
Um dos maiores desafios dos empresários na atualidade, e um dos pilares estratégicos nas organizações, é a gestão de talentos. Em um mercado competitivo e dinâmico, atrair e reter profissionais qualificados não é mais uma tarefa simples, mas sim um desafio contínuo que exige inovação, flexibilidade e uma abordagem centrada no colaborador. E este foi o mote do 9° Encontro de Gigantes, promovido pela Gaúcha Serra, na manhã desta quarta-feira (27), na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC).
O encontro teve como painelistas a gerente de Pessoas e Cultura da Sicredi Pioneira, Cristine Wedig; a diretora da Great Place to Work e Great People Consulting RS, Kelly Bitencourt; o diretor de Gestão de Pessoas da Marcopolo, Caio Doi; e a gerente de Pessoas e Cultura da Rands (unidade da Randoncorp), Thamis Zeni. A mediação foi do jornalista Alessandro Valim.
— Esse tema é extremamente desafiador, não só para nós, empresários, mas para toda a sociedade gaúcha, que precisa entender por que ao longo dos anos nós perdemos tantos talentos para o resto do Brasil e para o mundo. E perder não é o problema, desde que a gente atraia também talentos de outros locais, e nós atraímos poucos talentos, pois as pesquisas demonstram isso. Os palestrantes nos enriqueceram com inúmeros insights, e nós podemos sair daqui nesse momento e chegar nas nossas empresas e já sair fazendo aplicações práticas — avaliou o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Celestino Loro.
Desde 2014, o encontro promove diálogos com lideranças que compartilham experiências e desafios em suas áreas de atuação. A última edição foi realizada em 2022.
Confira os principais trechos abordados:
A importância de as organizações realizarem trabalhos de desenvolvimento dos colaboradores
Cristine Wedig: "Hoje tudo é sobre pessoas. O colaborador tem que estar bem para dar a melhor entrega dele. Os motivos pelas quais as pessoas ficam na Sicredi é porque elas se conectam com os valores da empresa. Valores é o primeiro ponto. O outro é equilíbrio emocional, pois o funcionário precisa estar bem. O terceiro é carreira, em poder se devolver e ter oportunidades de crescimento".
Kelly Bitencourt: "O principal motivo das pessoas quererem ir trabalhar é a oportunidade de poder se desenvolver dentro da empresa. As pessoas querem estar em movimento. Todos os dias, nós entregamos parte da nossa essência no trabalho. Nós temos que encontrar motivos que transcendam a questão financeira. A qualidade de vida também tem crescido pós-pandemia, com questões como flexibilidade e trabalho híbrido. Ninguém tem o poder de reter ninguém, mas as pessoas escolhem permanecer ali. Nós falamos em fatores de permanência".
Caio Doi: "A Marcopolo tem programas de desenvolvimento de pessoas e que estão conectados entre si, desde o início, com a escola de formação profissionais, onde jovens começam a se desenvolver ali. Essa é uma grande porta de entrada. Depois, temos o programa que melhora os talentos. Ali revelamos os profissionais. Quando olhamos para a diretoria e gerência e encontramos que ali estão ex- aprendizes, é a certeza de que esse trabalho deu certo. É um desafio cultivar os talentos".
Thamis Zeni: "A sociedade vem mudando e o mundo do trabalho também. Esse tema virou um tema estratégico das corporações. A Randoncorp olha com carinho para esse tema. É um processo contínuo e eterno. É papel da liderança promover as pessoas, mas a liderança também está em processo de aprendizado. Não podemos cair na armadilha de pensar que a liderança tem que ter as respostas para tudo. Os nossos processos estão em constantes mudanças. Com foco no desenvolvimento das pessoas, garantimos que elas fiquem conosco, mas antes precisamos criar esse ambiente".
O papel do líder
Kelly: "A liderança tem papel fundamental, e tem o poder maior que o RH. Os líderes das organizações precisam ter essas conversas com os colaboradores. Isso faz a diferença para que as pessoas queiram permanecer na empresa. Mas se a liderança não dá nem bom dia pata o funcionário, ele não irá querer fazer parte daquela organização".
Caio: "Os comportamentos do líder estão sendo observados. A preparação que o líder precisa ter é de responsabilidade da companhia. Quando falamos em preparar um líder, precisamos ter generosidade. Tem que estar nos valores das organizações de trazer a liderança como ponto norteados, mas baseados em princípios. Paulo Bellini já dizia que o importante são as pessoas".
Cristine: "É importante ter um líder educador, que explica o porque das coisas. Agora, não é uma tarefa fácil. É preciso estar próximo das pessoas. As pessoas precisam de alguém que as escutem. O papel do líder é estar lá com interesse genuíno nas pessoas. O líder precisa viver os valores".
Thamis: "É preciso procurar formas de fazer o diferente. O gestor pede autonomia, mas tem que justificar sua decisão. Cada vez mais termos que ter práticas estabelecidas. Uma das nossas empresas é de tecnologia, por exemplo, conta com 100% de trabalho remoto. Precisamos pensar práticas diferentes para quem trabalha distante. A pandemia nos mostrou que é possível o trabalho remoto".
Como fazer essa transformação nas pequenas empresas
Kelly: "É uma questão de sobrevivência. O desafio segue e fico muito feliz em ver a quantidade de organizações no Estado que já conseguiram isso. Isso é transformador no dia a dia e, para as empresas pequenas, será um salto muito grande".
Thamis: "O time de RH é muito importante, pois ele está olhando para as pessoas e entender que caminhos as empresas podem seguir. Essa proximidade seria uma dica para as pequenas e médias empresas. É preciso ter pessoas curiosas no time".
Cristine: "O líder cuida das pessoas para que elas possam dar o resultado".
Caio: "Esse momento na CIC gera esse pensamento de comp podemos ser melhores. Nós estamos perdendo pessoas para outros estados. Precisamos entender que a nossa cidade é cada vez mais próxima e que pode crescer e atrair mais pessoas".
Saúde mental
Caio: "Durante muito tempo, as pessoas que tinham depressão eram rotuladas. Todas as mudanças no mundo trazem muito estresse. Existem práticas nas instituições hoje em dia que ajudam o colaborador. Os líderes e os colegas precisam estar curiosos sobre quem está do lado. Isso precisa de proximidade entre todos os colaboradores. É preciso uma estrutura de saúde que possa acolher as pessoas".
Kelly: "Nós focamos em ajudar os líderes e os colaboradores a identificarem alertas. O desafio é esse. Como podemos capacitar pessoas para identificarem isso. Precisamos prestar atenção aos sinais. Olhar para a saúde ocupacional dentro das organizações nunca teve tanta importância como hoje".
Cristine: "É estar atento aos detalhes. As pessoas precisam se sentir à vontade para falar também. As organizações têm que ser lugares onde as pessoas não tenham medo. Isso passa por segurança psicológica".
Thamis: "Estamos capacitando pessoas para serem apoio dos líderes para terem esse olhar. Pessoas de referência para que os outros colaboradores possam se abrir. Não podemos perder a humanidade dentro das organizações. Nós precisamos encontrar formas de desconexão e ter um olhar para o nosso interior".