Diante das declarações do empresário Marcelo Odebrecht no processo de cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os dois políticos tentam agora atrasar o andamento da ação na corte. Além de ameaçar de cassação o mandato de Michel Temer, uma eventual condenação na Justiça Eleitoral pode tornar Dilma Rousseff inelegível.
No Planalto, auxiliares do presidente sugerem pedir a anulação do depoimento de Odebrecht. Eles argumentam que o herdeiro do grupo empresarial e alguns dos seus executivos só foram convocados a depor após o vazamento ilegal da delação ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo filho. Na tarde desta quinta-feira, outros dois ex-funcionários da empreiteira foram interrogados pelo relator da ação no TSE, ministro Herman Benjamim. Na próxima segunda-feira, falam Melo Filho e o ex-diretor Alexandrino Alencar. No total, serão sete depoimento de executivos do grupo.
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Mesmo que a tentativa de anulação não tenha êxito, o plano do governo é estender o andamento do processo até 2018. Para tanto, a defesa de Temer pretende arrolar inúmeras testemunhas e solicitar prazo para a produção de provas e contra provas no processo. Essa mesma estratégia já vinha sendo usada pelos advogados de Dilma.
No TSE, Herman Benjamin tem confidenciado aos assessores que pretende concluir o processo em abril. Ao retardar o andamento da ação, Temer espera pelo menos levar o caso até outubro, quando termina o mandato de Benjamin no TSE. Nos próximos meses, também se encerram os mandatos de outros dois ministros: Henrique Neves da Silva, em abril, e Luciana Christina Guimarães Lóssio, em maio.
A principal tese da defesa de Temer para preservar o mandato é a necessidade de separação das contas de campanha da candidata à Presidência e do candidato a vice. No plenário do tribunal, ele já teria dois ministros propensos a aderir à tese: Gilmar Mendes e Luiz Fux. Com outras duas novas indicações, poderia obter os quatro votos para compor maioria, já que o plenário é composto por sete ministros.
Como a maioria das doações de empreiteiras envolvidas à Lava-Jato foi para o PT, a separação das contas permitiria a Temer sustentar que sua campanha não foi contaminada com recursos ilegais. Seria uma forma de se proteger diante de uma eventual condenação de Dilma. Se a estratégia fracassar e ambos forem condenados, o Congresso terá de fazer uma eleição indireta à Presidência da República, na qual os eleitores serão os 513 deputados e 81 senadores.