Há 10 anos, quando Caxias do Sul tinha 415 mil habitantes, o celular mais popular entre os brasileiros sequer tinha câmera fotográfica ao toque e o primeiro modelo do iPhone era apresentado aos americanos, o Pioneiro publicou uma reportagem que tentava prever como seria viver em Caxias em 2017.
Entre previsões tecnológicas e outras que tentavam traçar como seria o futuro da cidade na próxima década, há acertos inegáveis. Principalmente no que diz respeito à vida digital, com celulares que permitem rastrear pessoas, enviar arquivos para nuvens virtuais e interação quase que imediata com qualquer pessoa, em qualquer lugar. No entanto, é possível confirmar que a população tem expectativas que se arrastam há mais de uma década, como o tão sonhado trem regional ou aeroporto de cargas.
Nem mesmo a previsão populacional se confirma: o crescimento do número de habitantes ficou bem abaixo do esperado. Há muitas pessoas que se mudam para Caxias do Sul, mas há caxienses que gostam de deixar a cidade para buscar oportunidades diferentes, principalmente quando o assunto é educação. E a principal personagem da reportagem de junho de 2007 do Pioneiro é um exemplo clássico deste comportamento. Aos 20 anos, Danielle Rodrigues Guidini não conseguiu cumprir uma das promessas que fez à reportagem em 2007, quando completou 10 anos. Ao sentenciar que muita coisa seria diferente, mas queria continuar vivendo em Caxias, a jovem não imaginava que escolheria Porto Alegre como lar definitivo.
Danielle, que segue tendo excelentes notas e com amor declarado aos estudos, passou em sete vestibulares para cursar Estatística. Matriculada há três anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Danielle trabalha com tecnologia da informação e marketing digital, profissão que sequer existia há 10 anos. Há uma década, ela declarava ao Pioneiro que sonhava ser médica ou arqueóloga.
— Eu fui percebendo no Ensino Médio que muita coisa pendia para o lado das exatas, então foi minha escolha natural. Mas não imaginava que hoje produziríamos tantos dados virtuais, que seriam passíveis de análise e interpretação em banco de dados — reconhece.
Nestes 10 anos, Danielle é uma das caxienses que vivenciou a crise econômica nacional. Por conta dessa situação, Caxias do Sul não atingiu a projeção financeira que o município fazia, de crescimento acumulado de 50% na economia. A Câmara da Indústria e Comércio (CIC) estima que este crescimento tenha sido de até 40%, mas não avalia este dado como negativo diante do contexto nacional e estadual. Danielle concorda, e diz que fica impressionada com a quantidade de empreendimentos e novidades que acontecem na cidade. Daqui uma década, ela pretende estar morando fora do país e com família constituída. Porém, ela já percebeu que nem sempre as previsões são certeiras.
— Vamos ver sempre o dia de amanhã, não é? Hoje, estou feliz em Porto Alegre, mas sinto falta da minha família. Não descarto voltar a morar em Caxias, mas hoje não penso nisso. Quero fazer mestrado, doutorado, quem sabe morar na região do Vale do Silício — projeta.