Uma nova técnica para combater o câncer de mama, a radioterapia intraoperatória, será realizada neste sábado, em Bento Gonçalves, pela primeira vez na Serra. Nesta modalidade, a radioterapia, normalmente aplicada em várias sessões, é administrada uma única vez durante a cirurgia de retirada do nódulo. O tratamento, porém, é aplicado somente em casos específicos, quando o tumor é descoberto na fase inicial. A diminuição do tempo de tratamento e também dos efeitos colaterais desencadeados pela radiação, como a radiodermite, são os principais benefícios dessa técnica.
A cirurgia, que será realizada no Hospital Tacchini, em uma mulher idosa, poderá ser adiada se ela apresentar algum problema de saúde, como estar gripada, por exemplo.
– Na radioterapia intraoperatória, o paciente recebe uma dose equivalente a seis semanas do tratamento convencional. Ou seja, o que seria feito em mais de 40 dias, pode ser resolvido em, no máximo, cinco minutos, durante a cirurgia. Isso poupa a saúde do paciente, que pode estar bem debilitado, e também evita o deslocamento em vários dias, já que muitos precisam viajar para outras cidades para se submeter a sessões de rádio – explica o mastologista Maximiliano Cassilha Kneubil, que participará do procedimento em Bento.
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Essa modalidade de radioterapia, atualmente restrita a grandes centros como São Paulo e Milão (Itália), permite a utilização de doses mais controladas de radiação em comparação com a convencional.
– Na intraoperatória, é possível proteger a parede torácica, poupando os tecidos adjacentes saudáveis. Somente a área do tumor é irradiada. É um grande benefício, um avanço – avalia o médico.
O radio-oncologista Fernando Obst, que também participará da cirurgia neste sábado, lembra que a técnica não é experimental, embora nunca tenha sido realizada na Serra. O especialista afirma ainda que, futuramente, a radioterapia intraoperatória poderá ser aplicada em outras áreas, além das mamas:
– Ela é reconhecida no meio médico, desenvolvida e aplicada em grandes centros como opção segura de tratamento de casos selecionados. É possível aplicá-la em algumas situações em que se necessite maior dose de radioterapia, no leito de tumores abdominais, por exemplo, como dose única, ou como reforço.
A cirurgia em Bento será realizada via Sistema Único de Saúde (SUS) e, segundo Kneubil, ainda não está na lista de procedimentos autorizados pelos planos de saúde. Mas o especialista não descarta que, em pouco tempo, se torne algo mais comum no tratamento contra o câncer de mama:
– Ela é uma técnica mais econômica, se pensarmos que é utilizada uma dose única. Além de requerer menos tempo, também pode diminuir o tempo de espera para a realização das sessões convencionais.
Três meses de testes e planejamento
Para ser realizada neste sábado em Bento, a radioterapia intraoperatória foi planejada durante meses por uma equipe médica. Além de uma sala cirúrgica completa para o serviço de radioterapia, a técnica exige o uso de aplicadores especiais, instalados em um acelerador linear de partículas. O aparato é usado para a produção das dosagens da radiação de forma controlada.
– Desenvolvemos e testamos esses aplicadores durante três meses. Esse aparato nos ajuda a evitar perdas e o espalhamento da dose – explica o médico físico Cristian Mergen, que coordenou a confecção dos aplicadores.
Durante toda essa semana, Mergen realizou inúmeros testes nos aparelhos e conseguiu estimar, inclusive, o tempo de irradiação na paciente. E ficou ainda feliz com a realização da técnica na região:
– Acredito que levaremos em torno de dois minutos e 52 segundos para erradicar a doença. As vantagens da radioterapia intraoperatória são inúmeras.