Bento Gonçalves atingiu uma marca importante no final de tarde de sexta-feira (20). Com a imunização de jovens de 19 e 18 anos, se tornou a primeira cidade entre as maiores da Serra gaúcha a iniciar a aplicação ao último grupo que receberá, neste momento, a cobertura vacinal contra a covid-19 por faixa etária. Um momento comemorado pelos gestores e pela população, que há mais de um ano e cinco meses convivem com o vírus mais mortal da história da humanidade.
O movimento na Fundaparque, local que vem sendo escolhido como ponto principal da vacinação em drive-thru na cidade, era grande antes das 16 horas. Seja a pé, motorizados, como caroneiros dos pais e, alguns, com vários amigos juntos, nos rostos era possível perceber a ansiedade de receber a primeira dose da vacina.
Luzes, fumaça e um Dj de música eletrônica deixaram o clima a caráter para os jovens. Às 17h15min, as vacinadoras estouraram a chuva de papel picado e deram início na vacinação das duas últimas faixas etárias previstas. Segundo a prefeitura, mais de 2 mil doses foram disponibilizadas, mas havia mais guardadas em caso de necessidade.
Entre os jovens, os mais diversos relatos e sensações com a vacina aplicada. Alguns emocionados, lembrando de pessoas próximas que partiram em virtude do vírus.
— Foi bem complicado, porque eu tinha medo de pegar e passar para os meus pais. Mas ainda bem que chegou. Foi um longo período em que não vi meus amigos, deixei de ir na escola, não viajamos mais. Felizmente estamos todos vacinados — salientou Eduarda Pellegrini, 18 anos.
— Ainda bem que chegou, achei que iria demorar mais ou até mesmo só no ano que vem. É uma coisa boa, porque até o fim do ano pode ter terminado tudo isso — destacou Gabriel Gandini Marini, também 18.
Isadora Rodrigues, 19, perdeu o primo para a covid-19 em agosto, e ficou emocionada ao receber a imunização.
— Senti muito porque as coisas estavam ainda iniciando, foi uma mistura de medo. É um alívio por eles (pais) e, agora nós. É maravilhoso. Somos a população ativa, estava contando os dias, precisava acontecer.
Leonardo Righo Dors, 18, relatou a angústia de ver tantas mortes decorrentes do vírus:
— Via pessoas que gostava enfrentar o vírus e perdendo familiares próximos que iriam se vacinar e não conseguiram. Ser vacinado é emocionante.
Mesma sensação tinha Kevin Sonaglio, 18:
— É bom estar vacinado. A gente viu muita morte acontecer. Agradeço a Deus e que dê tudo certo a partir de agora.
O prefeito Diogo Siqueira comemorou a etapa dos 18 anos sendo completada na cidade.
— Temos que comemorar os degraus que vamos superando. Estamos mais um acima, com toda a população maior de idade com a primeira dose. Essa juventude esperou e chegou o momento de estarem se vacinando. Isso tudo é fruto de muito trabalho, tranquilidade, organização e logística bem feita. Vimos outras cidades com problemas e aqui não tivemos, felizmente — ressaltou.
A secretária de Saúde de Bento Gonçalves, Tatiane Misturini Fiorio, lembrou que a primeira vacina foi aplicada na cidade no dia 19 de janeiro, em uma funcionária da UPA.
De epicentro da pandemia na Serra para a queda nos números
A trajetória de Bento Gonçalves, assim como outras cidades da Serra, foi muito complicada durante esses 18 meses de pandemia. O município de mais de 120 mil habitantes percebeu o vírus se alastrar de maneira rápida. Tanto que virou, em alguns momentos, o epicentro da pandemia na região.
O primeiro caso foi registado dia 18 de março de 2020. Em 26 de abril, o primeiro óbito e, já no início do mês seguinte, mais de 100 casos. Quatro dias depois, mais três mortes. Ao término de maio, a cidade liderava a lista de infectados da Serra e estava entre as cinco no Estado com mais de 600 pessoas com covid-19 (13 óbitos).
Em paralelo a isso, a comunidade se uniu para fazer com o que a estrutura da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h, fosse concluída. Ação que, pouco tempo depois, viria a ser fundamental para a saúde da cidade, não apenas para a covid-19, mas também para outras doenças.
Porém, a escalada de contaminação não deu trégua. Ao final do quarto mês, a cidade tinha mais de 2 mil pessoas infectadas e 58 óbitos. Em agosto, pela primeira vez, o Hospital Tacchini, referência para o tratamento, ficou acima dos 90% de sua capacidade nas UTIs.
Em dezembro, mais de 6 mil pessoas já tinham sido infectadas e recuperadas, mas os óbitos chegavam a 130. No dia 21, um alerta de superlotação hospitalar. Tendas no lado externo do Tacchini e da UPA foram instaladas e equipes remanejadas. Tudo para dar o suporte necessário e não deixar a população sem atendimento.
Já neste ano, os dois primeiros meses tiveram média pouco maior que 10 infectados por dia e de perdas de vida. Até que em março, um verdadeiro colapso se instalou em Bento e no Rio Grande do Sul. O Hospital Tacchini anunciou 111% de superlotação e que chegaria aos 133% meses depois, em junho. Apenas nesse período, quase 6 mil pessoas foram infectadas e 82 foram a óbito.
Siqueira, que era secretário de Saúde no início da pandemia e hoje é prefeito, considera aquele um dos momentos mais difíceis da história de Bento Gonçalves.
— Considero o mais complicado da história, sim. Superlotações no hospital, a nossa UPA sendo referência para atender a população e conseguimos passar por isso. 68 pacientes ao mesmo tempo sendo atendidos no pico e ampliamos atendimentos e equipes. Aquele momento foi bem complicado e passamos — lembra.
Ele também ressalta a ordem transmitida para todos os grupos de trabalho.
— Sempre falei que jamais poderíamos errar na saúde, deixar sem atendimento. Poderia estar o caos, mas nós tínhamos que dar condições. A gente não teve problema de falta de insumos, oxigênio, o que deu tranquilidade. Óbvio que as equipes ficaram sobrecarregadas, mas de agora em diante, com moderação, temos que comemorar essa vitória – enaltece.
Em oito meses de 2021, conforme os boletins epidemiológicos divulgados pela prefeitura, 12.401 pessoas foram infectadas, mais 12 mil curadas e 213 perdas. Números que, agora, apresentam uma leve queda, graças ao avanço da vacinação contra a covid-19, tanto na primeira quanto para alguns grupos, já na segunda dose.
A vacinação foi a maior ferramenta e a mais acertada de todas
PREFEITO DE BENTO GONÇALVES
Sobre a melhora nos números da cidade com a vacinação
Porém, Siqueira pede que a população não desligue o sinal de alerta, mantenha o uso de máscara, higienização das mãos, evite excessos e, principalmente, complete o ciclo de vacinação, que é fundamental.
- A vacinação foi a maior ferramenta e a mais acertada de todas. Conseguimos reduzir os casos, internações e gravidade da doença diminuiu. Aquele discussão estranha e desconfiança das vacinas, não deveria ter existido, são eficazes. Mas ainda é preciso ter cuidado. É uma doença diferente, ninguém tem experiência, temos variantes novas e precisamos ter moderação – ressalta.