A sequência de furtos de sinos em capelas preocupa as comunidades do interior da Serra. São pelo menos três casos relatados no último mês. A suspeita é de que um grupo especializado possar estar fazendo uma varredura de locais que possuem peças históricas na região. Os criminosos se aproveitariam do fato de os campanários ficarem em lugares afastados e com poucos (ou nenhum) itens de segurança. Foi o que aconteceu na Capela Nossa Senhora da Rocca, na 6ª Légua, interior de Caxias que teve o artefato levado provavelmente há uma semana, mas a comunidade só percebeu o sumiço no último sábado (16).
O furto de sinos não é uma novidade. Em 2012, por exemplo, ladrões levaram uma peça de bronze de mais de 200 quilos da igreja de Nossa Senhora do Caravaggio, na localidade de Bem-Te-Vi, no distrito de Vila Oliva, na zona rural de Caxias do Sul. A tese inicial da polícia é de que a crise de matérias-primas no mundo, que aumentou o valor de compra e venda dos metais, possa ter chamado atenção de ladrões e receptadores.
Peças históricas e símbolos de suas comunidades, os sinos interessariam para os ladrões para serem derretidos e revendidos. O tamanho destes artefatos, grandes e pesados, sugere ação de criminosos especializados, que agiriam em grupos e com veículos preparados, e em conluio com uma fundição. Os furtos, por esse raciocínio, seriam encomendados.
O fato de acontecerem em áreas rurais também se dá pela facilidade da ação criminosa. Os campanários costumam ficar em pontos sem câmeras de monitoramento e com pouca vizinhança. Assim, os ladrões aproveitam a madrugada para fazer a retirada dos sinos.
— A dificuldade é que não há nenhum indicativo, câmera ou outro elemento que aponte uma identificação dos suspeitos. Por isso, também, não há indicativo que relacione ou aponte que são os mesmo envolvidos nos casos de Caxias do Sul — explica o delegado de Farroupilha, Ederson Bilhan, que investiga o sumiço de um sino centenário da capela da Linha Jacinto no mês passado.
— A investigação depende de informações da comunidade, se viram alguma movimentação ou veículo suspeito, ou algo neste sentido. Também tentamos verificar se há algum vínculo entre todos estes crimes, se há uma pessoa ou uma quadrilha agindo. Normalmente, é difícil ter informações com exatidão. Às vezes, nem o dia (do furto) sabem, como parece ser esse caso (na 6ª Légua). São lugares muito interioranos. É difícil a investigação, mas iremos atrás — corrobora o delegado Edinei Albarello, responsável pelo 3º Distrito Policial de Caxias do Sul, que assumiu a investigação do caso mais recente, na Capela Nossa Senhora da Rocca.
O primeiro caso relatado nesta sequência deste ano foi em Santo Antônio da 7ª Légua, também no interior de Caxias. O sino quase centenário foi trazido da Itália e pesava cerca de 150 quilos. O enredo é semelhante aos demais casos. O campanário foi invadido, mas nenhum morador presenciou movimentação suspeita. A falta do sino foi percebida somente no dia 13 de março, um domingo, não há certeza sobre qual noite aconteceu o crime.
— Geralmente, são desmanches que compram por peso do metal. Investigamos esses locais também. Só que esses casos dos sinos é um crime diferente. São pesados e costumam estar em locais elevados, o que requer pessoas com mais qualificação para fazer esses furtos. Só que ainda precisamos ver se há vínculos para dizer se há uma quadrilha atuando na região — comenta o delegado Albarello.
No ano passado, criminosos já haviam furtado um sino com 70 centímetros de altura e mais de 50 quilos na comunidade da Capela São José, interior de Canela. Quase seis meses depois, a investigação esbarra nas mesmas dificuldades e nenhum suspeito foi identificado.
Fiscalização em desmanches
A Polícia Civil e prefeitura de Caxias do Sul possuem uma força-tarefa conjunta para fiscalizar desmanches que possam estar recebendo metais furtados. Entre fevereiro e março, foram realizadas três ações que verificaram mais de 13 endereços, inclusive com apreensão de materiais.
A ação costuma ser acompanhada pelo 1º Distrito Policial, que é o responsável pela investigação dos furtos na área central. Nestes casos da zona urbana de Caxias, os alvos são tampas de bueiros, hidrômetros, fios e outros objetos facilmente encontrados pelas ruas. Os ladrões costumeiramente são usuários de drogas atrás de valores para saciar o vício.
— Furto de metais são de época. Em alguns momentos aumenta, mas sempre existiu. Em outros momentos que o metal estava valorizado, também vimos esse efeito. É uma influência, com certeza. O prejuízo agora também pode ser maior porque estão (os ladrões estão) pegando itens maiores, como peças de ar condicionado — analisa o delegado Vitor Carnaúba, da 1ª DP.
A força-tarefa contra desmanches é apontada como uma parte fundamental do combate aos furtos de metais, afinal é para onde iria boa parte dos objetos furtados. A Polícia Civil, contudo, admite que é uma tarefa complicada.
— Há muitos locais (onde é possível vender metais). Tentamos focar nestes da área central (onde os usuários de drogas têm acesso), mas, mesmo assim, não conseguimos fiscalizar todos. E há os clandestinos também — pondera Carnaúba.
A relação dos desmanches com os furtos dos sinos, contundo, é considera improvável. Pelo tamanho dos artefatos religiosos, seria necessária um local com uma fundição de grande porte. A suposição da polícia é de que os sinos são levados para essas oficinas na mesma madrugada em que ocorre o furto. A suspeita é que essas fundições fiquem em outras regiões do Estado.