Cabe aos 333 mil eleitores de Caxias do Sul selecionar, entre 11 candidatos, aquele que terá o poder de decidir os rumos da cidades pelos próximos quatro anos. A disputa pela vaga é acirrada, com o maior número de aspirantes ao cargo já registrado na história da cidade. Entre os postulantes, dois se dispõem a abrir mão de mandatos de deputado estadual, cuja remuneração é inclusive superior à da nova função. Há também empresários, vereador, arquiteto e pastor evangélico.
O escolhido, que já entra na função desempenhando o papel de chefe do Poder Executivo, será o encarregado de trabalhar pelo desenvolvimento da cidade, com foco em questões da vida real de 517 mil pessoas, como saúde, educação, mobilidade e geração de renda. Para 2021, o eleito terá uma receita de R$ 2.392.041.195,26 a administrar, segundo a Lei Orçamentária Anual que ainda tramita na Câmara de Vereadores.
Algumas habilidades podem tornar mais fáceis as tarefas de planejar, comandar e executar. O cientista político Marcos Paulo dos Reis Quadros aponta que, embora cada cidade tenha um contexto específico, algumas características se aplicam ao perfil do bom prefeito em qualquer lugar. Para ele, é preciso que o mandatário elabore e defenda uma visão de futuro clara para a cidade. Ou seja, um projeto de desenvolvimento factível que ultrapasse o discurso de campanha. Quadros também aponta a capacidade de formar uma equipe qualificada e de se comunicar de forma permanente com a sociedade.
— O prefeito precisa saber lidar com a difícil realidade orçamentária sem paralisar a prefeitura, tendo capacidade, técnica e pessoal, para captar recursos em outras instâncias governamentais, em agências de fomento, inclusive internacionais, e na iniciativa privada. E, claro, demonstrar responsabilidade fiscal — opina.
Para ele, mediação é outra habilidade crucial para que as propostas de políticas públicas sejam aprovadas na Câmara de Vereadores e para que os interesses distintos de cada setor cheguem a consensos mínimos.
— É necessário ter inteligência política. Sem isso, as críticas, que são naturais, não serão absorvidas de modo a melhorar a gestão. Pelo contrário: se tornarão conflitos que podem degenerar em crises. O prefeito tem que entender a opinião pública — aponta o cientista político.
Liderança, gestão e comunicação
O doutor em Direito Público, Fábio Scopel Vanin, enumera três pontos considerados importantes para um bom prefeito: postura de liderança, boa comunicação e capacidade de gestão administrativa. A gestão é necessária porque há um cenário de difíceis escolhas orçamentárias, segundo ele, devido a escassez de recursos financeiros que o prefeito vai enfrentar. Para Vanin, o próximo gestor também precisa desenvolver a união da cidade e ter sensibilidade para identificar as principais demandas.
— Vai ser necessário muita habilidade de diálogo, tanto com a classe política, mas especialmente com a sociedade para ter um ambiente mais harmônico e não conflituoso —afirma.
O especialista lembra que, em que pese por parte do eleitor as preferências ideológicas na hora da escolha, ao gestor cabe a função de administrar para todos, não somente para aqueles que confiaram nele o voto. Ele também lembra que, atualmente, há dicotomias entre as qualidades desejadas para as relações pessoais e os representantes políticos. A experiência na função, tão valorizada no processo seletivo dos demais empregos, chega a ser explorada como um ponto negativo na política.
— O que se percebe é que algumas pessoas prezam por alguns comportamentos nos políticos que não são os que elas prezam na família, na rede de amigos, nas relações pessoais, visto a quantidade de conflitos e bate-boca, situações que não são bem vistas na convivência cotidiana. Em nenhum grupo social é bem visto mentiras, acusações, palavrão. Porém, hoje em dia esse tipo de comportamento tem tido sucesso na política, o que é muito negativo _ complementa.
O que a posição de liderança exige
Apesar das peculiaridades do cargo público, é inegável que as habilidades de um líder se apliquem ao gestor municipal. A pedido da reportagem, a Associação Serrana de Recursos Humanos (ARH Serrana) apontou as habilidades necessárias para ser um bom líder:
:: Autoconhecimento: identificar suas forças, fraquezas e limitações para poder agir é o primeiro passo para a liderança e para desenvolver inteligência emocional.
:: Humildade: é preciso reconhecer que não se sabe tudo.
:: Empatia: ter paciência para ouvir, conhecer e conversar com as pessoas, se permitir entender o outro.
:: Comunicação: a comunicação transparente favorece o relacionamento, o ambiente de trabalho, a produtividade e os resultados.
:: Conhecimento técnico: buscar o conhecimento que você precisa para desempenhar bem seu papel de líder.
:: Resiliência: flexibilidade, serenidade e adaptação a situações de incertezas.
:: Inteligência emocional: a capacidade de administrar as próprias emoções e usá-las a seu favor, uma abertura constante para o aprendizado.
:: Delegar: atribuir responsabilidades as outras pessoas do seu time para que você possa pensar o estratégico.
:: Planejar: definir as metas com os prazos estabelecidos.
:: Liderar pelo exemplo
Atribuições do prefeito
:: Administrar, decidindo onde aplicar, o que é arrecadado nos impostos municipais e os recursos repassados pelos governos estadual e federal.
:: Implementar e manter em boas condições postos de saúde e escolas municipais.
:: Zelar pela limpeza, saneamento básico e iluminação pública.
:: Garantir o transporte público e a organização do trânsito.
:: Pavimentar ruas, além de construir e preservar espaços públicos como praças e parques
:: Nomear secretários para desenvolver o trabalho executivo, a partir de critérios técnicos ou políticos.
:: Propor projetos de lei a serem apreciados pela Câmara Municipal.
:: Sancionar ou vetar projetos aprovados pelos vereadores.
Remuneração: R$ 21.529,01
:: O salário é aprovado pela Câmara de Vereadores, que em 2020 congelou os valores. Mesmo assim, o provimento do prefeito caxiense é mais alto que o do prefeito de Porto Alegre, hoje em R$ 19,4 mil. De acordo com a Constituição Federal, o salário do chefe do Executivo não pode ultrapassar o teto definido pela remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que hoje é de R$ 39 mil.