. A imprensa foi impedida de ingressar na sede da Justiça Federal, ficando atrás de gradis de ferro numa área de 150 metros ao redor do fórum.
No caminho para o interrogatório, a comitiva que levava Lula recebeu apoio de manifestantes, mas também foi xingada por ativistas anti-PT. Os manifestantes se reuniram em maior número no Museu Oscar Niemeyer, onde estenderam uma enorme bandeira do Brasil e inflaram um boneco gigante do ex-presidente vestido de presidiário. Vestindo camisetas verde e amarela, com estampas de Moro e com Lula atrás das grades, eles se revezavam nos megafones.