Quantas vezes nos últimos anos você ouviu que as Unidades de Pronto Atendimento seriam a saída para o suplício da busca de atendimento nos hospitais? A sigla UPA, que tinha virado sinônimo de esperança para os usuários do SUS, agora é tratada como elefante branco por prefeitos que alegam não ter como sustentar a estrutura das unidades construídas com recursos federais.
O raciocínio expresso pelo presidente da Famurs, Valdir Andres, é o mesmo dos prefeitos em relação às creches oferecidas pelo governo federal: não adianta construir prédios, se depois as prefeituras terão de arcar com as despesas de manutenção. O próprio presidente da Famurs é um exemplo dessa resistência: a UPA de Santo Ângelo está pronta, sem previsão de operação, porque o dinheiro repassado pela União e pelo Estado não cobre nem metade do custo de operação.
Andres não fala apenas por Santo Ângelo, mas pelos prefeitos de outros municípios que reclamam da dificuldade para contratar médicos e exigem mais recursos do Estado e da União para colocar as UPAs em funcionamento. De acordo com a Famurs, há casos em que as prefeituras não conseguem contratar pediatras, por exemplo, nem com salário mensal de R$ 30 mil.
A Famurs alega que não são apenas os prefeitos locais que reclamam da impossibilidade de manter as UPAs. A situação se repete no Piauí, na Paraíba e em Alagoas, três dos Estados mais pobres da federação.
Secretário da Saúde à época em que foi negociada a construção de 32 UPAs no Rio Grande do Sul, o deputado Osmar Terra (PMDB) diz que os prefeitos aceitaram, mas muitos acabaram recuando porque o valor da participação da União e do Estado, acertado em 2010, nunca foi reajustado e a receita caiu.
Terra retardou o início da construção dos prédios porque não aceitou aderir à licitação realizada no Rio, que apresentou preços muito elevados. No fim, o Estado construiu apenas a UPA de Santa Maria e repassou aos municípios o dinheiro para a construção das demais.
Terra contesta a afirmação do prefeito de Santo Ângelo de que a UPA é superestimada para a população da cidade:
- A distribuição foi pensada por região e não apenas por município. A região comporta, sim, uma UPA desse tipo.
Opinião
Rosane de Oliveira: "Quando a esperança vira elefante branco"
Rosane de Oliveira
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