Após 16 anos de dedicação ao Hospital Geral de Caxias do Sul, o diretor-geral Sandro Junqueira, de 51 anos, despediu-se da instituição na última quarta-feira (30), encerrando um ciclo marcado por transformações, desafios e conquistas.
Junqueira, que esteve à frente de projetos significativos na unidade, agora enfrentará um novo desafio ao assumir a direção-executiva do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, a partir de segunda-feira (4). Segundo o Hospital Geral, o nome de quem ficará no comando interino da instituição será divulgado na terça-feira (5).
Sob sua liderança, Junqueira ressalta que o Hospital Geral vivenciou importantes avanços. Com iniciativas voltadas à ampliação da infraestrutura, à adoção de novas tecnologias e ao aprimoramento dos serviços, o hospital tornou-se uma referência em atendimento humanizado e na capacitação de profissionais de saúde.
Entre as conquistas mais notáveis, diz ele, estão a ampliação de leitos, a melhoria no atendimento de urgência e emergência e a implementação de projetos de sustentabilidade.
— Desde quando eu cheguei no HG, o meu objetivo sempre foi mostrar que, apesar de os atendimentos serem 100% SUS, eles poderiam ser de qualidade. E a minha meta era que o hospital fosse reconhecido por isso. O segundo pilar foi em relação à sustentabilidade. Devido a alguns momentos deficitários do hospital, eu ia frequentemente a Brasília buscar recursos, pois era o que mantinha o equilíbrio da instituição. E o terceiro pilar é o da humanização. Hoje, o hospital tem o reconhecimento da população, dos médicos e dos colaboradores — destaca.
Nesses 16 anos dedicados à instituição, Junqueira lembra que foram muitos os desafios a serem enfrentados, afinal, segundo ele, o atendimento hospital é complexo, tendo em vista, principalmente, que hoje o Hospital Geral é referência em saúde para mais de 1,2 milhão de habitantes, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de 49 municípios da Serra.
— Recentemente, nós criamos mais 118 leitos e, mesmo assim, a demanda continua aumentando. As pessoas continuam precisando de vagas. Então, é um cenário bem difícil de conseguir disponibilizar leitos para todos. E outro grande problema que nós enfrentamos aqui foi o equilíbrio econômico-financeiro. Mas nós conseguimos. Hoje o hospital está equilibrado financeiramente, todo reformado, e isso me orgulha bastante — confidencia.
Conforme Junqueira, o Hospital Geral vive hoje seu melhor momento. É reconhecido pela comunidade, pelos pacientes, pelos médicos e pelo poder público. Agora, segundo ele, o momento é qualificar e continuar melhorando os serviços prestados
— Com investimentos, melhora-se a qualidade. E equilibrado econômico e financeiramente, aumenta também a perspectiva de crescimento. Hoje, o HG está estruturado em todos os aspectos — afirma.
Ampliação do HG e unidade de oncologia como vitórias
O crescimento do Hospital Geral se deu através de um sonho, segundo Junqueira. Logo depois de assumir a direção-geral da instituição, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) demonstra interesse em aplicar investimentos no HG, através do Projeto Expande. Era um investimento na casa dos R$ 10 milhões, na qual exigiram um plano diretor para entenderem como seria o crescimento do hospital ao longo dos anos.
— Nós fizemos o plano diretor, que é literalmente o que nós executamos hoje. E começamos a projetar o prédio novo em 2009. Aí nós ganhamos o recurso, construímos e inauguramos o Unacon, e depois ampliamos a estrutura do prédio da instituição. A conclusão da campanha Todos Pelo Geral Para Todos foi o grande fechamento desse plano diretor. Em um ano, arrecadamos 42 milhões e eu só tenho a agradecer a toda a comunidade e ao governo do Estado por acreditarem na nossa campanha que foi, sem sombra de dúvidas, um grande marco na minha passagem por aqui, e que eu tive o prazer de liderar — recorda.
Junqueira lembra ainda que, em 2010, o hospital recebeu um aparelho de radioterapia para o tratamento de câncer. Os recursos, entretanto, chegaram depois. Em dois anos, foi construído o prédio onde atualmente é a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), inaugurada em 9 de maio de 2014.
— Hoje, o hospital conta com dois aparelhos de radioterapia, com atendimento fantástico. É o primeiro serviço do SUS que não tem fila de espera. O paciente entra no tratamento oncológico, faz a consulta, inicia a quimioterapia e faz radioterapia. O prazo médio entre a consulta do médico e o início da radioterapia é de 10 dias. Isso é um indicador muito bom a nível de Brasil. Então, para quem não tinha nada lá em 2010, hoje temos aparelhos que dão vazão à toda demanda da oncologia — destaca.
Trajetória dedicada à saúde
Foi por acaso que Sandro Junqueira entrou para o ramo de administração hospitalar. Natural de Bom Retiro do Sul, começou sua trajetória como técnico contábil em 1994, no Hospital de Caridade Sant'Ana, instituição administrada pela Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida.
Foram as Irmãs que o incentivaram a estudar Administração Hospitalar, para auxiliá-las na gestão da instituição. Atendendo à sugestão delas, Junqueira se formou pela Unisinos, em São Leopoldo, em 1999.
Após a formatura, começou a administrar no Hospital de Caridade Sant'Ana. Em 2001, transferiu-se para Vacaria, onde foi diretor do Hospital Nossa Senhora da Oliveira, por quatro anos. Em 2005, passou a administrar o Hospital de Caridade de Ijuí, no noroeste do Estado, onde permaneceu até 2008.
Após o falecimento do pai, Antônio, aos 62 anos, Junqueira decidiu ficar mais perto da mãe Maria Claudete e de sua família. Sabendo da importância da cidade de Caxias do Sul, deu início, em 12 de maio de 2008, à sua história no comando do Hospital Geral.
A partir de segunda-feira (4), Junqueira começa a escrever um novo capítulo em sua carreira, agora no Hospital Mãe de Deus, na capital gaúcha.
— Eu sempre disse para a minha família que eu só sairia do HG por um grande desafio. E aí surgiu essa oportunidade. Nessa hora, é uma mistura de emoções diante desse reconhecimento. Hoje, o Mãe de Deus é o segundo melhor hospital do Rio Grande do Sul e, a nível de Brasil, ele está entre os oito melhores. E, junto com a alegria do momento, também há um aperto no coração por deixar uma entidade em que eu estou há 16 anos — sintetiza.
Casado com a professora de Enfermagem da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Nanci Junqueira, com quem tem os filhos Lucas e Eduardo e a enteada Milena, Junqueira destaca que o apoio da família foi fundamental em suas escolhas.
— Minha esposa é a grande apoiadora de tudo isso. É ela quem, em todos os momentos, me apoia e me aconselha. Isso mostra a importância de ter uma pessoa ao lado que possa dar todo o apoio nas horas boas e nas horas ruins — reconhece.
Sandro Junqueira também foi membro da Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do RS, coordenador da Diretoria de Saúde da Câmara de Indústria, Comércio (CIC) e Serviços de Caxias do Sul, integrou a Diretoria do Sindicato dos Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul e foi presidente da Rede Serrana de Hospitais (Hospiserra) de 2011 a 2016.